Conselho é uma coisa que se dá de graça, e portanto não vale nada, coisa alguma. Mas aí vai um conselho a quem porventura passar por aqui: evitem Os Olhos de Júlia. Não percam tempo com ele. O filme é um blefe. Uma bobagem. Uma merda.
Este site tem assim, acho, uns 18 leitores fiéis. A cada dia, há uns mil visitantes, mas todos, menos os meus 18 leitores fiéis, chegam aqui via Google, em geral depois de ver algum filme, querendo checar o que andaram dizendo a respeito dele. Assim, infelizmente não vou conseguir evitar que muita gente veja Os Olhos de Júlia. Uma pena. Mas, se uma meia dúzia de neguinhos deixar de ver este filme por causa do meu conselho, já será uma maravilha.
Os Olhos de Júlia é um filme tremendamente bem realizado, em todos os quesitos técnicos. Peguei para ver porque tem como produtor Guillermo Del Toro, e o cara é competentíssimo, e o cinema espanhol, nos últimos dez, vinte anos, tem me parecido o mais criativo, o mais inteligente, o mais competente, depois do inglês. Em especial no suspense, thriller, terror, os espanhóis têm excedido no talento.
E há talento, em Os Olhos de Júlia. Só que para o mal.
O filme começa como um thriller psicológico, talvez chegado a uma coisa um tanto supra-natural. Beleza. Os espanhóis têm feito com brilho esse tipo de coisa.
Mas aí, em primeiro lugar, o filme se prolonga. É mais comprido do que precisava. Várias vezes, ao longo do filme, olhei quanto tempo faltava para acabar – e essa é a melhor prova de que um filme é ruim, porque quando um filme é bom pode durar até quatro horas, o que for, e a gente quer mais.
Em segundo lugar, ele se prova, na verdade, ser nada mais, nada menos, que um slasher movie. O slasher é o pior tipo de filme que pode existir – excetuados, certamente, os que fazem propaganda de algum tipo de totalitarismo. O slasher movie é aquele subgênero do terror que esguicha sangue pela carótida. Aquela coisa mórbida, nojenta, horrorosa, que um tipo de adolescente americano tanto ama.
No Blu-ray, Os Olhos de Júlia vem acompanhado de um making of no qual alguém da produção confessa, candidamente, que o filme buscava atingir os espectadores jovens, adolescentes.
Um filme que deliberadamente esconde o nome das equipes que o fizeram
O cara confessa, como se não estivesse compreendendo o significado que ele mesmo estava dizendo. É como se ele estivesse dizendo: Fizemos um filme de merda porque adolescente gosta é de filme de merda, e é adolescente que mais importa na bilheteria hoje em dia, e então é isso aí.
Tenho visto grandes filmes feitos na Espanha. Os Olhos de Júlia é tão bem realizado que até demorei um tanto para perceber como ele é moralmente, no que importa-mente, ruim, nocivo, safado, calhorda.
Um detalhe confirmou para mim que este é um filme de merda: os créditos finais.
Os Olhos de Júlia não tem créditos iniciais – a não ser a enumeração das companhias produtoras. Tem o logo da Universal Pictures, uma das majors de Hollywood. Aí aparece: uma produção Universal Pictures – e Guillermo Del Toro.
Os créditos finais, aos quais a imensa maioria dos espectadores não presta a menor atenção, é o brevíssimo momento em que aparecem os nomes de quem fez o filme.
Os realizadores de Os Olhos de Júlia fizeram créditos finais em que os nomes da equipe técnica são invisíveis. Os nomes surgem num tamanho que não dá pra ler, e correm numa velocidade insana.
É um exemplo provavelmente único, entre todos os filmes dos últimos muitos anos, em que os realizadores desprezam a equipe.
Ao desprezar os nomes das pessoas que fizeram o filme, ele se revela como é: é um filme mau caráter.
Ah, tá, mas não falei propriamente sobre o filme, do que, afinal, trata o filme.
Preguiça.
É um slasher movie. Finge que tem uma história pra contar, a respeito de duas irmãs gêmeas que têm uma doença degenerativa que as levará à cegueira, mas na verdade, na verdade, quer mesmo é mostrar garganta cortada e o sangue esguichando.
Ou seja: uma merda. Há uns dez mil filmes feitos no mesmo no ano, todos melhores do que este blefe aqui.
