(Disponível na Netflix em 12/2023.)
A Sexta Temporada de The Crown encerra com absoluto brilho esta que, na minha opinião, é uma das melhores séries que já foram feitas – se não a melhor de todas.
Ao longo de 60 episódios divididos em seis temporadas, que passam depressa e sempre terminam com gosto de quero mais, a série criada por Peter Morgan esquadrinha os 70 anos do reinado de uma das pessoas mais fascinantes que já pisaram na casca deste planeta, essa fantástica Elizabeth II, em um amplo painel que mistura a conturbadíssima vida pessoal da rainha e de sua família com alguns dos principais fatos da História – não apenas da Grã-Bretanha mas de todo o mundo, desde o pós-Segunda Guerra Mundial até as primeiras duas décadas do novo milênio.
Tudo, absolutamente tudo feito requinte, cuidado, bom gosto e excepcional talento.
Esta Sexta Temporada abrange o período entre 1997 e 2022, o ano do jubileu de platina da rainha, as comemorações dos 70 anos de reinado – o mais longo de um monarca britânico, deixando para trás os 63 anos da Rainha Victoria. (Nascida em 1819, Victoria reinou sobre o Império Britânico, que então ocupava quase meio mundo, da Índia ao Canadá, de 1837 até sua morte, em 1901.)
Assim, a temporada tem muita princesa Diana, um exagero de princesa Diana – mas fazer o quê? A Grã-Bretanha teve um exagero de princesa Diana. O mundo inteiro teve um exagero de princesa Diana.
Como milhões e milhões e milhões de pessoas no mundo todo, euzinho aqui, no fundo do Terceiro Mundo, acompanhei o noticiário sobre Diana Spencer, a princesa de Gales linda como a mais caprichada boneca Barbie que já houve – a princesa que o príncipe nada encantado não amava, porque amava de paixão a outra, a feiosa, a ponto de querer ser o Tampax dela. E me emocionei quase ao ponto de chorar vendo pela televisão, ao vivo, a cerimônia de adeus a ela, na Abadia de Westminster lotada, Elton John cantando e tocando ao piano a música que ele e Bernie Taupin haviam criado em homenagem a outra loura linda, Norma Jeane Mortenson. Só naquele país – que sempre admirei loucamente, desde a adolescência –, só naquela democracia civilizada seria possível, no funeral da moça que seria a futura rainha, um roqueiro assumiderrimamente homossexual, cantar uma canção escrita em homenagem a uma atriz que foi um dos maiores sex symbols da História, agora com nova letra – em vez de “goodbye, Norma Jeane”, “goodbye, English Rose”.
Vixe! Acho que me alonguei neste detalhe, mas tem a ver: o fato é que a princesa Diana foi um exagero na vida de boa parte das pessoas, e então não poderia ser diferente: há muita princesa Diana nesta Sexta Temporada.
Mas a família real, a Grã-Bretanha e o mundo vão em frente, e então também a série vai em frente a partir do episódio 4. O príncipe William – o primogênito do casamento de Charles e Diana, e portanto o futuro rei – passa a ter grande importância.
E, já que era para acabar, mesmo, o criador e roteirista principal Peter Morgan se permitiu ousadias formais que resultaram em sequências maravilhosas, lindérrimas. Em momentos especialmente belos desta última temporada da série aclamada, a princesa Diana, mortinha da silva, conversa com o marido que não a amava, e as três atrizes que interpretaram a Elizabeth quando mais jovem contracenam com a atriz que faz a rainha nas temporadas finais.
As várias encarnações anteriores de Elizabeth dialogam com a Elizabeth já bem idosa. Na mesma sequência, vemos, juntas e misturadas, Viola Prettejohn (a princesa Elizabeth adolescente em 1945), Claire Foy (a rainha Elizabeth jovem das duas primeiras temporadas), Olivia Colman (a rainha Elizabeth madura das temporadas três e quatro) e Imelda Staunton (a rainha Elizabeth idosa das temporadas cinco e seis).
Ao longo das temporadas, vários atores no mesmo papel
Viola Prettejohn, que faz Elizabeth adolescente, só aparece nesta Sexta Temporada, no episódio 8 e depois rapidamente no 10. Claire Foy, Olivia Colman e Imelda Staunton são as grandes estrelas da série.
