O Jardim de Alá / The Garden of Allah


Nota: ★★☆☆

Anotação em 2007, com complemento em 2008: Um filme sobre religião! Sobre crenças religiosas, valores morais. Nos anos 30, e com Marlene Dietrich!

Charles Boyer faz um europeu de origem russa que vira monge em um convento isolado no meio do deserto do Norte da África, presumivelmente no Marrocos. O filme começa quando o monge, tendo perdido a fé, foge do convento, e conhece uma mulher, também cristã fervorosa (La Dietrich), que está na África justamente para tentar encontrar a paz de espírito.

Naturalmente, eles se apaixonam e se casam; bem mais tarde, já perto do final da narrativa, ela descobre o passado dele, e os dois têm que optar entre a felicidade e a obrigação de servir a Deus.

Alguém pode se imaginar na posição de  Boyer, tendo que optar entre La Dietrich e o convento?

Marlene está deslumbrante; além do magnetismo de sempre (as lentes das câmaras parecem se derreter diante dela), neste filme ela está estonteantemente bela, maravilhosa. Foi o décimo filme dela em Hollywood, para onde se mudou em 1930, fugindo do nazismo, que combateria de uniforme e tudo, em missões para entreter os soldados aliados.

A fotografia em cores, uma certa raridade na época, realça tudo o que tem que realçar no vermelho do pôr-do-sol – e bota pôr-do-sol nisso. Deve estar aí, certamente, o dedo do produtor David O. Selznick (1902-1965), um dos produtores mais poderosos da história de Hollywood, que três anos mais tarde encheria também de vermelho de pôr-do-sol e da aurora sua mais ambiciosa superprodução, … E o Vento Levou.

Deve ser inimaginável para os jovens, que têm a tendência de achar que o mundo começou no ano em que nasceram, mas este filme aqui, de 1936, foi a terceira versão cinematográfica da novela de Robert Hichens, escrita em 1904. Eta nóis!

A diva Marlene sofreu nas filmagens e detestou o filme, segundo conta na sua saborosa autobiografia, lançada no Brasil como Marlene Dietrich: Autobiografia. (O título original é muitíssimo mais rico, Ich Bin, Gott sei Dank, Berlinerin; não é preciso saber nada de alemão para ver que isso é Eu Sou, Graças a Deus, Berlinense.) Começava a trabalhar às seis horas da manhã com o pessoal da maquiagem e os cabeleireiros: “Nas filmagens de Jardim de Alá, em 1936, no deserto do Arizona, o problema do meu penteado era o maior drama. Copiar aquele do dia anterior era impossível. O vento quente fazia um redemoinho dos meus cabelos que tinham sido feitos com o maior cuidado. Odiava aquelas filmagens, meus caracóis, o roteiro empolado, tudo me irritava. Mas, quando a gente se compromete a fazer um filme, tem que tomar até a última gota do cálice, mesmo se achar ruim.”

 Ela ainda reclama do diretor de fotografia e do câmara; como estava na moda a contraluz, a back light, o câmara exigia que ela não se mexesse durante as tomadas, pois, se mexesse, poderia revelar a luz que vinha de trás: “Enquanto falávamos, fitávamos fixamente para a frente, em vez de nos olharmos nos olhos. Inclusive nas cenas de amor”.

 Sofreu, a diva. Mas a câmara não guarda o sofrimento, o trabalho, a canseira. Vendo o filme agora, 70 anos depois que ele foi feito, o que aparece é uma mulher absolutamente deslumbrante. Estrela é isso aí.

O Jardim de Alá/The Garden of Allah

De Richard Boleslawski, EUA, 1936.

Com Marlene Dietrich, Charles Boyer, Basil Rathbone, John Carradine

Roteiro W. P. Lipscomb e Lyn Riggs

Baseado no livro de Robert Hichens

Música Max Steiner

Produção Selzick International Pictures

Cor, 79 min.

7 Comentários para “O Jardim de Alá / The Garden of Allah”

  1. Quando criança assisti ao filme em série chamado em português. O AZ PRETO. O mocinho usava um aviãozinho que soltava no ar e este acusava o bandido indo direto a ele…
    anos 30… Gostaria de saber se existe alguma referência a esse filme e qual o ator que representou o mocinho.
    Obrigada
    Elma

  2. Cara Elma,
    Infelizmente, não vou poder ajudar você. Não conheço essa série; não me lembro de ter ouvido falar nela. Quem sabe algum leitor já viu, e nos dá alguma informação? Tomara…
    Um abraço, e obrigado por escrever.

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