Nada como uma outra boa opinião
É o que eu digo e repito: esta é apenas a minha opinião, e a minha opinião vale no máximo uns três guaranis furados.
E é também o que digo volta e meia: às vezes a gente não entra no clima de um filme. Vê o filme num momento errado.
Pode perfeitamente ter sido o caso.
O Rato, autor do excelente blog O Rato Cinéfilo, assustou-se com o que escrevi sobre o filme. José Luís Fino, seu conterrâneo, cujas opiniões também prezo muito, já havia dito, em comentário (abaixo), que tinha ouvido elogios ao filme.
Convido o eventual leitor para conferir o que diz O Rato sobre o filme. E antecipo aqui um trecho de sua análise:
“O grande mérito de Los Ojos de Julia é o não se deixar comprometer com as suas influências óbvias (Hitchcock e Argento, sobretudo), denotando, pelo contrário, uma forte aposta na originalidade e numa abordagem algo diferente da habitual. No observatório astronómico onde trabalha, Julia Levin tem o presságio de que algo aconteceu com a sua irmã gémea Sara, que vive numa localidade afastada e que padece do mesmo mal, uma doença degenerativa da vista que irá inevitavelmente conduzir ambas à cegueira. Dirige-se, com o marido, Isaac (Lluís Homar) a casa da irmã para descobrir que a mesma se enforcou na cave há já alguns meses (sequência que abre o filme). Mas Julia desconfia da aparente evidência e convence-se de que a irmã foi assassinada. O desenrolar dos acontecimentos dar-lhe-á razão e ela virá a ser eleita como alvo seguinte na lista do assassino.”
Anotação em fevereiro de 2012, com acréscimo em abril
Os Olhos de Júlia/Los Ojos de Julia
De Guillem Morales, Espanha, 2010
Com Belén Rueda (Julia Levin e Sara Levin), Lluís Homar (Isaac), Pablo Derqui (Ángel), Francesc Orella (inspetor Dimas), Joan Dalmau (Créspulo), Julia Gutiérrez Caba (Soledad)
Argumento e roteiro Guillem Morales e Oriol Paulo
Fotografia Oscar Faura
Música Fernando Velázquez
Cor, 112 min
Produção Universal Pictures, Guillermo Del Toro, Antena 3 Films, Canal+ España, Catalan Film and Television. Blu-ray e DVD Universal.
1/2
É curioso que este é um filme que estava desejoso de ver e em breve.
Esta sua opinião contraria o que tenho lido sobre o filme.
Pois aí está, caríssimo José Luís. Eu adoraria saber sua opinião, porque respeito tremendamente seu gosto, suas opiniões. Quem sabe eu errei feio na avaliação do filme? Claro que pode ser isso, sim.
Se você já ouviu opiniões favoráveis… Bem. Se você se animar a vê-lo, por favor, conte aqui o que achou.
Um abraço.
Sérgio
Eu nem queria acreditar, Sérgio, quando vi a meia estrelinha na cotação do filme (e sei que não pode ser menos por razões técnicas…).
Falei muito bem do filme há já algum tempo no blog do Rato, por isso aqui fica registado mais um daqueles casos (poucos, felizmente, porque tenho encontrado muita afinidade com os teus gostos cinéfilos) em que estamos em pontos opostos da sala de cinema – eu na 1ª fila, você na última, lá mesmo em cima (ou será o contrário, eheheh?).
E, Zé Luís, vê mesmo o filme e depois diz da tua justiça.
Um abraço aos dois
Não errou feio na avaliação não. O filme é uma chatura, uma besteira. Fui na cola do Guillermo Del Toro e fiquei decepcionada.
Tinha muita vontade de assistir a este filme, mas você me fez mudar de idéia. Adorei seu blog e pretendo ser o 19º leitor assíduo!
Assim como Moby ( ele ou ela )eu ía alugar este DVD mas, devido a tua opinião, não vou fazê-lo. E, se é como tu dizes, garganta cortada, sangue jorrando, igual a “sexta feira 13” e afins, mesmo que passe na TV a cabo não vou assistir. Claro que tenho minha opinião mas, devido a isso, respeito e acato
a tua. Filmes assim ( como dizem )tô fora.
