Amores Solitários / Lonely Planet


3.0 out of 5.0 stars
(Disponível na Netflix em 11/2024.)

Lonely Planet, no Brasil Amores Solitários, produção do cinema independente norte-americano de 2024, é uma história de amor contada com sensibilidade e carinho. A protagonista, interpretada pela maravilhosa Laura Dern, é uma escritora de 50 e tantos anos – assim como a autora do roteiro original e diretora, Susannah Grant.

Susannah, de Nova York, da classe 1963, portanto com 61 anos no lançamento do filme, tem muito mais experiência como autora, roteirista, que como diretora – este aqui é apenas o segundo filme que ela dirige, depois do também sensível, carinhoso Pegar e Largar/Catch and Release (2006) – igualmente escrito e roteirizado por ela. É autora ou co-autora dos roteiros de, entre outros, Erin Brockovich (2000), 28 Dias (2000), O Solista (2009) e Inacreditável (2019), belas obras, todas elas.

Laura Dern, de Santa Monica, Los Angeles, da classe de 1967, tem 105 títulos no currículo e 62 prêmios, inclusive um Oscar.

Katherine Loewe, a personagem criada por Susannah e vivida por Laura, está chegando a Marrocos na primeira sequência do filme. Vai para um spa no interior do país, um lugar belíssimo, onde está se realizando um encontro de escritores, de todas as partes do mundo. Está escrevendo seu novo livro, tem prazo para entregar os originais para sua editora. Quer paz, sossego, para se dedicar ao trabalho.

Entre os hóspedes do spa estão a jovem Lily Kemp (Diana Silvers), que lançara havia pouco tempo seu primeiro livro, um imenso sucesso de vendas, e seu namorado, Owen Brophy, um jovem economista que trabalha em uma empresa de investimentos. Owen – interpretado por Liam Hemsworth, da série Jogos Vorazes – é altão, bonitão.

Fiquei pensando, enquanto via o filme e depois, que a história criada  por Susannah Grant é contada, sim, sem dúvida, com sensibilidade e carinho. Mas é assim um fiapinho de história – a expressão que gosto de usar para definir Um Homem, Uma Mulher (1966), de Claude Lelouch, esse diretor detestado por 110% dos críticos de cinema e que eu admiro de paixão.

Mulher encontra homem, vão conversando, vão se conhecendo, rola a coisa, se apaixonam. Pronto. É isso. Como diz o João Gilberto, é só isso o meu baião, e não tem mais nada, não.

Exatamente como em Um Homem, Uma Mulher, e tantos outros belos filmes, muito mais do que a trama em si o que importa é como a história é contada, como a direção e os atores passam a emoção para o espectador.

Laura Dern está ótima, estupenda. Liam Hemsworth faz um bom economista perdido no meio de um encontro de escritores. Os dois conseguiram a tal da química – Laura Dern fez os mais rasgados elogios ao colega jovem, bem menos experiente, que nasceu (em Melbourne, Austrália) em 1990, quando ela brilhava em Coração Selvagem/Wild at Heart, de David Linch.

A fotografia – de Ben Smithard – é sensacional, assim como os cenários do Marrocos. Uma beleza visual impressionante. E Susannah Grant rege tudo com sensibilidade.

O casamento dela havia acabado, e de forma horrorosa

As coisas não iam bem para Katherine Loewe. O casamento de 14 anos com um escultor famoso havia acabado – e acabado de forma horrorosa, ele a expulsando de casa, ela sem cabeça para definir para onde ir, com a pressão de ter que terminar o livro encomendado pela editora.

Fiquei incomodado com a falta de lógica. (Tenho esse problema: a falta de lógica nas histórias me incomoda.) Por que raios ela resolveu viajar de Nova York para o interior do Marrocos, onde se realizava um retiro de escritores, para terminar seu livro? Por que não ir para um hotel sossegado ali pertinho em Connecticut, ou em qualquer outro lugar mais próximo e mais quieto, meu Deus do céu e também da Terra?

Mas ela de fato estava desorientada, sem cabeça; tinha o convite feito pela dona do spa marroquino, Fatema Benzakour (Rachida Brakni), e então embarcou para a África. Tá tudo certo. (Até porque  se não embarcasse para a África não haveria o filme, ô seu idiota da objetividade…)

Mas as coisas de fato não iam para Katherine – e as malas se extraviaram. Chegou ao belíssimo spa só com a mala de mão. Como queria se dedicar ao livro, no laptop, trancou-se no maravilhoso quarto, evitou o quanto pôde encontrar-se com os colegas nas áreas comuns do spa. Mas aí – quando as coisas vão mal, vão mal em ondas, como o mar, para usar a expressão de Vinicius de Moraes – houve um problema no encanamento do seu apartamento, e ela teve que sair para buscar água e pedir ajuda.

Foi nessa saída para buscar água que Katharine se encontrou pela primeira vez com o garotão bonito Owen.

