Força Maior / Force Majeure

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3.5 out of 5.0 stars

Em 120 minutos de belo cinema, o jovem autor e diretor Ruben Östlund vai fundo na dissecação dos efeitos que um gesto, uma rápida reação, pode produzir na vida de um grupo de pessoas.

Ao esquadrinhar meticulosamente as feridas que surgem a partir de um acontecimento que dura poucos segundos – uma reação automática, impensada –, o realizador mostra como podem ser precárias, frágeis, diáfanas, as ligações afetivas, e como algo a rigor, a rigor, nada impactante, pode ameaçar esses laços. E evidencia como cada um de nós não tem qualquer controle sobre nossas ações e reações. E mais ainda: como somos capazes de ter reações idênticas àquelas que criticamos, contra as quais nos insurgimos.

Hum… Dito assim, pode parecer um danado de um papo cabeça chato de doer. Não é. Força Maior é, sim, um drama sério, denso, um belo estudo psicológico – como seria mesmo de se esperar de um filme nórdico, do país de Ingmar Bergman, o mais filosófico de todos os realizadores do mundo. Mas está longe de ser monótono, chato.

Envolve o espectador até o pescoço em sua atmosfera pesada, carregada. Não há como não ser profundamente tocado pela força do filme, pelo talento com que ele foi feito.

Pai, mãe, filha, filho – quatro seres saudáveis, bem nutridos, bem educados

Um casal de suecos está passando cinco dias de férias nos Alpes Franceses, com seus dois filhos. Eles são jovens, estão no auge da vida: Tomas (Johannes Bah Kuhnke) tem aí pouquinho mais de 40 anos; Ebba (Lisa Loven Kongsli) ainda não fez 40, está chegando perto. A primogênita deles, Vera (Clara Wettergren), deve estar aí com uns 11 anos, e o caçula, Harry (Vincent Wettergren), provavelmente tem uns 7.

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Um diálogo informará o espectador que Tomas anda trabalhando demais, e tendo pouco tempo para os filhos, para a família. Não saberemos qual é o trabalho de Tomas – não interessa. No mínimo, não é fundamental. Pode ser médico, advogado, pequeno empresário – é classe média para alta, está bem de vida em termos materiais, mas, para ter esse conforto, trabalha demais, e então Ebba meio que exigiu alguns dias de férias.

E lá estão os quatro, hospedados em gigantesco hotel nos Alpes Franceses, para cinco dias de férias, convivência familiar.

Pelo que se percebe, tanto Tomas quanto Ebba gostam de esquiar na neve. Provavelmente esquiam na neve desde que eram crianças, assim como agora fazem seus filhos. São suecos, esquiam na neve. Fossem classe média alta no Nordeste brasileiro, saberiam mergulhar e curtir esportes aquáticos desde a infância.

A primeira imagem que vemos deles é como se a câmara fosse os olhos do fotógrafo profissional que os pára e insiste em tirar fotos deles. O fotógrafo fala sem parar, como uma matraca, como um camelô dos velhos tempos – dá ordens para que eles fiquem desse jeito, daquele outro, daquele outro, enquanto vai clicando, clicando, clicando. E o espectador de Força Maior vai vendo pela primeira vez, em diversas poses, os quatro protagonistas da história que virá a seguir – eles em seus trajes de enfrentar o rigor do inverno e esquiar, pisando sobre a superfície todinha branca, o céu azul brilhante lá atrás.

Um letreiro informará em seguida: “Primeiro dia de esqui”.

Letreiros virão ao longo da história, anunciando o segundo, o terceiro, o quarto e o último dia de esqui.

São belos, saudáveis, os quatro seres humanos mostrados ali. Sempre foram bem alimentados, comeram muita proteína desde que nasceram; jamais passaram por qualquer privação das coisas fundamentais; tiveram boa educação, boa assistência médica sempre que necessário.

Tudo é rapidíssimo, o acontecimento dura uns pouquíssimos instantes

Um incréu, infiel, ou simplesmente cínico, poderia dizer que aqueles quatro nórdicos ali, tão belos, tão saudáveis, ah, esses, sim, foram feitos à imagem e semelhança de Deus – bem ao contrário dos milhões e milhões de seres humanos desnutridos, desdentados, doentes, porcos, sujos, que povoam os nossos terceiros, quartos, quintos mundos – e até mesmo, horror dos horrores, as ruas das grandes metrópoles dos países ricos.