Da mesma maneira, o príncipe Philip, o marido de Elizabeth, é representado por três atores diferentes – e também Charles, o primogênito de Elizabeth e atual rei da Grã-Bretanha, e a princesa Margaret, a irmã mais nova da rainha. Como adoro uma tabela, botei aqui os nomes dos atores que fazem os personagens centrais da história:
Primeira e Segunda Temporadas
(2016 e 2017) |
Terceira e Quarta Temporadas
(2019 e 2020) |
Quinta e Sexta Temporadas
(2022 e 2023) |
|
Rainha Elizabeth II | Claire Foy | Olivia Colman | Imelda Staunton |
Príncipe Philip | Matt Smith | Tobias Menzies | Jonathan Pryce |
Príncipe Charles | Billy Jenkins, Julian Baring | Josh O’Connor | Dominic West |
Princesa Diana | Emma Corrin | Elizabeth Debicki | |
Princesa Margaret | Vanessa Kirby | Helena Bonham Carter | Lesley Manville |
Princesa Anne | Lyla Barret-Rye | Erin Doherty | Claudia Harrison |
Camilla Parker Bowles | Emerald Fennell | Olivia Williams |
A rainha recebeu em audiência 16 primeiros-ministros!
Ao longo dos 70 anos de seu reinado, a rainha Elizabeth II conviveu com nada menos de 16 primeiros-ministros. Me dei ao trabalho de fazer mais uma tabela – com os nomes dos políticos que governaram o Reino Unido no reinado dela, e os anos em que cada um deles esteve no poder. Eis aí:
1 | Winston Churchill | Conservador
|
1951-1955 |
2 | Anthony Eden | 1955-1957 | |
3 | Harold Macmillan | 1957-1963 | |
4 | Alec Douglas-Home | 1963-1964 | |
5 | Harold Wilson | Trabalhista | 1964-1970 |
6 | Edward Heath | Conservador | 1970-1974 |
7 | Harold Wilson | Trabalhista
|
1974-1976 |
8 | James Callaghan | 1976-1979 | |
9 | Margareth Thatcher | Conservador
|
1979-1990 |
10 | John Major | 1990-1997 | |
11 | Tony Blair | Trabalhista
|
1997-2007 |
12 | Gordon Brown | 2007-2010 | |
13 | David Cameron | Conservador
|
2010-2015 |
14 | Theresa May | 2017 | |
15 | Boris Johnson | 2019-2022 | |
16 | Liz Truss | 2022 |
Um P.S.:
Isto aí acima foi escrito em dezembro de 2023, assim que Mary e eu vimos a Sexta Temporada. Era para ser apenas o início do meu comentário – mas eis que chegou a roda viva e acabei não continuando a anotação. Ao reler esse começo de texto agora – confesso sem corar de vergonha – fiquei com pena de desperdiçá-lo, e resolvi publicar como está.
Acho que só pela tabela dos primeiros-ministros britânicos ele já vale a pena.
Aqui, os links para as anotações sobre as temporadas anteriores:
The Crown – A Sexta Temporada
De Peter Morgan, criador, roteirista, Reino Unido-EUA, 2023
Direção Christian Schwochow, Stephen Daltry, May el-Toukhy, Alex Gabassi, Erik Richter Strand
Com Imelda Staunton (rainha Elizabeth II),
Dominic West (príncipe Charles),
Elizabeth Debicki (princesa Diana),
Jonathan Pryce (Philip, duque de Edinburgh),
e (em pequenas participações), Viola Prettejohn (princesa Elizabeth adolescente em 1945), Claire Foy (rainha Elizabeth jovem), Olivia Colman (rainha Elizabeth madura), Beau Gadson (princesa Margaret adolescente em 1945),
e (na realeza e seu entorno) Olivia Williams (Camila Parker Bowles), Lesley Manville (princesa Margaret), Claudia Harrison (princesa Anne), Ed McVey (príncipe William), Luther Ford (príncipe Harry), Rufus Kampa (príncipe William mais jovem), Fflyn Edwards (príncipe Harry mais jovem), Marcia Warren (a rainha mãe), Meg Bellamy (Kate Middleton), Eve Best (Carole Middleton, a mãe de Kate), Ella Bright (Kate Middleton bem jovem), Hamish Riddle (Peter Townsend jovem), Joe Edgar (Porchey jovem), Tim Bentinck (Porchey),
e (na política e no entorno) Bertie Carvel (Tony Blair), Lydia Leonard (Cherie Blair),
e (outros) Salim Daw (Mohamed Al Fayed, o milionário egício), Khalid Abdalla (Dodi Fayed, o filho de Al Fayed, namorado de Diana), Richard Rycroft (o arcebispo de Canterbury), Erin Richards (Kelly Fisher), Philippe Spall (o parisiense na cena do acidente no túnel), Enzo Cilent (Mario Brenna, o paparazzo ousado), Fores Masson (Duncan Muir, o fotógrafo apaixonado pela família real), Lorcan Cranitch (comissário da polícia metropolitana Stevens)
Roteiro Peter Morgan, Jonathan Wilson, Meriel Baistow-Clare, Daniel Marc Janes
Produção Peter Morgan, Left Bank Pictures, Sony Pictures Television Production UK, Sony Pictures Television
Cor, cerca de 500 min (8h20)
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