Agora Você é um Homem / You’re a Big Boy Now

3.0 out of 5.0 stars

Um filme que é o mais puro espírito dos anos 60, “a década que  mudou tudo”. You’re a Big Boy Now, no Brasil Agora Você é um Homem, o filme que o jovem Francis Ford Coppola escreveu e dirigiu em 1966, é exatamente como seu tempo: louco, inquieto, inquietante, alegre, colorido, psicodélico, rápido, apressado, cheio de música, irreverente, jovial, irônico.

O tema é um dos mais tradicionais da literatura e do cinema; no cinema americano, é quase um gênero, o que eles chamam de coming of age, a chegada à idade adulta, à maturidade. Como já escancaram os títulos, tanto o original quanto o brasileiro.

O protagonista se chama Bernard, tem 19 anos de idade, é filho de um milionário, I.H. Chanticleer, o diretor da Biblioteca de Nova York, que deseja que o garoto cresça logo, de uma vez, e de Margery, uma senhorazinha histericamente superprotetora que parece tratar o filhozinho único como se tivesse dois anos de idade.

Margery é interpretada pela grande, sempre maravilhosa Geraldine Page (na foto abaixo). I.H., por Rip Torn.

Nosso herói Bernard é o papel de Peter Kastner (1943-2008, nas fotos abaixo), um ator canadense então com 23 anos, mas que de fato pode se passar por um garoto de 19. Este aqui foi, sem dúvida, o melhor papel de sua carreira de 35 títulos, nenhum outro, além deste aqui, marcante, importante.

Peter Kastner faz com brilho um adolescente chegando é época de virar homem que é um tanto ingênuo, sensível, inteligente, bastante sonhador, às vezes absolutamente avoado, com imensa curiosidade e fascinação pelas mulheres – sobre as quais não sabe nada, nadica, coisa alguma.

O pai arranjou um emprego para Bernard como assistente secundário na Biblioteca – um dos rapazes encarregados basicamente de viajar de patins pelos corredores do gigantesco mundo sem fim de estantes e mais estantes à procura do livro pedido lá embaixo por um usuário.

Bernard fica absolutamente, totalmente, loucamente apaixonado por uma moça bela, atraente, com uma aura de charme e mistério, Barbara – o papel de Elizabeth Hartman, então com 23 aninhos de idade e chegando ao seu terceiro filme como a protagonista feminina e o top billing, o nome em primeiro lugar nos cartazes e nos créditos iniciais, algo pelo qual os mais veteranos e famosos astros de Hollywood sempre almejaram.

Barbara, um tanto como a garota que a interpreta, era uma jovem atriz – só que ainda em princípio de carreira, no teatro off-Broadway, anticomercial, alternativo.

Trabalha também ali na Biblioteca de Manhattan uma garota que havia sido colega de Bernard na escola – e se mostra toda interessada no rapaz. Chama-se Amy, e é interpretada por uma principiante cujo nome aparece nos créditos depois da palavra “introducing” – Karen Black, aquela maravilha, três anos antes de Easy Rider (1969), quatro anos antes de Cada Um Vive Como Quer/Five Easy Pieces (1970), dois dos filmes importantes que marcaram o início de sua carreira.

Uma garota dos sonhos, uma deusa, a princípio absolutamente inatingível – e uma garota bela, suave, com os pés no chão, ali pertinho.

Um crianção que está na hora de crescer, mas não parece estar muito interessado nesse negócio de come of age, amadurecer, virar um big boy, agora ser um homem.

A trama, o enredo, a história, o entrecho é isso aí. Como sintetizou alguém no IMDb, “pós-adolescente confuso e virgem Bernard Chanticleer se apaixona pela dançarina fria e impenetrável Barbara Darling, e depois encontra o amor verdadeiro com uma garota leal”.

Simples assim.

Mas o que importante mesmo não é a história. O que de fato importa é a forma como o jovem Francis Ford Coppola a conta.

Era o tempo de filhos x pais, do conflito de gerações

Jovem! Francis Ford Coppola era jovem demais. O sujeito tinha 27 aninhos de idade – um ano menos que Orson Welles quando fez Cidadão Kane. Ok, You’re a Big Girl Now não é ainda o Cidadão Kane de Coppola – The Godfather viria em 1972, quando ele estava com 33, e Apocalypse Now em 1979, aos 40 maduros anos de idade.