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Há quem acredite naquela coisa do “se não tem problema, nóis inventa”. Por essa visão, numa sociedade nordicamente rica, organizada, em que se pratica de fato justiça social e os ricos pagam muito e então praticamente não há miseráveis, como não há problema de fome, de necessidades básicas, como não há lugar para Cidade de Deus, Pixote, Tropa de Elite, Carandiru, aí as pessoas são filosoficamente infelizes, e daí está explicado de por que existem Persona, Morangos Silvestres, O Sétimo Selo.

Besteira. Força Maior fala de comportamento humano – e os homens são basicamente os mesmos, e se comportam basicamente da mesma forma, em Hollywood ou Nova Iguaçu, em Estocolmo ou Nairóbi, nos Alpes Franceses ou na Chapada Diamantina. Ou, para simplificar, no Jardim Paulista ou no Jardim Ângela, essa Suécia e esse Zimbabue que convivem na mesma cidade.

Quando estamos aí com uns 10 minutos de filme, Tomas, Ebba, Vera e Harry estão almoçando em um dos vários restaurantes do hotel imenso. Escolheram um restaurante situado num deck de madeira voltado para o alto da montanha mais próxima, e, ali, optaram por uma das mesas da extremidade do deck, uma das de vista mais esplendorosa.

Um ruído forte.

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Ebba é a primeira a ver que há uma avalanche na montanha, bem acima do ponto em que eles estão. Tomas comenta que “eles sabem o que fazem”, “é tudo controlado”.

A avalanche vem chegando mais perto, mais perto, mais perto.

Tomas chega a pegar Harry, mas deixa o garoto de lado e corre para a parte interna do restaurante. Outras pessoas fazem o mesmo.

Tudo fica branco. Durante alguns segundos, tudo fica absolutamente branco.

A névoa de neve começa a se dissipar. Voltamos a ver as mesas, os vultos das pessoas, cada vez mais nitidamente.

É tudo absolutamente rápido, mas Mary e eu vimos o filme no DVD, e o DVD acrescentou ao espectador a capacidade – que o frequentador das salas não possui – de teclar rewind, e então teclei rewind algumas vezes para rever todos os detalhes da cena.

Tomas levantou-se rapidamente, chegou a pegar Harry, mas deixou o filho e saiu correndo para longe do avanço da avalanche. Várias outras pessoas fizeram o mesmo.

Quando a névoa de neve começa a se dissipar, Ebba estava ali junto da mesa em que almoçavam, junto com Harry e Vera, agarrada a eles.

Sim, porque na verdade o deck do restaurante tinha sido invadido pela névoa da neve – e não pela neve, pela avalanche. Essa tinha passado bem mais abaixo. Ali, no deck, todas as pessoas estavam perfeitamente a salvo. Foram atingidas pela névoa da neve – não pela avalanche.

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E então, à medida em que a névoa vai se desfazendo, e voltamos a ver o contorno das mesas, das cadeiras, das pessoas, vemos que Ebba tinha ficado ali abraçando os filhos.

Depois de alguns segundos que parecem séculos, Tomas volta para perto da mulher e dos filhos.

Elba conversa em inglês com um casal, fala da avalanche – e se assusta com a palavra

Esses poucos segundos, essa reação imediata, impensada, de Tomas, de fugir do perigo deixando os filhos para trás por alguns segundos – isso que não feriu ninguém, não machucou ninguém, não produziu sequer um pequeno cortezinho num pedacinho de pele de qualquer um deles – vai provocar, aí sim, uma avalanche, um terremoto, um maremoto, um tsunami nas relações entre Tomas e Ebba, e entre eles e seus filhos.

Até as palavras são assustadoras. Às vezes o som das palavras é tão assustador do que o sentido delas.

Tomas e Ebba vão jantar, nesse segundo dos cinco dias de férias, com uma moça que Ebba havia conhecido mais o namorado eventual dela. Como são pessoas de diferentes nacionalidades, falam em inglês, a língua que se tornou o mínimo múltiplo comum da humanidade.

