
(Disponível no Dwan & Walsh Filmes do YouTube.)
Arigatô-san, no Brasil Sr. Obrigado, pelo mundo Mr. Thank You, Monsieur Merci, é uma jóia do cinema japonês. Apresenta, com talento, bom humor, simpatia, domínio técnico, câmara ágil, quase sempre em movimento, um retrato da sociedade do Japão na década de 1930, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial.
E faz esse retrato com o maior realismo que poderia haver, com a mais exata reprodução dos costumes, do vestuário, do linguajar, da época – todas essas coisas que, convenhamos, não são assim propriamente muito conhecidas hoje em dia.
Não poderia ser diferente. Não é uma reconstituição de época. Embora não pareça, o filme foi lançado há quase um século, pouco depois de o cinema aprender a falar. É de 1936.
E é surpreendente, impressionante, fantástico como o filme do diretor Hiroshi Shimizu é muitíssimo bem feito, bem realizado. Em todos os aspectos. Poderia perfeitamente ter sido feito agora.
Em sua extraordinária História do Cinema Mundial (ela mesma já com mais de 60 anos), o estudioso francês Georges Sadoul registrou que, exatamente em 1936, os filmes de Kenji Mizoguchi, Hiroshi Shimizu e outros realizadores fizeram “com que se falasse de um novo realismo japonês”.
Isso uma guerra mundial e uma década antes do surgimento do neo-realismo italiano, o mais importante movimento do cinema, meu Deus do céu e também da Terra!
Exatamente como fariam no pós-guerra os monstros Vittorio De Sica, Roberto Rossellini, Luchino Visconti, Giuseppe De Santis – em filmes que influenciariam a nouvelle vague francesa, os angry young men da Inglaterra, o cinema independente dos Estados Unidos, o cinema novo brasileiro, o Dogma dinamarquês, e também os cineastas do Irã e da Romênia já no século XXI –, Hiroshi Shimizu rodou todo este Arigatô-san fora de estúdio, com luz natural. |Focalizando a vida das pessoas do povo, pessoas simples, humildes – e misturando atores profissionais com gente comum.
Para quem gosta de ver filmes, é babar – e querer aprender mais.
Confesso, e sem sentir vergonha, que conheço pouco o cinema japonês, e jamais tinha ouvido em Hiroshi Shimizu. Fomos parar neste Sr. Obrigado porque ele está disponível no Dwan & Walsh Filmes, um canal do YouTube feito por cinéfilos de carteirinha, amantes de clássicos; Aí resolvemos experimentar.
Confesso que babei. E depois, quando fui atrás de informações, vi que muita, mas muita gente já havia se encantado pelo filme.

Em cinco minutos, o protagonista está definido diante de nós
É um perfeito road movie – embora o termo tenha começado a ser usado só no início dos anos 60. Passa-se praticamente todo o tempo na estrada, uma estrada de terra, sem divisão de duas mãos de direção, na península de Izu, área rural e montanhosa ao Sul de Tóquio.
O filme abre com um pequeno ônibus rodando pela estrada de terra. Diante dele há dois homens trabalhando na estrada, com pás. O motorista buzina, os homens se afastam – corta, e a câmara focaliza então a frente do ônibus, o pára-brisa. Vemos o motorista, um homem jovem, com uniforme e chapéu, que, sorridente, diz alto a palavra que as pessoas ao redor do mundo conhecem: – “Arigatô! Arigatô!”
Uma tomada em que a câmara está como se colocada dentro do ônibus, mostrando a estrada à frente. Corta, e vem uma tomada com a câmara colocada à frente do ônibus, mostrando o motorista em primeiro plano, passageiros atrás. Corta, e vem uma tomada com a câmara colocada junto do último banco do ônibus, mostrando os dois homens voltando a trabalhar com as pás na estrada, ficando para trás.