Eram todos – quase todos – jovens demais, naqueles anos 60 em que a juventude parecia querer tomar o poder no mundo todo, e ali mesmo, em Hollywood, um bando de jovens de fato se preparava para tomar o poder que havia sido dos grandes estúdios por décadas e décadas. Os jovens Steven Spielberg, George Lucas, Martin Scorsese e ele mesmo, Francis Ford Coppola.

Sim, estavam lá no elenco as respeitabilíssimas Geraldine Page e Julie Harris – esta como Mrs. Thing, a dona do predinho em Manhattan onde os pais botam Bernard para ter sua própria casa, longe da mansão familiar ao Norte do burburinho da metrópole.

Mas os papéis principais eram de Elizabeth Hartman e Peter Kastner, 23 aninhos, e Karen Black, que estava com 27 mas, de maneira fascinante, parecia ter uns 19, como sua personagem.

E o diretor não tinha chegado sequer aos 30 anos. Ainda dava para os jovens confiarem nele, de acordo com a canção dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle, “Não confie em ninguém com mais de 30 anos / Não confie em ninguém com mais de trinta cruzeiros / O professor tem mais de trinta conselhos / Mas ele tem mais de trinta, oh mais de trinta…”

Ver You’re a Big Boy Now agora, quase 60 anos depois de seu lançamento, faz lembrar essa coisa de que às vezes a gente até esquece: naquela década que, como se diz, mudou tudo, os jovens consideravam os pais quase como inimigos. Não como parceiros, mas como o outro lado. Falava-se em conflito de gerações – quase como se fosse a luta de classes do marxismo, patrões versus empregados, ricos contra pobres, os have contra os have-not.

Eram os anos de “The Times They Are a-changing”, de Bob Dylan, de “Father and Son”, de Cat Stevens. De “Com Mais de 30”…

No filme do jovem Coppola, Bernard Chanticleer, com aquela cara feiosa, perfeita para o papel, de Peter Kastner, proclama: – “Eu estive sob a custódia de meus pais por quase 20 anos. E eles não me ensinaram nada a não ser duvidar de mim mesmo, sentir frustração e culpa perpétua. De agora em diante, vou ficar sob custódia de mim mesmo.”

Fico pensando, depois de ver pela primeira vez, já velhinho, este filme de e sobre jovens feito no tempo em que eu era garoto, que de alguma forma, em algumas coisas, pelo menos, houve melhoras. Quando, passados os anos 60, Georges Moustaki escreveu sua Declaração do Estado de Felicidade Permanente, um dos itens era:

“Que nos fils soient des hommes, non pas des adultes / Et qu’ils soient ce que nous voulions être jadis. / Que nous soyons frères camarades et complices / Au lieu d’être deux générations qui s’insultent.” Que nossos filhos sejam homens, e não adultos. E que eles sejam o que um dia desejamos ser. Que nós sejamos amigos camaradas e cúmplices, em vez de ser gerações que se insultam.

Um filme cheio de fogos de artifício, sacadinhas formais

O que mais importa não é a história – é o jeito com que o filme a conta.

Pàra começo de conversa: há muitas, mas muitas sequências ao ar livre, rodadas de fato nas ruas de Nova York – e várias, várias delas, com longos travellings, são esplendorosamente belas. As tomadas de Bernard correndo de patins pelas ruas movimentadas de Manhattan são maravilhosas.

Além disso, boa parte do filme do jovem Coppola é feita de fogos de artifício, brincadeirinhas formais, joguinhos estilosos.

Tem mais fogos de artifício que o 4th of July americano, o 14 de Juillet francês, o 7 de Setembro brasileiro.