De repente, depois de um ou dois copos de vinho, Ebba conta para o casal sobre a experiência que haviam tido no almoço, algumas horas antes. E ela fala a palavra “avalanche”, e ela mesma se assusta com o som da palavra, e diz isso: comenta que é estranho falar “avalanche”. Talvez a palavra sueca seja mais suave, não sei. A palavra “avalanche”, que tem grafia idêntica em português, inglês e francês, é seguramente mais assustadora na pronúncia em inglês. Dita em inglês, a palavra “avalanche” deixa a gente soterrado por uma camada espessa de neve da qual não conseguiremos escapar. Basta lembrar da canção tétrica de Leonard Cohen: “I stepped into an avalanche, I, who have no greed”. O francês Jean-Louis Mourat fez uma versão para a letra de Cohen, e a versão dele começa com o ruído forte do vento, e o ouvinte já fica tomado de pavor: “J’ai été pris dans l’avalanche / J’y ai perdu mon âme”.

Minha amiga Vivina contava que costumava assustar um sobrinho bem garotinho dizendo, depressa: petiprânce. Falado depressa, com voz um tanto soturna, o nome do livro mais carinhoso que já foi escrito vira uma ameaça, uma coisa aterrorizante.

De meu lado, sempre acho que earthquake, pronunciado depressa e com voz à la Peter Cushing, é a síntese do terror.

Me alonguei nesse pequeno detalhe, mas não é totalmente à toa: a própria Ebba se assusta com o som da palavra “avalanche” quando a pronuncia em inglês – no momento exato em que, pela primeira vez, ela está se expressando a respeito daquele fato ocorrido no almoço.

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Quando a avalanche é mencionada, cria-se um clima tenso, pesado

Cada um de nós já passou, com toda certeza, por uma experiência parecida: no meio de uma discussão com a pessoa que amamos – uma discussão sem sentido, boba, desnecessária, sobre por exemplo um casal que estava ao lado no restaurante –, falamos uma frase que a rigor não tínhamos intenção de falar.

A discussão nos empurra para um estado belicoso, agressivo, que não era nossa intenção, de forma alguma. E de repente, sem perceber, falamos uma frase muito mais agressiva do que teria sentido falar.

Não entendemos por quê – mas aí não conseguimos voltar atrás. E a outra pessoa também entra nessa coisa maluca, esse círculo terrivelmente vicioso que parece não permitir parada, quanto mais retorno.

E a discussão sobre uma coisa irrelevante assume proporções gigantescas, imensas – como se fosse um terremoto, uma avalanche.

Nesse filme magistral de Ruben Östlund há exemplos disso. Tomas e Ebba simplesmente não conseguem um momento para falar sobre aquela experiência da avalanche – para falar sobre a experiência de uma forma mais tranquila, procurando entender o que aconteceu.

Ebba traz o tema à baila durante o jantar com aquele casal que haviam acabado de conhecer – e cria-se um clima pesado, desagradável.

No terceiro dia das férias, chega ao hotel um grande amigo de Tomas, Mats (Kristofer Hivju). Ele está acompanhado de Fanni (Fanni Metelius), uma garotinha de 20 anos, menos da metade da idade dele. Os quatro jantam no quarto do casal Tomas e Ebba. Tomam vinho – e, de novo na presença de outras pessoas, Ebba traz à baila a experiência da avalanche.

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É diferente do jantar anterior, porque desta vez está ali um grande amigo, uma pessoa que conhece muito bem Tomas. Mas, novamente, instala-se um clima pesadíssimo, denso, uma nuvem negra de tensão pairando no quarto de hotel de luxo.

A jovem Lisa Loven Kongsli tem uma atuação esplendorosa

A interpretação de Lisa Loven Kongsli durante esse segundo jantar, esse no quarto do casal, é impressionante. É capaz de fazer corar de emoção um frade de pedra. É de aplaudir de pé, como na ópera. Mary praticamente fez isso – não conseguiu conter exclamações de admiração.