As três tomadas, juntas, não duram mais que um minuto. Três tomadas de uma mesma ação, com a câmara em três diferentes posições, e uma montagem rápida, em perfeita sincronia.
Essa mesma situação se repete algumas vezes, logo a seguir, enquanto o ônibus prossegue sua viagem. Vemos que está adiante do ônibus uma carroça, um trabalhador puxando o cavalo que a puxa. O motorista buzina, a carroça é puxada para a esquerda, o motorista, sorridente, bem-humorado, simpático, diz “Obrigado! Obrigado”, e logo vemos o trabalhador e sua carroça irem ficando para trás.
Depois é a vez de dois homens que caminham lado a lado, carregando nas costas fardos com madeira cortada. Em seguida, quatro mulheres, caminhando juntas, também com fardos às costas. Um grupo de galinhas! O motorista buzina e, quando as plumosas se afastam, ele agradece: – “Arigatô! Arigatô!”
Quando estamos com cinco minutos de filme, há um fade out, e surge um letreiro (em caracteres japoneses, obviamente), para dar uma explicação ao espectador. A legenda traduz aquele monte de símbolos: “É por isso que as pessoas o chamam de Senhor Obrigado”.
Achei sensacional, maravilhoso esse detalhinho de a explicação vir não na voz em off de um narrador, que é como se faz desde o advento do cinema sonoro, falado, mas em um letreiro – exatamente como se fazia no cinema mudo. Volto a isso mais adiante.

A trama não importa muito. O principal é o visual
Nos cinco primeiros minutos de seu filme que dura rápidos 76, Hiroshi Shimizu apresenta seu domínio da técnica cinematográfica, com o uso da câmara em três diferentes posições, alternadamente, com montagem perfeita, a montagem tradicional, usual, em que o espectador sequer precisa perceber que houve três diferentes tomadas que foram “montadas”, ou “edited”, como se diria em inglês – tudo tornado ainda mais agradável pelo uso da trilha sonora de tom alegre, sapeca, brincalhão, do compositor Keizō Horuichi.
Mas não é só isso, não é só a técnica. Nos cinco primeiros minutos, o filme já apresenta, deliciosamente, a base do que vai narrar – uma viagem no ônibus daquele simpático, bem-humorado motorista (o papel de Ken Uehara, 27 anos em 1936, quando o filme foi lançado), da região rural de Izu rumo a Tóquio. Uma viagem no ônibus do Sr. Obrigado, um retrato de um grupo de passageiros – uma visão de um microcosmo que representa uma boa parte do Japão naqueles meados da década de 1930, uma época de desemprego, muita migração interna, em um país que estava – hoje sabemos – à beira de se lançar, juntamente com as ditaduras de Hitler e Mussolini, contra o resto do mundo.
O filme se baseia em um conto do escritor Yasunari Kawabata, (1899-1972), que viria a ser o Nobel de Literatura em 1968. O conto, “Arigatô”, é da juventude do escritor, e foi lançado ainda em 1925.
Foi o próprio diretor Hiroshi Shimizu que adaptou a trama do conto e escreveu o roteiro. Não dá para saber se foi totalmente intencional, mas o fato é que o roteiro se distanciou muito da literatura, ao fazer um relato em que o visual é o mais importante – muito mais do que as palavras, muito mais do que propriamente uma história.
Arigatô-san não se preocupa muito com a trama. É um retrato daquele momento, daquele evento: um pequenino ônibus (bem pequenino, com lugar para umas 15 pessoas, no máximo, algo que aqui chamávamos de jardineira) que viaja numa área rural.
Com exceção do motorista, os personagens não têm nome. E o roteiro não se preocupa em nos dar muitas informações sobre eles – sequer sobre os que mais aparecem na tela.