Alguns exemplos:

* A abertura do filme é uma delícia. Tomada geral do amplo, gigantesco salão de leitura de uma biblioteca – que, veremos logo, é a municipal de Nova York, em Manhattan. A câmara vai avançando para a frente, em um travelling suave, suave. Não se ouve um único som. A câmara vai indo em frente, até ficar perto da porta de entrada. A porta se abre, e surge uma moça bem moça, bem magra, longos cabelos louros, olhos claros – e irrompe junto com ela uma das várias canções que do grupo Lovin’ Spoonful que ouviremos ao longo do filme. Chama-se – se eu não estiver muito errado – “Girl, Beautiful Girl”, de John Sebastian, o vocalista e compositor de boa parte do repertório da banda.

Meu, isso é que é chegar chegando…

Linda, loura e metidérrima, cheia de si, a moça, Barbara, fura a fila das pessoas que estão para ser atendidas no balcão em que se pedem os livros. Diante da loura, o funcionário público – tsk, tsk –, em vez de repreender a infratora, a mal-educada, pega o pedido dela antes do homem que estava em primeiro lugar na fila.

O nome do livro é colocado em um recipiente que por sua vez é enfiado em um tubo – é, usava-se esse tipo de coisa nos anos 60 –, viaja pelo tubo até o andar em que se encontra aquele determinado livro. A câmara segue o recipiente pelo tubo. Lá em cima, naquele imenso andar repleto de estantes, diversos funcionários, de patins, rolam à procura dos livros pedidos pelos leitores lá embaixo.

O pedido de Barbara vai para as mãos de um sujeito feioso, de grandes óculos e um buraco grande entre os dois dentes frontais, como Ney Matogrosso, como Regina, minha ex. O fedelho, em vez de colocar o livro no elevador de livros, se curva todo, se espreme, e desce pelo elevador, diante dos protestos dos colegas. Um deles diz algo como: – “Bernard, quantas vezes já dissemos que é proibido descer no elevador de livros?”

Bernard entrega o livro para o funcionário que atende ao público. E bate o olho pela primeira em Barbara.

Tóiiiiim!!!

Paixão absoluta. Coup de foudre.

* Bernard tem mania de, diante de uma sigla qualquer, ficar imaginando significados. Diante de um W.C., por exemplo, cria diversas possibilidades. Um belo dia, no metrô, ele dá de cara com uma pixação: “Nigger, go home!” Ele olha aquilo, fica pensando… O que é nigger? O que é home? Na cabeça dele, home faz lembrar Highlands, as Highlands da Escócia. E de repente ele pensa em um grande número de pretos, vestidos à escocesa, com aquele saiote, é claro, e um deles à frente tocando a gaita de fole escocesa.

A cena do grupo de negros alegremente passeando pelo campo escocês é engraçada, gostosa de se ver…

Toda essa sequência seria nos dias de hoje altamente polêmica. Claro que haveria quem enxergasse violento racismo na coisa que é apenas uma brincadeira, na boa. Até porque a palavra nigger – que o insuspeitíssimo John Lennon usou na bela e forte canção antimachista e antirracista “Woman is the Nigger of the World” – nas últimas décadas virou o palavrão mais terrível, mais cabeludo, mais infame que pode haver.

* Bernard está andando na noite de Manhattan, na região da Times Square, onde na época (não tenho a menor idéia se continua assim) havia muitas boates de striptease, inferninhos, lojas com máquinas para voyeurs. Entra numa delas, e fica vendo um filme em que uma mulher faz poses sensuais e chama o cliente para se aproximar dela. Chega-se muito perto da máquina, a máquina pega a gravata dele e vai puxando o rapaz – como se ele estivesse atendendo ao chamado da moça sensual do filme.

Vamos vendo isso e ao mesmo tempo o filme que Bernard via, e que agora não vai para a frente, porque o projetor está engastalhado na gravata dele.

Nisso, a garota Amy, que estava passando por ali com um grupo de amigos e havia visto Bernard, entra no lugar, descola, não sei de onde, uma tesoura e zás – corta a gravata, livrando o colega da morte por asfixia diante de uma máquina de ver mulher pelada.