Não encontrei, em busca rápida, muitas informações sobre Lisa Loven Kongsli. É norueguesa de Oslo, assim como é norueguesa (nascida, por puro acidente, em Tóquio) Liv Ullmann, uma atriz que fez boa parte de sua carreira na Suécia. Nasceu em 1979 – e estava, portanto, com apenas 35 anos quando este Força Maior foi lançado.

Deve, muito provavelmente, trabalhar também no teatro, assim como sua conterrânea Liv Ullmann sempre fez. Em, setembro de 2015, tinha só 13 títulos em sua filmografia no IMDb, e entre esses há curtas e filmes para a TV.

Ruben Östlund é da mesma geração dessa atriz que conseguiu um desempenho prodigioso: nasceu em 1974, no interior da Suécia. Sua filmografia de apenas nove títulos inclui três curta-metragens e dois documentários. Força Maior é apenas o quarto longa dirigido por ele. Aparentemente, seus três longas anteriores não foram lançados no circuito comercial brasileiro.

Força Maior foi indicado para o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, e deu ao realizador o prêmio do júri da mostra Un Certain Regard, evento paralelo do Festival de Cannes de imenso prestígio. O filme teve carreira de grande sucesso em diversos festivais mundo afora; no total, recebeu 30 prêmios, fora 27 outras indicações.

zzforça7 - maiorUm registro que considero absolutamente necessário sobre a coisa formal. Neste filme, Ruben Östlund fez uma opção preferencial pela câmara estática, parada. Na imensa maior parte das tomadas, a câmara está paradona. Nada de travelling, de zoom. A câmara fica paradona. A tomada do momento crucial da história – o momento em que a família está sentada à mesa do restaurante, e o lugar é totalmente invadido pela névoa de neve – é longa, e a câmara fica absolutamente imóvel.

Essa opção do diretor me impressionou muito.

E há uma outra característica, que se casa com essa da câmara parada: o realizador prefere os planos mais amplos, que focalizam uma área maior. Praticamente não há close-up do rosto dos atores. Eles são sempre vistos um tanto de longe, de corpo inteiro.

Há várias tomadas em que Tomas e Ebba estão conversando junto da porta de entrada do seu quarto, do lado de fora, junto do corredor – para que as crianças não ouçam o que estão dizendo. A câmara está colocada do outro lado do imenso espaço vazio interno do hotel, em torno do qual se localizam os corredores que dão acesso aos quartos. Vemos Tomas e Ebba bem lá longe – como se a câmara fosse os olhos do faxineiro sem nome (interpretado por Johannes Moustos) que os observa do outro lado desse espaço interno vazio, dois andares acima.

Atenção: spoiler. Quem não viu o filme deve parar por aqui

Tenho sido cada vez mais cuidadoso para evitar spoilers, para não revelar elementos da trama que possam surpreender o espectador.    Quando entendo que é fundamental revelar algum desses elementos, tomo todo o cuidado de avisar ao eventual leitor que se trata de spoiler.

É o caso deste belo filme aqui. É impossível deixar de mencionar um fato que acontece bem ao final da narrativa – por que ele é o elemento que define todo o filme.

Ebba vai cometer um ato exatamente igual ao de Tomas.

Esse elemento é a chave para a compreensão do filme. E engrandece ainda mais esse primoroso estudo sobre o comportamento humano.

No entanto, como notou Mary, antes que eu pudesse pensar sobre qualquer coisa, o diretor Östlund cometeu um equívoco: ele alongou a narrativa um pouquinho mais do que deveria. Se tivesse cortado os últimos dois minutos, todo o filme seria muitíssimo melhor. O impacto do gesto de Ebba seria ainda mais forte.

Os dois últimos minutos do filme acabam sendo implausíveis, absolutamente improváveis: como seria possível que nenhum daqueles 12, 15 turistas endinheirados tivesse a iniciativa de ligar para um dos hotéis, pedindo para mandarem outro ônibus?

Mas, por pior que seja a opção do autor e diretor por terminar com aquelas imagens a sua história, não passa de um detalhe. Força Maior é um belo filme.

