3.5 out of 5.0 stars
Resenha para a revista Bárbara, em 1996: “Vocês não vieram com manual de instruções”, diz a mãe para a filha adolescente em Minha Mãe é Uma Sereia/Mermaids, 1990. É verdade que o personagem da mãe, interpretada por Cher, aquela ex-cantora e atriz conhecida por aparecer em entregas de Oscar com as roupas mais exóticas que se poderia imaginar, não é o protótipo do que é tido como uma “boa mãe”. Ao contrário.
Numa bela sacada, as autoras da história e do roteiro, ambas mulheres, criaram em Minha Mãe é uma Sereia um conflito de gerações às avessas: nos Estados Unidos de 1963, depois dos Beatles e um pouquinho antes dos hippies, a mãe é solteira, independente, se veste e age de maneira anticonvencional (assim como a atriz que lhe dá vida), tem um amante em cada cidade pela qual passa, enquanto a filha adolescente é recatada, religiosa, pudica – embora, sob essa pele de “virtude” coberta por roupas caretíssimas, haja uma imensa carga de sensualidade querendo aflorar à superfície.
A filha sofre com as atitudes da mãe – e vice-versa, claro. As interpretações de Cher e de Winona Ryder (um maravilhoso talento precoce: embora estivesse só com 19 anos, estava já em seu oitavo filme) dão uma graça especial a essa comédia gostosa que fala brincando – mas abordando verdades sérias – da relação tão especial e delicada que é a de mãe e filha.
Anotação em 2006: Revendo agora, gostei muito mais do que da primeira vez. Me deu um grande prazer. É uma pequena obra-prima.
É inteligente, é divertido, é esperto. E é pra-frente, progressista, um daqueles filmes hollywoodianos suavemente subversivos, em termos comportamentais.
Os diálogos (e em especial os monólogos da personagem principal, interpretada por uma jovem, radiante, linda e extraordinária Winona Ryder) são inteligentíssimos. Como é boa atriz essa menina, que coisa impressionante – e como é triste ver que a carreira dela acabou não deslanchando tanto quanto deveria, em função basicamente de problemas comportamentais dela, a coisa dos furtos em lojas de roupa, e tal. Ela estava com 19 anos quando fez o filme, no papel de uma garota de 15 – e que talento.
Minha Mãe é uma Sereia//Mermaids
De Richard Benjamin, EUA, 1990
Com Winona Ryder, Cher, Christina Ricci, Bob Hoskins
Roteiro June Roberts
Baseado no livro de Patty Dan
Cor, 110 min
Eu gosto da Cher. Assistí a várias entrevistas dela na TV americana. Uma das frases que sempre uso foi dita na entrevista que ela deu quando fez 50 anos e que acho o máximo.
A pergunta (idiota) foi mais ou menos assim:
Você está gostando de ter 50 anos?
Resposta:
50th is good, 40th is better, much better.