* Algum tempo depois disso, Amy consegue enfim que Bernard a convide para uma saída. Vão a um lugar de dança (acho que em 1966 ainda não se usava o termo discoteca… Ou já se usava?), com muita luz estroboscópica – e dá-lhe tomadas malucas, piscantes, psicodélicas. Ao saírem de lá, Amy obtém mais uma vitória – Bernard enfim dá um beijo nela. Estão na rua, na Times Square, e, enquanto o garoto é beijado pela moça linda (e suave, e doce, e boa gente, tudo ao contrário da outra), nos gigantescos anúncios e letreiros luminosos de uma das duas ou três esquinas mais famosas do mundo, vão surgindo aos borbotões a palavra Barbara, Barbara, Barbara…

Bem. Acho que ficou demonstrado o meu ponto – as invencionices, os criativóis, os fogos de artifício. Anos 60, o mais puro clima anos 60.

Naquele mesmo ano, 1966, do outro lado do Atlântico, Michelangelo Antonioni fez uma obra-prima que era o mais puro clima anos 60 na swingin’ London, o termo que era muito usado para definir a antiga capital do mundo naqueles anos de Beatles. Rolling Stones, Mary Quant e a minissaia, Twiggy, LSD e etc, etc, etc.

You’re a Big Boy Now não é uma obra-prima como o Blow-up de Antonioni. Mas, meu, é uma beleza de retrato da swingin’ New York, a cidade que virou capital do mundo depois de Londres…

Coppola fez várias adaptações que distanciam o filme do livro

O roteiro de Coppola se baseou no segundo livro do escritor e diretor teatral inglês David Benedictius (1938-2023), lançado em 1963. Eis a sinopse do livro You’re a Big Girl Now feita pela Wikipedia: “O personagem central do romance é Bernard Chanticleer, um vendedor de sapatos em uma loja de departamentos londrina da qual seu pai é gerente. Os Chanticleer vivem em um subúrbio e são rotulados como burgueses ridículos. Na loja, ele conhece uma garota, Amy, que é rejeitada pela mãe dele como ‘aquela garota terrível e descarada com pernas tão comuns’.

“Bernard, descrito por um crítico como ‘comicamente neurótico’, apaixona-se por uma atriz de teatro, Barbara Darling. Ele lhe envia um bilhete apaixonado e eles combinam de se encontrar. Barbara quer vitimizar Bernard como vingança por ter sido maltratada por homens no passado. Eventualmente, Barbara se cansa de Bernard e se casa com um decorador de vitrines. Eles têm um filho que tem uma semelhança suspeita com um dos antigos amantes de Barbara.”

Dá para ver que o roteiro fez diversas modificações na trama, como mudar a cidade de Londres para Nova York, transformar os pais de Bernard em milionários, trocar a loja de sapatos pela Biblioteca Municipal de Manhattan. No filme não existe esse decorador de vitrines e Barbara não se casa nem tem filhos.

Nada contra modificações na passagem de livro para filme, tá? Botei isso aí porque é informação que me pareceu interessante.

E interessante mesmo foi ver que, entre os comentários sobre o filme no IMDb, esse fantástico site enciclopédico que tem tudo e muito mais, há um de autoria do próprio autor do livro. O comentário de David Benedictius, a rigor, é uma propaganda de um outro livro dele… Eis alguns trechos:

“Eu escrevi o romance em que este filme foi baseado. Trabalhei em vários roteiros com Francis, e estive presente durante todas as filmagens em Nova York. Uma experiência incrível. Coppola tinha estado trabalhando durante um ano para a MGM, escrevendo roteiros para eles (ele tinha conseguido o emprego por ter vencido uma competição literária nacional), e tinha escrito o roteiro de Is Paris Burning? e Patton Lust For Glory. (…) Para detalhes completos deste que é realmente o primeiro filme de Coppola, veja meu livro de memórias Dropping Names, que está disponível a partir do meu site www.davidbenedictus.com. Ah, e trechos de Dementia 13, que Coppola filmou durante algumas semanas na Irlanda (…) foram usados várias vezes ao longo de You’re a Big Girl Now e eles me parecem muito poderosos.”

(Is Paris Burning?, de 1966, de René Clément, no Brasil é Paris Está em Chamas? Patton, de Franklin J. Schaffner, lançado em 1970, no Brasil é Patton, Rebelde ou Herói? E as cenas de Dementia 13 aparecem projetadas na sequência da boate onde estão Bernard e Amy.)