Anotação em setembro de 2015

Força Maior/Force Majeure

De Ruben Östlund, Suécia-França-Noruega-Dinamarca, 2014

Com Johannes Bah Kuhnke (Tomas), Lisa Loven Kongsli (Ebba)

e Vincent Wettergren (Harry), Clara Wettergren (Vera), Kristofer Hivju (Mats), Fanni Metelius (Fanni), Johannes Moustos (o faxineiro)

Argumento e roteiro Ruben Östlund

Fotografia Fredrik Wenzel

Música Ola Fløttum

Montagem Jacob Secher Schulsinger

Produção Beofilm, Coproduction Office, Film i Väst, Motlys. DVD Califórnia Filmes.

Cor, 120 min.

***1/2

12 Comentários para “Força Maior / Force Majeure”

  1. Esse é um filme denso mesmo, pesado, carregado. Revi algumas partes para poder comentar, pois tinha algumas dúvidas, e é algo que não pretendo ver novamente. A história é quase asfixiante, ainda mais contada desse jeito tão europeu: com longas tomadas e cenas paradas.
    O que eu percebi é que o casamento de Tomas e Ebba já não ia bem, isso se vê desde o momento das fotos. O fotógrafo tem que pedir pra que eles se abracem, fiquem mais próximos. Depois, as crianças dormindo na mesma cama com os dois, o cara mexendo de forma suspeita no celular enquanto a mulher está no banheiro. Por falar nisso, os dois usam o banheiro ao mesmo tempo. Pra quê? Haja amor para uma relação sobreviver ao uso simultâneo do banheiro.

    O episódio da avalanche acho que só coloca à mostra como a relação dos dois estava indo de mal a pior. Mas a insistência dela em conversar sobre isso na frente de estranhos, e depois com os amigos, é desconcertante até para quem assiste. Em seguida, aquela reação dele de cair num choro histérico, apontar seus próprios defeitos e falar que se achava patético, é de embrulhar o estômago. Tenho pavor desse tipo de situação, e principalmente do tipo de homem babaca que ele demonstrou ser. O cara roubava os próprios filhos no jogo, quando o esperado é que os adultos permitam que as crianças ganhem, em uma situação assim.
    O que acabamos vendo no decorrer da história é uma mulher tentando fazer DR o tempo todo, em momentos inapropriados, e uma relação que já vinha afundando sabe-se lá há quanto tempo. Nada como uma viagem para trazer à tona os problemas de um relacionamento …
    Enfim, não é um filme ruim, mas não é algo agradável de se ver. Tem que ter estômago. Como li em um comentário: “não indico esse filme para ser visto num encontro”.

    SPOILER

    Ao fim e ao cabo, o que o diretor mostra é que podemos “ter reações idênticas àquelas que criticamos”: okay. Entende-se que os dois eram muito parecidos nos defeitos, ou tinham a mesma falha de caráter. Mas se tudo o que ele queria era mostrar isso, precisava fazer o espectador encarar uma DR chatíssima, como toda DR, ao longo do filme? Para mim, a história é mais sobre uma relação que já vinha naufragando do que sobre o comportamento humano per se.
    Um fato interessante que mostra que Ebba era mais parecida com Tomas do que se dava conta é a cena em que ela egoisticamente obriga os filhos a ficarem dentro do quarto com um estranho: o faxineiro. Depois a cena das crianças gritando com os dois, dizendo para saírem do quarto, só mostra como ambos educavam mal os filhos.
    Sobre nenhum dos passageiros ter ligado para o hotel pedindo outra condução: será que ali na estrada, com tantas montanhas, o sinal do celular funcionava? A namoradinha do amigo deles estava mexendo no dela dentro do ônibus, mas isso pode ser um furo no roteiro.
    O fato de Ebba pedir ao amigo, e não ao marido, para que carregue a filha, continua dizendo muito da relação dos dois, e de como ela deixou de confiar nele.

    Li alguns comentários e destaco este:
    “I also read an interesting comment from the director saying that the ending is intending to show the central character being a bit more accepting/relaxed about not having to prop up certain ideals or a persona.”

    Uma pessoa disse que o diretor coloca em seus filmes cenas de vídeos que ele viu no YouTube. Não sei se é verdade, mas que ficou muito parecido, ficou:
    https://www.youtube.com/watch?v=y-nkUnAcZtA

  2. Esqueci de comentar dois detalhes sobre os atores: primeiro, é que Mats, o amigo do casal, parece uma mistura de Mick Hucknall com Nando Reis (do Hucknall gosto das músicas, do outro abomino músicas e voz).
    Até quando os homens vão ficar nessa modinha de usar “barba lenhador” quase batendo no peito, como se ainda vivêssemos nas cavernas?Medonho.
    Enfim, eu não gostei do personagem. Adorei ver que a namoradinha parecia já estar em outra, quando mexia no celular dentro do ônibus (acho que ela acabou mudando de idéia em relação a ele, depois que eles passaram a discutir movidos pelo relato sobre a avalanche, durante o jantar no quarto de Tomas e Ebba).

    O segundo, era falar que as pernas do ator que faz o Tomas parecem pernas de mulher, são redondas como as pernas da Cuca (do “Sítio do Picapau Amarelo”, versão anos 1980), e por sua vez me lembraram as pernas do Marlon Brando, outro que tinha coxas gordas e indefinidas. Brando era o típico gordinho que se achava forte. Teve sua fase áurea de beleza, sim, mas foi bem rápida.

  3. Jussara, querida, você duvidar da beleza de Marlon Brando a coloca na linha de tiro de um sem número de fãs incondicionais!
    Mas faz tempo que eu sei que você é uma mulher corajosa…
    Abração.
    Sérgio

  4. olá! Começo dizendo que me diverti com os comentários da Jussara! Ao contrário do filme que não é nada divertido… denso e pesado, fazendo parecer longo demais. Depois de tudo, absolutamente tudo ter sido dito por vc, Sérgio, e pela Jussara, só pra não passar em branco, vou dar uns pitacos: Como a Jussara, tb achei que a relação do casal não era boa e, talvez, a viagem fosse uma tentativa de resgate do casamento, sei lá. Sobre o uso comum do banheiro, eu vejo que é um ato impensado que a rotina determina (tipo “sempre foi assim, sempre será”, não importa). E sabe que o final me surpreendeu, pq, pelo peso do desenrolar da história, nem me passou tal fato pela cabeça, aí que os minutos finais me serviram pra digerir o ato. É isso, curti, mas acho q tb não veria de novo.
    Abraço

  5. Hahaha, muito obrigada pelo elogio, Sérgio!(Vou tomar como elogio).
    Abraços para você e para a Patrícia. (Meu sonho é fazer um comentário sucinto como o dela, em apenas um parágrafo).

  6. Bondade sua, Patrícia. Eu escrevo demaiss. Acho que faço uma espécie de terapia vendo os filmes, e depois complemento comentando aqui. haha
    Mas super obrigada pelo elogio. =)
    Abraços.

  7. Ah Jussara e Sérgio vcs são bons demais!!! Como leio as suas opiniões, críticas, com uma admiração. e um sabor…
    Assisti ao filme e achei muito bom, pois gosto de filmes que mostram as fragilidades humanas! E sempre corro para ver se vc Sérgio assistiu e colocou seu ponto de vista aqui!
    Abraços

  8. Uau, Célia, mas que jeito de fazer um pobre escriba feliz…
    Muitíssimo obrigado!
    Viu aí, Jussara?
    Um grande abraço, Célia!
    Sérgio

  9. Oba! Eu não tinha visto, Sérgio. Obrigada por me avisar.

    Muito obrigada pelo elogio, Celia, ganhei o dia! Mas os meus são apenas comentários mesmo, sem nenhuma pretensão.
    O escritor de verdade é o Sérgio, que além de escrever muito bem, é super entendido de cinema, tem estilo, sensibilidade e paixão pelos textos (e filmes).
    Um dia quero escrever pelo menos 5% tão bem quanto ele, e com tanta propriedade.

    Você tocou num ponto importante: o filme fala mesmo sobre as fragilidades humanas; talvez por isso incomode tanto?

    Apareça mais vezes nos comentários.
    Abraços!

  10. Ah Jussara o Sérgio é demais mesmo!!! Como é delicioso saborear os seus textos!!! Divino!!! E eu já em seguida corro p ver os seus! Ah muito, muito bom….
    Obrigada Sérgio e obrigada Jussara!

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