O rapaz tinha problemas no trabalho e no namoro

As coisas também não iam bem para Owen Brophy. No trabalho e também no namoro com a bela Lily, recém convertida em pessoa de imenso sucesso.

Ele havia encontrado uma mina de carvão cujo proprietário estava disposto a vender por um bom preço – desde que continuasse como CEO do negócio, empregado dos novos proprietários. Seus superiores na empresa de investimento rapidamente se convenceram de que seria um bom negócio. As negociações estavam rolando, Owen como o contato dos compradores com o proprietário da mina, quando surgiu o convite para Lily participar do retiro de escritores no Marrocos. E ela pediu que o namorado a acompanhasse – estava insegura por se ver no meio de gente de grande fama, escritores veteranos.

E então o rapaz tinha que a toda hora atender ao telefone – fosse de ligações do proprietário da mina, fosse de seus chefes – para ligações internacionais, com cinco horas de diferença no fuso horário.

Pior: vai ficando claro para Owen que seus chefes não estavam dispostos a cumprir o acordo de manter o antigo proprietário como CEO da empresa mineradora. E ele havia dado sua palavra ao sujeito que o acordo seria mantido.

Além da coisa profissional, havia os problemas com Lily.

Owen não se acostumara à transformação repentina da namorada de aspirante a escritora em autora de best-seller. Ali no spa no Marrocos, sentia-se peixe fora d’água. À medida em que se distanciava dos outros nos encontros de escritores, Lily, por sua vez. se sentia abandonada por ele.

Fica absolutamente claro para o espectador que vai rolar coisa entre a escritora de meia idade e o garotão bonito.

“É sobre encontrar alguém que de fato vê você e entende você”

Laura Dern disse que o que a atraiu na história foi “a exploração da identidade e a autoestima dentro das relações, especialmente em um mundo intelectualmente carregado como a cena literária”. “A dinâmica entre o homem mais jovem e a escritora mais velha, experiente, me deixou intrigada, porque não é apenas sobre romance – é sobre encontrar alguém que de fato vê você e entende você. É algo profundamente humano e identificável.”

Como mencionei acima, a grande atriz – filha de dois bons atores, Diane Ladd e Bruce Dern – não poupou elogios ao seu jovem colega: – “Liam foi mágica pura. Ele se tornou não apenas um companheiro e confidente durante nossa aventura no Marrocos, como dividiu comigo um desejo de honestidade e intimidade em todas as relações que foi muito comovente para mim. Ficamos bem próximos, e então contar essa história juntos foi uma maravilha… E ele é tremendamente engraçado, então rimos o tempo todo.”

A escritora e diretora Susannah Grant definiu o projeto assim: – “Com Lonely Planet, eu quis fazer um filme sobre o poder de transformação que tem uma viagem – como às vezes viajar milhares de milhas para longe de tudo o que você sabe sobre a vida pode fazer você ver a vida, e a si mesmo, sob uma nova e reveladora luz.”

E mais:

“Katherine e Owen (belamente interpretados por Laura Dern e Liam Hemsworth) chegam ao Marrocos – longe de tudo que era familiar a eles em seu dia-a-dia – mais preparados para uma mudança do que eles próprios achavam. Um encontro casual os lança juntos em uma viagem de carro cheia de poeira e solavanco através do interior do Norte da África. Nenhum deles está procurando por um novo companheiro, mas enquanto eles exploram aquele lugar novo e navegam pelos desafios inesperados que podem surgir quando você é um estrangeiro em uma cultura pouco conhecida, uma surpreendente ligação cresce entre eles, de tal forma que percebem que nenhum deles era exatamente o que pensavam.”

É isso aí: um fiapo de história – mas uma história bem contada, com sensibilidade, ternura, belas atuações. Não precisa de mais nada.

Anotação em novembro de 2024

Amores Solitários/Lonely Planet

De Susannah Grant, EUA, 2024

Com Laura Dern (Katherine Loewe),

Liam Hemsworth (Owen Brophy),

e Diana Silvers (Lily Kemp), Younes Boucif (Rafih Abdo), Adriano Giannini (Ugo Jaconelli, o ex-namorado de Katherine), Rachida Brakni (Fatema Benzakour, a dona do hotel), Shosha Goren (Ada Dohan), Heeba Shah (Jesminder Malik), Jean-Erns Marie-Louise (Fabien Durosier), Gustav Dyekjær Giese (Gunnar Norgaard), Michelle Greenidge (Philippa Guscott), Francesco Martino (Luca), Tao Guo (Peng Zhao), Muhammad Abdullah Arabi (Deepak)

Argumento e roteiro Susannah Grant

Fotografia Ben Smithard

Música Pinas Toprak

Montagem Kevin Tent

Casting Jessie Frost       

Desenho de produção Annie Beauchamp   

Figurinos Wendy Chuck, Fotini Dimou

Produção Liza Chasin, Susannah Grant, Sarah Timberman, 3dot Productions.

Cor, 94 min (1h34)

***

Título em Portugal: “Mundos Solitários”. Na Espanha: “Una Aventura em Marruecos”. 

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