O escritor diz que este “é realmente o primeiro filme de Coppola”. É – e não é. Antes dele, o cineasta já havia dirigido um curta e quatro longa-metragens, inclusive o citado Dementia 13, de 1963, um filme de terror, que, segundo consta, mostra grande influência de Roger Corman (1926-2024). Mas esses foram filmes quase experimentais, que passaram praticamente despercebidos por público e crítica. Este aqui foi de fato o primeiro filme que teve boa exibição no circuito comercial dos Estados Unidos e do resto do mundo, o primeiro filme que de fato conta na carreira do realizador.

E aqui registro uma observação a respeito da personagem Barbara. Na sinopse do livro, a Wikipedia diz que “Barbara quer vitimizar Bernard como vingança por ter sido maltratada por homens no passado”. E no texto para o IMDb o autor do livro se refere a ela como uma mulher que odeia os homens. Eu não percebi essa característica dela no filme, de uma pessoa que odeia os homens e quer se vingar deles. O que o filme passa é de que Barbara é uma garota tontinha, bobinha, que se acha maravilhosa mas não sabe o que quer da vida – é perdidinha feito cego em tiroteio.

O filme marcou o início dos independentes, diz o IMDb

Aqui vão informações sobre o filme e sua produção, tiradas da página de Trivia sobre ele no IMDb, com pitacos meus, é claro.

* Este foi um dos primeiros filmes americanos a mostrar nudez frontal – embora rapidissimamente, quase imperceptivelmente. De qualquer forma, a tomada deve ter assustado as ligas de decência da vida porque, segundo o IMDb afirma, o filme foi um dos que levaram a indústria a criar o sistema de classificação de filmes, o que entrou em vigor no ano seguinte, 1967.

De acordo com o sistema da MPAA, a Motion Picture Association of América, os filmes são classificados como G (o equivalente à nossa censura livre), PG (os pais devem decidir se o filme pode ser visto por crianças), PG-13 (algumas cenas podem não ser apropriadas para menores de 13 anos), R (menores de 17 anos devem estar acompanhados por pais ou responsáveis) e NC-17 (proibido para menores de 17 anos).

* Este item aqui das informações do IMDb é tão opinativo, e tão assertivo, que transcrevo literalmente, entre aspas:

“Junto com A Primeira Noite de um Homem (1967), este filme marcou o início dos filmes independentes, de baixo orçamento e a alta performance do final dos anos 60, que se afastavam dos valores da produção convencional e usavam técnicas semidocumentais, e narrativa criativa, para exibir temas e filosofias dos tempos revolucionários em que foram feitos. Muitos de seus diretores viriam a ser grandes produtores e lançadores de tendências nos anos 70.”

* Embora tenha tido um orçamento pequeno para os padrões do cinema americano – US$ 800 mil –, a renda da bilheteria foi muito pequena, e deu prejuízo à produtora, a Seven Arts Picture. Em uma entrevista dois ou três anos depois do lançamento, Coppola disse que perdeu muito dinheiro com o filme. Acrescentou que havia revisto a obra pouco tempo antes: “Eu odiei aquilo”.

* A princípio, os administradores da New York Public Library não queriam concordar em ceder a biblioteca para as filmagens. Foi o então prefeito da cidade, John V. Lindsay, ansioso com a possibilidade de promover a cidade, que fez com que os administradores cedessem. Nos créditos finais, há um agradecimento a ele.

* Geraldine Page e Rip Torn, que interpretam os pais do protagonista da história, eram casados na vida real.

* Geraldine Page e Elizabeth Hartman voltariam a trabalhar juntas em 1971, em O Estranho Que Nós Amamos/The Beguiled, de Don Siegel. (A história seria refilmada com o mesmo título original, e o mesmo título brasileiro, em 2017, por… Sofia Coppola, a filha de Francis.)

Nascidas em épocas tão distantes uma da outra, Geraldine Page, de 1924, e Elizabeth Hartman, de 1943, morreram em junho de 1987, a primeira no dia 13, a segunda no dia 10. Geraldine morreu de um ataque cardíaco. Elizabeth, que sofria de depressão fazia anos, e havia abandonado a carreira em 1982, se matou.