Uma moça será vendida pela mãe pobre
Sobre o próprio Senhor Obrigado, ficamos sabendo aquelas informações básicas: é maravilhosamente bem-humorado, sorridente, agradável. Trata muito bem os passageiros. E, por isso mesmo, é extremamente benquisto por todas as pessoas que entram em seu ônibus e que ele encontra ao longo da estrada. Todo mundo ali parece conhecer Arigatô-san, todo mundo puxa uma conversa com ele – em especial as moças.
Ah, sim: Arigatô-san é um rapaz bonito, atraente – e as moças todas parecem querer dar uma paqueradinha. E o cara é um absoluto paquerador: passou mulher na frente dele, ele paquera, faz carinha boa, agrada, paparica.
As pessoas pedem favores a ele. Seu Obrigado, daria pra trazer tal coisa para mim da próxima vez em que passar por aqui? Seu Obrigado, pode dar um recado ao meu pai, no lugar tal, por favor?
Depois do Sr. Obrigado, as três personagens mais importantes do filme – ao menos na minha opinião – são três mulheres.
Duas delas são mãe e filha (os papéis, respectivamente, de Kaoru Futaba e Mayumi Tsukiji). Embarcam no ônibus no início da viagem rumo à estação ferroviária que as levará a Tóquio. No local da partida, a mãe conversa com uma outra mulher, e o que é dito é que a garota, agora com 17 anos, será levada pela mãe para Tóquio, onde vai se empregar na casa de uma família.
A moça demonstra não estar nada, nada, nada à vontade com aquele arranjo. Mostra-se envergonhada. Ali pelo meio da viagem, pede à mãe que, quando tiver que falar com alguém, que diga que estão indo visitar parentes.
Não é dito com todas as letras, nem sequer com algumas poucas letras, mas pode-se depreender, pode-se inferir, que a mãe está levando a moça para vendê-la – seja para um homem, de quem ela será teúda e manteúda, seja para um bordel.
(O cinema japonês do passado, mesmo o do passado distante, sempre abordou o tema da prostituição. Kenji Mizoguchi, por exemplo, fala de prostituição em As Irmãs de Gion, exatamente de 1936, o mesmo ano deste filme aqui, em Mulheres da Noite (1948), Oharu, a Vida de uma Cortesã, de 1952 e A Rua da Vergonha, de 1956.)
Mãe e filha são evidentemente muito pobres, bem provavelmente iletradas; vestem-se com roupas que mesmo nós, ocidentais, sem conhecer nada da cultura japonesa, identificamos como de gente humilde.

Uma bela mulher independente, que paquera, fuma…
A terceira personagem feminina muito importante do filme é muitíssimo diferente daquela dupla de mãe e filha.
É o papel de Michiko Kuwano (na foto acima), uma bela atriz – bela nos dois sentidos do adjetivo. Ela é identificada, nos textos sobre o filme na internet, como “woman in black colar”, mulher de colarinho preto, “la femme qui a roulé sa bosse”, a mulher que já passou por muitas coisas. Eu a definiria como a bela mulher independente – o que, acho, era algo que a gente não imaginaria existir em 1936 no interior do Japão, um país naquela época extremamente tradicionalista e, como a imensa maioria, extremamente machista.
Nem de longe tão velha quanto a mãe, nem de longe tão jovem quanto a garotinha de 17, e visivelmente mais bem de vida do que as duas, essa Bela Mulher Independente começa por se sentar logo atrás do Sr. Obrigado – e a falar com ele de um jeito de quem está flertando, se mostrando disponível.
Um pouco adiante, ela dá um chega-pra-lá em um senhor amplo, muito bem-vestido, com um gigantesco bigode postiço (o papel de Ryuji Ishiyama), que demonstra grande interesse pela pobre garotinha que a mãe está levando para entregar para a vida. Um senhor bem falante que surgira no ônibus havia dito, em tom de alerta aos navegantes pouco navegados: – “Em Tóquio há texugos e raposas!” Quando o falso bigodudo tenta se aproximar da coitada da garotinha, a Bela Mulher Independente fala algo tipo: – “Cuidado com os texugos e as raposas!”
