Caminho Áspero / Tobacco Road


Nota: ½☆☆☆

Anotação em 2007, com complemento em 2008: Bola preta, a pior cotação possível. Só conseguimos ver com a ajuda da tecla do fast forward. Mestre John Ford faz um dos seus piores filmes, um dos piores da história. É um daqueles filmes que dão vergonha no espectador.

E é impressionante saber (os letreiros avisam) que esta é uma transposição para o cinema de uma peça de teatro que bateu recordes de público  – ficou oito anos seguidos na Broadway. A história, absolutamente grotesca, trata de uma família de caipiras num lugar perdido no Sul Profundo dos Estados Unidos, que no passado foi rica e na época da ação está na merda total, dominada por uma preguiça, uma indolência absoluta tão funda quanto o Sul.

A pobre coitada da Gene Tierney, aquela mulher de beleza sublime, então jovenzinha, aos 21 anos, se submete à humilhação de fazer uma garota quase débil mental, que não fala direito e se movimenta como uma macaca.

É tudo preconceituoso e racista, como raras vezes se vê no cinema. Não sou um escoteiro do politicamente correto, de jeito nenhum. Uma piadinha safada aqui e ali, nenhum problema. Mas este filme exagera.

Ou eu estava louco e não entendi nada? Vamos a outras opiniões. Leonard Maltin dá 2.5 estrelas em quatro e trata o filme como se fosse uma coisa normal: “Levemente divertida mas genuinamente estranha comédia séria sobre “pitoresca” comunidade no interior da Geórgia; vale a pena principalmente para ver Charlie Grapewin repetindo seu papel teatral como o alegre nunca-se-dá-bem Jeeter Lester. Adaptada (e sanitarizada por Nunnally Johnson) da peça que ficou longo tempo na Broadway, de Jack Kirlnad, baseada na novela de Erskine Caldwell.”

Pauline Kael critica, mas não com a veemência que eu esperava. Diz que a novela foi transformada numa tira cômica, que o humor rústico é sem sentido e que “a coisa toda parece desarrumada”. E informa que o diretor Ford e o roteirista Nunnally Johnson se preveniram contra a censura. O livro sobre os filmes da Fox, The Filmes of 20th Centura Fox, reforça o que dizem Pauline Kael e Maltin: segundo ele, “a história apimentada foi de alguma maneira limpada na versão para o cinema, acentuando a comédia em vez da ignorância e crueza dos personagens rurais”.

Credo em cruz: quer dizer que na novela e no teatro era pior ainda? Inacreditável.

Caminho Áspero/Tobacco Road

De John Ford, EUA, 1941

Com Charlie Grapewin, Marjorie Rambeau, Gene Tierney, Dana Andrews

Roteiro Nunnally Johnson

Baseado na peça de Jack Kirlnad, por sua vez baseada na novela de Erskine Caldwell

Produção Daryl F. Zanuck, 20th Century Fox

P&B, 84 min.

Bola preta

4 Comentários para “Caminho Áspero / Tobacco Road”

  1. Discordo totalmente dessas críticas ao filme Tobacco Road (1941), dirigido por John Ford. Na minha opinião, o filme é muito bom! Não sei dizer se é fiel ou não à peça na qual se inspirou porque não sei nada sobre a peça. No entanto, o filme é muito bem feito, sutil, cômico (beirando a um “humor negro” por ser totalmente “politicamente incorreto”). Mostra uma família paupérrima, “caipira”, sem escrúpulos (mas que, no fundo, tem consciência do certo e o do errado), que luta pela sobrevivência sempre se utilizando dos meios para justificar os fins. Os “meios”, no entanto, pode ser qualquer coisa, menos o trabalho.

  2. Olá, João Carlos!
    Muito obrigado pelo comentário.
    As coisas são assim mesmo – cada um tem uma opinião. Há quem odeie goiabada, feijoada, este ou aquele filme – e há quem adore.
    Às vezes acontece de um filme não bater com a gente por causa da hora em que a gente viu. Simplesmente não houve sintonia.
    Sou, como qualquer pessoa que gosta de cinema, fã de John Ford. Tenho admiração imensa pela Gene Tierney, gosto do Dana Andrews. Mas não rolou coisa boa entre o filme e eu. Acontece.
    Opinião é assim mesmo. Respeito a sua.
    Um abraço.
    Sérgio

  3. Por duas ou três vezes tentei ver esse filme. Não fui além dos 20-30 minutos. Sim, eu sei, interromper John Ford é uma heresia, mas concordo com Sérgio: é uma imensa e insuportável baboseira, indigna do grande mestre. É daqueles filmes que comprometem a carreira do diretor e os atores o descartam de seu currículo.
    Abraço.

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