1976

3.5 out of 5.0 stars

(Disponível na Netflix em 11/2023.)

1976 fala da sangrenta, assassina ditadura de direita implantada no Chile em 1973 da maneira menos tonitruante, berrante, escandalosa possível. A diretora Manuela Martelli, também co-autora da história e do roteiro, escolheu o tom menor; privilegiou o subentendido, o implícito. Fugiu das obviedades, das explicitudes, como o diabo da cruz, as ditaduras dos direitos das pessoas.

Não que 1976 seja um filme tíbio, pouco firme, pouco assertivo. Não, de forma alguma – é uma obra de arte engajada, de partido tomado, que demonstra nojo, pavor, horror pela ditadura do general Augusto Pinochet Ugarte, que deixou mais de 3 mil mortos ou desaparecidos, torturou milhares de pessoas e forçou 200 mil chilenos ao exílio.

Mas é um filme que prefere o tom menor. Opta por ser retrato, e não painel. Música de câmara, e não sinfonia.

É um belo, fascinante filme.

Não há uma grande, brilhante, inesquecível fala. Nem umazinha sequer. Manuela Martelli não quis fazer um filme baseado em palavras – preferiu as imagens e os sons.

1976 só se permite realçar o drama, o pathos, na trilha sonora da compositora Mariá Portugal.

Manuela Martelli, diretora e co-autora de argumento e roteiro, ao lado de Alejandra Moffat. Trilha sonora – algo especialmente forte no filme – de Mariá Portugal. Fotografia de Soledad Rodriguez. Montagem de Camila Mercadal. Desenho de produção de Estefania Larrain. Figurinos de Pilar Calderon e Gabriela Varela Laciar.

1976 é um filme feminino.

Uma mulher apolítica, de vida confortável

De uns tempos para cá, tenho me preocupado em colocar nestes meus textos uma sinopse do filme…

“Sinopse sf resumo: sumário, síntese.” (Do meu Dicionário Unesp do Português Contemporâneo).

Gosto de relatar em detalhes algumas sequências, principalmente do início da narrativa, reunir informações, dar opiniões, minhas e dos outros, e fazer ligações com outras obras, mas às vezes – como volta e meia reclamava meu amigo Valdir Sanches, sem dizer expressamente isso, mas dizendo – faltava uma sinopse.

Gostaria de relatar detalhadamente a bela, interessante, bem bolada e bem construída sequência com que a diretora Manuela Martelli abre seu filme, mas, antes, vamos a uma sinopse. Uso a da Wikipédia como base; é um tanto extensa, mas muito boa.

Carmen (o papel da maravilhosa Aline Küppenheim), uma dona de casa na faixa dos 50 e tantos anos de classe média média para alta, tem uma vida confortável em Santiago com seu bem sucedido marido Miguel (Alejandro Goic), um respeitado médico. Os dois filhos, um homem e uma mulher, já são adultos, ele é também médico, ela deu a Carmen três netos.

No inverno de 1976, Carmen viaja com a empregada Estela (Carmen Gloria Martínez), que está com ela há muitos anos, para a casa da família no litoral, que está sendo reformada. Seu amigo padre Sánchez (Hugo Medina), o pároco da pequena cidade costeira, pede a ajuda dela para cuidar do jovem Elias (Nicolás Sepúlveda, na foto abaixo) um delinquente, segundo ele diz, que havia sido ferido e a quem o religioso havia abrigado na casa paroquial. (Para a empregada da casa paroquial, o padre Sánchez o apresentou como padre Elias.) Quando jovem, Carmen havia desejado ser médica, e havia trabalhado como auxiliar de enfermagem para a Cruz Vermelha.

Pronto, aí está a sinopse da Wikipedia, com alguns pitacos meus. Uma boa sinopse, que apresenta do que se trata o filme sem no entanto narrar nada que acontece depois da meia hora inicial. Sem spoiler.

Mas talvez uma síntese da trama que a diretora Manuela Martelli criou com a co-roteirista Alejandra Moffat pudesse ser assim:

Ao contar o encontro inesperado de uma mulher de classe média para alta com um ativista político perseguido e ferido pela ditadura de Pinochet, 1976 faz um retrato – impressionante, sensível – de como os crimes do regime podiam afetar mesmo as pessoas de vida confortável e absolutamente distantes da política.

Há aí a revelação de um fato que só é apresentado com todas as letras ali pela metade dos 95 minutos de duração do filme. Mas, a rigor, a rigor, não chega a ser um spoiler. Não acredito que haja espectador que não perceba, desde o início, que o jovem Elias que o bom padre Sánchez está abrigando e escondendo é um ativista anti-ditadura.

Uma abertura absolutamente brilhante

É importante realçar que Carmen era uma mulher absolutamente apolítica.

A primeira sequência do filme mostra isso – e é uma sequência, repito, bem bolada e bem construída.

Uma senhora está numa loja de tintas, que tem uma espécie de ateliê em que os funcionários misturam cores para obter o tom exato de cor desejada pelo cliente. A senhora – que, claro, é Carmen, a protagonista da história – levou para mostrar para o profissional um livrinho, um guia turístico com fotos de paisagens diversas; em algumas das fotos há o tom exato de cor-de-rosa que ela deseja.

A tomada é longa, e em close-up. A câmara da diretora de fotografia Soledad Rodríguez está colocada acima do livreto aberto nas mãos de Carmen – é um close-up em plongée. Não vemos o rosto dela – apenas suas mãos, que seguram o livreto, e um pequeno pedaço de uma das pernas; entre o indicador e o dedo do meio da mão direita há um cigarro aceso. Veremos que Carmen é uma fumante tipo chaminé, está sempre com um cigarro nas mãos ou na boca.

