3.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2008: Interessante: no mesmo ano, 2004, os alemães fizeram um filme reconstituindo, com a maior fidelidade possível, os últimos dias de Hitler em seu bunker em Berlim, em 1945 – o ótimo A Queda! As Últimas Horas de Hitler/Der Untergang – e outro sobre a tentativa, por oficiais do exército alemão, de assassinar o ditador, ocorrida em 1944.
Neste filme aqui, o diretor Jo Baier, nascido em Munique, em 1949, seis anos após o fim da Segunda Guerra, mostra a trajetória de Carl von Stauffenberg, um dos oficiais que participaram da conspiração para assassinar o ditador, na esperança de pôr fim mais rapidamente à guerra que já sabiam perdida e que a cada dia deixava mais centenas de mortos.
O filme abre com uma seqüência bem rápida em que um oficial – Stauffenberg, saberemos em seguida – está sendo colocado diante de um pelotão de fuzilamento. Antes de morrer, ele grita: “Salve a sagrada Alemanha”. Corte rápido, e estamos nas escadarias de um riquíssimo teatro.
O diretor facilita a vida do espectador colocando locais e datas dos acontecimentos em legendas ao longo filme. A primeira explica que estamos, nesta cena do teatro, em Berlim, no verão de 1933, quando um jovem oficial do exército, Stauffenberg e sua bela namorada Nina chegam atrasados para assistir a um concerto em que se toca Wagner; um funcionário do teatro os impede de entrar no camarote, pois o concerto já havia começado, e o Führer está lá. O casal consegue convencê-lo a permitir sua entrada; junto da cortina do camarote, demonstram prazer com a música de Wagner e com a presença de Hitler: “Veja os olhos dele”, diz o oficial, extasiado; “Ele ama essa música”, diz a moça, embevecida.
O oficial, então, pede a namorada em casamento, ali mesmo, a poucos metros do Führer que ele admira e ao som de Wagner, o músico oficial do Terceiro Reich.
Aqui, com uns três minutos de filme, começa a apresentação – e os letreiros surgem sobre cenas das batalhas, em preto-e-branco, certamente tiradas de cinejornais da época; ao final da apresentação, o oficial Stauffenberg está na Polônia, em 1939, escrevendo uma carta para sua mulher Nina. Poucos minutos de filme depois, ele estará na Bielo-Rússia, em 1942, quando pela primeira vez compreende o absurdo da guerra que está lutando; em seguida, e tudo bem rapidamente, o veremos na Prússia Ocidental, em fevereiro de 1943, depois na Tunísia, em abril do mesmo ano, sendo gravemente ferido, e em seguida num hospital em Munique. Quando isso acontece, estamos com apenas uns 15 minutos de filme.
A trajetória de Carl von Stauffenberg de admirador de Hitler a um firme conspirador para assassiná-lo é mostrada da maneira mais rápida possível. É como se o diretor estivesse dizendo que não precisava gastar tempo para explicar a mudança de posição, porque ela era óbvia demais, porque qualquer pessoa em sã consciência entenderia a realidade – que o ditador era um louco furioso, que a guerra era insana, que era preciso fazer o que fosse preciso para acabar com aquilo o mais rápido possível.
Se nos primeiros 15 minutos de filme o diretor Jo Baier percorre um período de 10 anos – e mostra a passagem de Stauffenberg da admiração por Hitler até sua participação no complô para matá-lo -, a partir daí ele mudará o ritmo, para se deter no dia em que Stauffenberg levará uma bomba para explodir numa reunião do ditador com seu estado-maior.
O ator que interpreta Stauffenberg é Sebastian Koch, que fez o escritor seguido pela Stasi, a polícia política da Alemanha comunista no extraordinário A Vida dos Outros/Das Leben der Anderen, e fez também um oficial nazista no ótimo A Espiã/Zwartboek. Ou seja: é bom um ator que tem sido requisitado para bons filmes.
Porque este aqui é um bom filme – e não só porque é sempre ótimo ver uma produção alemã que se debruça sobre essa chaga da história do país. É um filme de qualidade: duro, seco, pesado como a realidade que descreve. A produção é muito bem cuidada, em todos os aspectos – não dá para perceber que foi feito não para o cinema, e sim para a TV alemã, coisa que só fiquei sabendo depois, ao ler sobre ele.
Assim, fica difícil entender por que exatamente a mesma história foi recontada agora em 2008 numa co-produção EUA-Alemanha, Operação Valquíria/Valkyrie, com Tom Cruise no papel que Sebastian Koch interpretou, e bem, apenas quatro anos antes. Para o cinemão americano, se não foi Hollywood que fez, não houve filme. E esse novo filme, que reconta a história, parece que é uma superprodução caríssima, cercada por grande marketing, que incluiu até a visita de Tom Cruise ao Brasil para a estréia, em fevereiro de 2009.
Valquíria é o nome de código que os oficiais alemães deram para o complô contra Hitler. Vem, é claro, das valquírias, as divindades da mitologia nórdica, usadas por Wagner na sua ópera.
Operação Valkiria/Stauffenberg
De Jo Baier, Alemanha, 2004.
Com Sebastian Koch, Ulrich Tukur, Hardy Kruger Jr.
Roteiro Jo Baier
Cor, 90 min
***
Vi este filme e gostei.
Os acontecimentos da Operação Valquíria já conhecia, mas quando fui à loja para alugar o filme com o Tom Cruise, encontrei este e fui à Internet ver o que havia e pronto.
O Tom Cruise foi dar uma volta!
Eu não sei se isso aconteceu com outras pessoas que tbm olharam o filme mas, mesmo sabendo ser uma história verídica e com final infeliz (e põe infeliz nisso!), eu torci o tempo todo pelo protagonista!