Na mesma época, vários filmes com o mesmo tema

O Guide des Films de Jean Tulard tem um verbete curtíssimo sobre Big Boy, como o filme se chamou na França: “A passagem de um jovem para a idade adulta. Um dos primeiros filmes de Coppola, que rompe com a tradição Corman de seus filmes de horror para rodar uma obra intimista.”

Leonard Maltin deu 3,5 estrelas em 4: “Sedutor, inovador filme sobre um jovem com pais superprotetores que aprende sobre a vida com a excitante jovem atriz Hartman. Não agradará a todos, mas as atuações são maravilhosas, com Dolph Sweet hilariante como policial durão. As filmagens em Nova York aumentam a qualidade do filme também. Escrito por Coppola a partir do romance de David Benedictius. Canção título feita por The Lovin’ Spoonful. Estréia no cinema de Karen Black.”

O grande Roger Ebert deu 3 estrelas em 4 ao filme, e abre seu texto bem mais longo do que as curtíssimas avalições dos guias dizendo que já estava ficando um tanto cansado dos “filmes sobre a iniciação de jovens nas artes e ciências do amor”, depois de The Graduate, 17, Benjamin “e agora You’re a Big Boy Now”.

Uma nota antes do início do texto avisa que You’re a Big Boy Now foi lançado em 1966, “mas não foi apresentado em Chicago até 1968” – Ebert é do interior de Illinois, e radicou-se em Chicago.

Mais adiante ele realça que You’re a Big Boy Now foi o primeiro daqueles quatro filmes: “Foi feito em 1966 por Francis Ford Coppola, um garoto prodígio recém saído da UCLA (Universidade da Califórnia – Los Angeles), cujas únicas obras anteriores haviam sido quase pornôs”. (No original, Ebert usa a expressão skin flicks, que significa filmes pornográficos, ou quase.)

The Graduate, naturalmente, é a obra-prima do gênero. Mas You’re a Big Boy Now é mais gostoso do que 17 e bastante melhor do que o miserável Benjamin. Coppola se diverte ao dirigir, e seu filme é cheio de piadas visuais, performances agradáveis e uma alegre trilha sonora com The Lovin’ Spoonful”.

Vale o registro: The Graduate, claro, é o já citado A Primeira Noite de um Homem, aquela maravilha de Mike Nichols com Dustin Hoffman, Anne Bancroft e Katharine Ross. Benjamin é Benjamin, o Despertar de um Jovem Inocente/Benjamin ou Les mémoires d’um Puceau, de Michel Deville, com Michele Morgan, Michel Piccoli e Pierre Clémenti. E esse 17 não tenho idéia do que seja.

Anotação em junho de 2025

Agora Você é um Homem/You’re a Big Boy Now

De Francis Ford Coppola, EUA, 1966

Com Peter Kastner (Bernard Chanticleer),

Elizabeth Hartman (Barbara Darling),

Karen Black (Amy),

Geraldine Page (Margery Chanticleer, a mãe de Bernard), Rip Torn (I.H. Chanticleer, o pai de Bernard), Julie Harris (Miss Thing, a senhoria), Tony Bill (Raef del Grado, colega de Barnard na biblioteca), Michael Dunn (Richard Mudd, colega de elenco de Barbara), Dolph Sweet (Francis Graf, o policial do prédio de Miss Thing), Michael O’Sullivan (Kurt Doughty, o médico louco por Barbara), Ronald Colby (colega de elenco de Barbara), Rufus Harley (colega de elenco de Barbara), Frank Simpson (colega de elenco de Barbara), Nina Verella (colega de elenco de Barbara), Len De Carl (colega de elenco de Barbara)

Roteiro Francis Ford Coppola

Baseado no romance de David Benedictius

Fotografia Andrew Laszlo

Música Robert Prince

Canções de John Sebastian, com The Lovin’ Spoonful

Diretor musical Arthur Schroeck

Montagem Aram Avakian

Direção de arte Vassele Fotopoulos

Coreografia Robert Tucker

Figurinos Theoni V. Aldredge

Produção Phil Feldman, Seven Arts Productions.

Cor, 96 min (1h36)

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Título na França: “Big Boy”. Em Portugal: “A Noite é Perversa”.

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