2.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2006, com complemento em 2008: O título sugere um noir pesado, mas, não, o que vem não é nada disso. Nascida Para Ser Má é um drama sobre comportamento, costumes, família.
A trama parte de algo à frente do seu tempo, 1934 – uma mãe solteira jovem demais, ainda adolescente. Mas, talvez porque tenha sido feito numa época em que não se poderia ser muito cruel ou cínico no cinema, o filme vai atenuando a maldade da personagem interpretada por uma Loretta Young no esplendor de seus 21 aninhos.
Foi um papel diferente da maioria dos que Loretta faria – em geral, ela interpretava mulheres doces, amáveis. Aqui, como essa Letty Strong, ela é uma mulher que sobrevive de pequenos golpes, bem perto da prostituição. Seu filho Mickey (Jackie Kelk) é um garoto de dez anos que segue os passos da mãe – um aprendiz de golpista, um pequeno bandidinho. Um belo dia, ele está brincando no meio da rua quando é atropelado (embora sem grandes ferimentos) por uma caminhonete de entrega de leite. Acontece que a caminhonete naquele momento estava sendo dirigido pelo próprio dono da empresa, Malcolm Trevor (Cary Grant), um sujeito bom, honesto e muito rico. Malcolm quer ajudar a mãe solteira e o punkzinho atropelado; Letty quer dinheiro de Malcolm.
Aqui, é preciso falar de Loretta Young. Uma figura sensacional. Nascida em 1913, ela começou a carreira aos três anos de idade, em 1916, 21 anos antes de o cinema aprender a falar. A família a colocou então numa escola religiosa, de onde saiu aos 14 anos de idade, em 1927. Entre 1927 e este aqui, ela participou de mais de 40 filmes. Em meados dos anos 30, assinou contrato com a 20th Century Fox e se tornou, como diz a enciclopédia Baseline, “uma das mais adoráveis e proeminentes protagonistas de Hollywood”.
Mas ainda era pouco: foi nos anos 40 que ela chegou ao auge de sua carreira – é extraordinária, por exemplo sua interpretação em Acusada/The Accused, como a psicóloga e professora que, sem querer, desperta o libido de um aluno e se vê obrigada a reagir ao ataque dele.
Em meados dos anos 50, deixou o cinema para se dedicar ao The Loretta Young Show, um programa de grande sucesso na TV americana que durou quase uma década, entre 1954 e 1963. Morreria em Los Angeles, aos 87 anos, em 2000.
Nascida Para Ser Má/Born to be Bad
De Lowell Sherman, EUA, 1934.
Com Loretta Young, Cary Grant, Marion Burns, Jackie Kelk
Roteiro Ralph Graves e Harry Jacobs
Argumento Ralph Graves
Música Alfred Newman
Produção 20th Century, distribuição United Artists
P&B, 61 min.
BORN TO BE BAD ( Nascida para ser Má/1934 ) é o melhor filme do diretor Lowell Sherman, autor de comédias B. Nesse drama, ele realiza um tocante estudo sobre a ” mãe solteira ” e a exploração humana. O filme deve todo o seu charme à lindíssima Loretta Young, num de seus melhores papéis no cinema ( porém, pouco lembrado pelos historiadores de cinema ). Cary Grant, muito jovem e contido, ainda está distante do trejeitos de galã sofisticado e levemente cínico que marcou sua atuação em dramas e comédias posteriores.Um verdadeiro clássico, uma jóia a ser redescoberta pelos cinéfilos. ( Adriano Miranda- Franca-SP )