OBS: não sei em que lugar me encontro no ranking de leitores fiéis mas te digo que além disso, sou assíduo e diário.Vasculho teu site.
Detalhe: basta aquela foto que está no teu comentário , alguem apontando a faca em direção ao olho da mulher , para desistir.
Abraços de um Vascaíno.
Sergio, eu assisti a este há um bom tempo. E, pelo que lembro, concordo com você. É uma história meio sem pé nem cabeça. ELa vai perdendo a visão, como a irmã…
Não lembro bem. E se não lembro bem, é capaz que seja bem ruim mesmo, né?
Abs.
Diz um provérbio: Cada cabeça sua sentença.
É o caso aqui; o Sérgio achou o filme mau e só não lhe deu a nota zero porque nunca a dá enquanto o Rato achou o filme muito bom e deu-lhe 4 estrelas em 5.
Eu fico no meio e penso que o filme é bastante agradável de seguir. Não é uma grande obra, mas dá para ver uma vez, duas não, o argumento é deamasiado esburacado e tem tantas incongruências que não resiste a uma segunda visão.
A actriz Belén Rueda tem um excelente trabalho e é para mim a melhor coisa do filme.
Veja só como são as coisas. Em abril do ano passado, disse que não iría assistir este filme devido ao teu comentário. Ontém, sem querer, acabei assistindo. E, digo: Estavas certíssimo. Agora explico o “sem querer”.
Este filme passou ontém no Tele Cine Action da NET as 22:00 Hs. Minha irmã veio me fazer uma visita e, estava no computa. Não assisto desfile de escola de samba na TV( odeio ).
Então, procurei algo para ver na telinha e, encontrei este filme que me interessou pela sinopse e por ser Espanhol. Nem de longe me lembrei que era este filme aqui do site.
Estava vendo com algum interêsse até então mas,(ISTO É SPOILER,NÃO VIU, NÃO LEIA)a cena quando a mulher está cravada na parede com a faca espetada na bôca,já fiquei cismado.
Depois a tal cena quando ele para testar a cegueira e coragem dela, aponta a faca para seus olhos. PODE VOLTAR A LER. Aí, a ficha caiu, lembrei e, falei para mim mesmo: é o filme que está no site do Sergio. Era o bastante para parar aí.
Até antes destas cenas estava dando prá ver numa bôa, continuei vendo e foi puro castigo.
O filme descambou. SPOILER. Ela crava a faca nas costas do cara,ele não morre,depois abre um talho na testa dele e ele não morre. Já adivinhava o que viría a seguir e parei aí.
Nem procurei saber ou ler como foi o final.
PODE VOLTAR A LER.
Como voce sugeriu, li o texto do “Rato” e, de fato ele se encantou com o filme.
Poso fazer como o José Luiz pois até aquelas cenas que citei, estava dando prá ver.
E,assim como ele,concordo que a Belén Rueda é o que se salva neste filme (pelo menos até onde assisti mas, já tinha bastante filme).
Que me lembre nunca vi um filme sem ver o seu final. Este Espanhol me decepcionou.
Um abraço, Sergio !!
Gostei do filme. Achei diferente da maioria dos gore que andam fazendo por ai. E tambem me surpreendi com as reviravoltas. Adorei a sacada de evitar o rosto de personagens equanto a cegueira da mocinha aflora, pura interacao com o espectador. Teve espaco ate pro novelesco com a traicao do marido da protagonista con sua irma (bem espanhol hein). A bem da verdade esta muito abaixo de O Orfanato, mas longe de ser um filme ruim. Reparei numa coisa lendo suas resenhas: nos dramas sou sempre de acordo con o que escreves, ja no terror nem tanto. Talvez eu goste de um pouco de gore afinal. Parabens pelas postagens.
O filme é uma m***** porque na sua opinião é um slasher e esse é o pior subgenero de todos? Acho infantil uma crítica dessa forma. Se voce nao gosta de determinado gênero é questão de gosto seu, e um crítico tem que saber separar seu gosto do fato de se o filme tem qualidades ou não.
Quando assisti a primeira vez, não gostei desse filme. Estou pensando em reassistir, daí fui pesquisar alguma coisa antes. O roteirista desse filme dirigiu maravilhas depois (el cuerpo e contratiempo) daí fiquei curioso em reassistir