Ela fuma, na boa, muito à vontade – algo que para nós parece um pouco estranho para uma mulher naquela sociedade machista, patriarcal, nos anos 1930. E bebe! Saca da bolsa uma garrafa de bebida, toma uns tragos, e oferece para o Sr. Obrigado (que recusa, é claro) e para vários companheiros de viagem (que aceitam).
Não fica claro, de forma alguma, que tipo de pessoa poderia ser a Bela Mulher Independente – de onde ela veio, de que classe social ela poderia ser. Ficou parecendo, para mim, que ela havia sido no passado algo parecido com a garotinha que estava para ser vendida – que tinha sido no passado de jovem mulher teúda e manteúda por um homem rico, tinha conseguido cascar fora daquela relação com bastante dinheiro, e agora, adulta, era de fato independente.
Mas isso foi só a minha percepção, minha imaginação.
É uma característica fascinante do filme. Ele não se preocupa em nos definir exatamente quem são seus personagens. Ele mostra. Não explicita nada – o espectador que conclua o que quiser.
O Sr. Obrigado. Mãe e filha. A Bela Mulher Independente. O senhor muito bem vestido com gigantesco bigode postiço. Esses são os principais personagens. Há vários, vários, vários outros. O homem que volta de Tóquio (Reikichi Kawamura) e sua filha (Setsuko Shinobu). A artista itinerante (Mitsuko Mito). A jovem casada (Shigeru Ogura). A mulher coreana (Yoshiko Kuhara).

Prolífero, Shimizu dirigiu sete filmes naquele ano!
Muito do que gosto de fazer, quando anoto sobre os filmes, é gravar traços de união, coincidências, similitudes – ou, ao contrário, imensas dessemelhanças.
Enquanto via, encantado, este Arigatô-san de 1936 aqui, pensei em dois grandes clássicos contemporâneos dele, feitos naquele país contra o qual o Japão entraria em guerra no dia 7 de dezembro de 1941 – Aconteceu Naquela Noite/It Happened One Night (1934) e No Tempo das Diligências/Stagecoach (1939).
São, todos os três, road movies.
O filme do imigrante siciliano Francesco Rosario Capra – o primeiro dos únicos três, ao longo destes 97 anos, a receber os cinco principais Oscars – se passa na estrada entre a Flórida e Nova York. É, certamente, um dos primeiros road movies. O do filho de imigrantes irlandeses John Martin Feeney (que às vezes se dizia Sean Aloysius O’Fearna) tem exatamente o mesmo clima deste Sr. Obrigado aqui: pessoas de diferentes estratos, diferentes passados, reunidos em um meio de transporte. E olha que a jardineira dirigida pelo Sr. Obrigado é só um pouco maior que a diligência em que viajam, entre outros, um homem acusado de assassinato, uma prostituta, um bêbado e uma senhora esnobe.
Hiroshi Shimizu (1903-1966) fez pra lá de 160 filmes, entre 1923, ainda no período do cinema mudo, até 1959. Bem mais, portanto, do que Frank Capra (59 títulos), e mais até do que o prolífero John Ford (147 títulos).
Apenas em 1936, Shimizu lançou sete filmes! Arigatô-san foi apenas um dos sete!
(Não tem a ver, mas registro assim mesmo: naquele ano de 1936, o jovem Akira Kurosawa, aos 26 anos de idade, empregou-se na companhia cinematográfica PCL, e trabalhou como diretor-assistente de segunda unidade de filmes de Shigueo Yakura, Osamu Fushimizu e Kajirô Yamamoto – este último, o homem que o genial realizador chama de “o maior mestre de toda a minha vida”. Kurosawa iria dirigir seu primeiro filme, A Saga do Judô, em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial.)

“Incontestável charme.” “Cativante.”