Ela acha a foto com o exato tom de rosa que deseja na tinta – a ser usada, veremos, na sua casa de praia –, mostra para o profissional. Ele exibe para ela uma pequena amostra de como está a tinta em um pequeno pedaço de madeira, algo que parece um palito de picolé. Ela aprova, mas diz que talvez faltasse um pouquinho mais de azul.

A câmara até então estava parada. Nesse momento, ela se movimenta suavemente para o lado esquerdo, onde está uma bacia com a tinta que o profissional prepara. Não há corte, é a mesma tomada. Em primeiro plano vemos agora a bacia com tinta rosa e uma pequena caneca com um pouquinho de tinta azul a ser misturada ali. Como é um plongée, a câmara voltada para baixo, vemos, à direita da tela, em segundo plano, a parte de baixo das pernas de Carmen, e principalmente seus sapatos. Sapatos finos, de couro liso, azul marinho, brilhante, bem engraxado, de salto alto – mas não altíssimo. Salto de senhora.

A câmara se move suavemente ainda mais para a esquerda, e passa a focalizar toda a bacia com a tinta, que está sendo mexida com um instrumento elétrico segurado pelo profissional, algo como uma batedeira de bolo. Vemos a tinta azul cair na bacia de tinta rosa, a batedeira fazendo seu serviço e tornando o rosa um pouquinho mais forte.

A câmara continua mostrando a bacia, não houve ainda corte algum, é a mesma tomada, a primeira do filme – mas passamos a ouvir ruídos e gritos vindos da rua.

– “Aquela ali! A de casaco vermelho!”

– “Me solta!”

– “Calada!”

– “Sou Marcela Ulloa”, grita a mulher que está sendo presa.

Já haviam se passado três anos do golpe militar que derrubara o presidente eleito democraticamente, e ainda continuavam a ser feitas prisões arbitrárias, no meio das ruas – e as pessoas gritavam seu nome para que alguém ouvisse e fosse testemunha.

Ouvimos o barulhinho de bolhas explodindo na bacia de tinta, e, vindo da rua, o ruído de carro acelerando e saindo dali.

Há então, e só então, o primeiro corte. A segunda tomada de 1976 é o close-up da ponta daquela madeirinha tipo palito de sorvete, com tinta cor-de-rosa, que certamente Carmen ficara segurando. Cai um pingo da tinta; corta, e a terceira tomada do filme é um terceiro close-up, desta vez do pé direito do sapato caro, elegante, bem cuidado, onde agora repousam quatro gotas de tinta rosa, duas grandes, outras duas mínimas.

Há novo corte, e aí, em um plano de conjunto, vemos pela primeira vez o ambiente em que estamos, e pela primeira vez Carmen de corpo inteiro. Há outras pessoas, na loja-oficina. Todos, menos Carmen, olham para o lado de fora, em direção à rua.

– “O que aconteceu?” – ela pergunta para o funcionário que a atendia, como se não tivesse ouvido o que todo mundo havia ouvido, como se não soubesse que em seu país havia três anos que as pessoas vinham sendo presas nas ruas, a qualquer hora do dia ou da noite.

O funcionário só consegue dizer: – “Foi na rua”.

As pessoas fazem comentários. Um homem diz que “esses tipos não se cansam; já deveriam ter entendido”. Uma mulher comenta que foi a terceira vez naquela mesma semana, ali naquela rua. Carmen se levanta da cadeira, caminha em direção à porta da loja. Um funcionário vai até a calçada e baixa a porta externa, de ferro. Há uma primeira tomada do rosto de Carmen-Aline Küppenheim. Uma mulher bonita, elegante, bem cuidada. Uma burguesa. Uma representante das classes dominantes – aquelas que, em boa parte, foram, ao menos em princípio, favoráveis ao golpe, à deposição do governo socialista.

Carmen sai da loja de tintas juntamente com o funcionário, que coloca no porta-malas do belo carro da mulher duas latas da tinta preparada especialmente para uma parede da sala da casa de praia. Antes de abrir a porta do carro, ela vê que embaixo dele há um sapato de mulher – seguramente um pé do sapato da mulher que foi presa pelos soldados da ditadura.

De novo um close-up em plongée: o sapato caro de Carmen em que caíram as gotas de tinta rosa remexem no sapato claramente, nitidamente mais barato da mulher que foi presa por suspeita de ser comunista, ou socialista, esquerdista, ou qualquer coisa desse tipo.

Corta, e surgem, imensos, ocupando quase todo o espaço na tela negra, os números 1, 9, 7, 6, em branco – e, pouco a pouco, vai caindo sobre eles um tom muito escuro de rosa. Quase vermelho sangue.

Nos close-ups, detalhes que revelam muito

Meu Deus do céu e também da Terra, que brilhante abertura!

Revi algumas vezes a abertura agora, no momento em que escrevo, para perceber todos os detalhes e tentar não errar no relato, na descrição. Eu tinha achado muito boa a forma que a diretora Manuela Martelli escolheu para iniciar seu filme, mas, meu… Rever e rever e rever dá um prazer imenso. É uma maravilha! Que talento!

É a tal coisa: forma e conteúdo andando juntos, lado a lado, de mãos dadas. A opção pelo close-up, pelos detalhes – pequeninos detalhes que revelam as coisas grandes. