1.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2007, com complemento em 2008: Natalie Wood está fantasticamente bela neste filme de 1958 do qual eu nunca tinha ouvido falar. Ele estava terminando a transição de atriz infantil para o esplendor dos 20 anos aninhos, pouco depois de Juventude Transviada/Rebel Without a Cause, de 1955, e pouco antes de Amor, Sublime Amor/West Side Story, de 1961.
Achei o filme ruim demais; a impressão que dá é que o diretor Irving Rapper e os produtores não acharam direito o tom que deveriam usaar, e então o filme oscila entre a farsa, o burlesco, o musical e o dramalhão lacrimoso.
Fui ver o Leonard Maltin: ele dá duas estrelas e meia, e, em três linhas, comete um erro de informação, ao dizer que o personagem central, o de Natalie Wood e do título original, “acaba como uma esposa suburbana”, suburbana no sentido americano, e não no brasileiro, é claro – o que não acontece de forma alguma.
O Allmovie dá importância ao filme; dedica a ele umas 50 linhas, e explica que o maior problema foi a transposição para o cinema de um livro imenso, de mais de 500 páginas, super best-seller, que vai fundo na questão do modo de vida dos judeus nova-iorquinos:
“A novela Marjorie Morningstar, de Herman Wouk, foi uma das mais vendidas na metade do século XX, e ainda vende o suficiente no XXI para justificar que continue em catálogo. Como filme, no entanto, é uma proposição dúbia, devido ao fato de que tanto sua história quanto seus personagens são profundamente envolvidos com a religião judaica – e em conflitos com ela. O problema básico na adaptação do livro para as telas em 1957 foi sua judeíce. Hollywood, como a Meca do cinema fundada em grande parte por homens de negócios que eram judeus, era notoriamente reticente quanto a usar tramas focados perto demais de temas judaicos, ou mesmo a permitir que os filmes se baseassem em personagens muito próximos à comunidade judaica.”
Até o Último Alento/Marjorie Morningstar
De Irving Rapper, EUA, 1958.
Com Natalie Wood, Gene Kelly, Carolyn Jones, Claire Trevor
Roteiro Everett Freeman
Baseado no romance de Herman Wouk
Música Max Steiner
Cor, 123 min.
*
Rá, estou chocada por só ter descoberto hoje um texto sobre este filme aqui no site.
Realmente, falta um fio condutor da história, misturaram assuntos demais, sem dar muita sequência a nenhum.
As pessoas apontam a diferença de idade entre Gene Kelly, que estava com 46, e fazia papel de 33, e Natalie Wood, que tinha 20. Não sei o que o fez aceitar o papel, só sei que ele já tinha encerrado seu contrato com a MGM e estava recém divorciado; vai ver precisava de grana (e botava fé no seu taco de que pudesse aparentar menos, e tem uns momentos em que realmente aparenta). Talvez o papel de um cara que trabalha com música e dança também o tenha atraído.
Mas Gene está bem, às vezes me parece apenas um pouco incomodado com as cenas de beijo.
Não acho o filme de todo ruim, apesar de ter uma sequência numa tal “fiesta”, que causa vergonha alheia. Para mim a melhor coisa do filme é obviamente Gene Kelly, que ainda por cima canta e toca piano em algumas cenas (mas o que é que ele não sabia fazer, mein Gott? Por falar nisso, eu li o comentário de uma pessoa que participou como extra, e ela disse que ele tocava piano todos os dias no bar após as filmagens), o resto é resto e um pouco de dramalhão pendendo para o nonsense.
Até que o lance de meninas novinhas se apaixonarem por um homem bem mais velho, pegador e que só quer sexo, é interessante, pois ainda é atual. E tem também um pouco de romance envolvendo virgindade, mas sem seguir uma lógica, e de uma forma meio confusa, como quase tudo nessa história.
A dança de Gene com uma loira que não faço ideia de quem seja é uma das coisas boas do filme também. A sequência mostra um pouco do seu lado coreógrafo, que muita gente desconhece. Outro ponto alto é o fato d’ele aparecer rapidamente correndo atrás da personagem de Natalie Wood na praia, de short — pena que são frações de segundos. Quem tem olhos de ver, que veja! (e procure a foto de bastidor com ele de shortinho, pernas de aço e camisa pólo justinha).
No mais, o nome dele é o que aparece primeiro nos créditos iniciais (não poderia ser diferente).
Esqueci de falar que Gene Kelly cantando “A Very Precious Love” também é ótimo. A música foi indicada ao Oscar de melhor canção. Algumas falas da personagem de N. Wood atribuindo certas qualidades ao personagem parecem se confundir com as do próprio Gene.
Quando ela chega pela primeira vez ao hotel, e a amiga aponta o Noel Airman (Kelly), Marjorie diz: “He’s terribly handsome!”.
Depois, quando ela machuca a mão e o assistente do Noel vai ajudá-la, eles se sentam e começam a ouvi-lo tocar e cantar. Marjorie fala: “There’s no such person, for heaven’s sake. What else does he do?”
O assistente então enumera outras coisas que ele faz, como falar várias línguas (e Gene falava) e ser o maior dançarino vivo da época. No dia em que viu esse filme Fred Astaire foi dormir chateado. hehehe
O filme ganhou uma estrelinha, mas como estou aqui, vou logo dar o serviço completo, afinal, não estou sozinha, já que Mr. Maltin deu 2.5 estrelas, apesar do erro que você cita.
Tenho uma biografia de Gene, e no pouco que fala sobre “Marjorie Morningstar”, o autor diz que foi uma boa oportunidade pra ele mostrar que era um ator de qualidade, e que ele fez um excelente trabalho, apesar de às vezes exagerar na seriedade.
O papel foi primeiro oferecido a Danny Kaye, que o rejeitou porque o produtor Jack Warner fez questão de escalar apenas atores não judeus para os personagens principais.
Li na internet trechos de um livro sobre N. Wood e Robert Wagner, e lá fala que ela lutou muito pelo papel desde que soube que a Warner tinha comprado os direitos do livro, que vendeu como água. Jack Warner discordou, ele queria emprestar Elizabeth Taylor da MGM, e como não conseguiu, suas outras opções eram Audrey Hepburn e Susan Strasberg. Ela insistiu, marcou um encontro com Herman Wouk, que era quem daria a palavra final, e ele também a recusou. Quando a WB não conseguiu entrar em acordo com nenhuma das atrizes que os produtores queriam, abriu testes, na tentativa de encontrar uma atriz desconhecida, como foi em “E O Vento Levou”. Ela pediu para também ser testada, e só então foi aceita. Para a Warner foi uma boa economia, pois ela ganhou 750 dólares por semana, enquanto uma grande estrela ganharia 25.000 dólares/semana.
Li em algum lugar uma frase em que ela diz que esse filme foi importante pra ela, uma virada na carreira, algo assim.