Há diálogos, ao longo deste Sr. Obrigado, em que se fala do cinema falado e de discos– e fica claro que as duas coisas eram grandes novidades na vida daquelas pessoas. Achei isso particularmente interessante. Alguém comenta sobre a voz de um determinado ator, alguém diz que as falas dos atores são perfeitamente audíveis, inteligíveis – mostrando algum espanto diante daquela fantástica novidade tecnológica.
Tem tudo a ver.
O cinema aprendeu a falar em 1927 – mas, em alguns países, demorou um pouquinho mais. Segundo o historiador Georges Sadoul, o cinema japonês passou a ser inteiramente falado em 1931. Entre os passageiros de um ônibus na área rural, portanto, era mais do que normal que fosse considerado uma grande novidade em 1936.
Aprendi algumas informações impressionantes ao ler um pouquinho depois de ver este filme delicioso. Por exemplo: bem no seu início, a indústria de cinema japonesa teve dois pólos – Tóquio e Quioto. De maneira fascinante, os filmes feitos em Tóquio eram na maioria sobre os tempos de então, e os da antiga capital imperial, eram em geral históricos, sobre eras passadas.
O terrível terremoto que atingiu o Japão em 1923 destruiu cerca de 80% das salas de cinema do país, e praticamente todos os estúdios. Mas, se há um país que parece a fênix, este é o Japão: no final da década de 1920, a indústria de cinema japonesa já havia se refeito das cinzas e lançava de 800 a 900 títulos por ano.
Bem, mas não é só a natureza que destrói, como todos sabemos muito bem. Veio o domínio dos militaristas no governo, e logo em seguida começou a Segunda Guerra Mundial. Das cerca de 2.500 salas de cinema existentes no país em 1941, só perto de 1.000 funcionavam depois da capitulação do Japão em 15 de agosto de 1945, poucos dias após as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. E a maior parte dos estúdios que haviam sido reconstruídos depois do terremoto de 1923 estava em escombros.
Outro estudioso e crítico francês, Jean Tulard, define assim Hiroshi Shimizu e sua obra, no Dicionário de Cinema – Os Diretores: “Um dos realizadores japoneses mais talentosos de antes da guerra. Seus filmes-crônicas conservam um incontestável charme.”
O site da Criterion Collection – que reúne os lançamentos em DVD de alguns dos filmes considerados mais importantes da História – define assim este Mr. Thank You:
“O cativante road movie de Hiroshi Shimuzu segue a rota longa e sinuosa do motorista de ônibus de natureza doce – apelidado de Mr. Thank You por causa de sua exclamação para os pedestres que gentilmente abrem caminho para ele – viajando da região rural de Izu para Tóquio. Romance e comédia acontecem, e a tragédia ameaça seus passageiros, um virtual microcosmo do Japão em época de depressão.”
Incontestável charme. Cativante. Perfeitas expressões para esse filme delicioso.
Anotação em julho de 2025
Sr. Obrigado/Arigatô-san
De Hiroshi Shimizu, Japão, 1936
Com Ken Uehara (Sr. Obrigado),
Michiko Kuwano (a bela mulher independente), Mayumi Tsukiji (a garota que será vendida), Kaoru Futaba (a mãe da garota), Reikichi Kawamura (o homem que volta de Tóquio), Setsuko Shinobu (a filha do homem que volta de Tóquio), Ryuji Ishiyama (o homem com o bigodão), Eiko Takamatsu (a mulher do salão de chá), Mitsuko Mito (uma artista itinerante), Shigeru Ogura (a jovem casada), Yoshiko Kuhara (a mulher coreana)
Roteiro Hiroshi Shimizu
Baseado no conto de Yasunari Kawabata
Fotografia Isamu Aoki
Música Keizō Horuichi
Cenografia Kōtarō Inoue
Figurinos Tetsuzō Shibata
Produção Shōshiku.
P&B, 76 min (1h16)
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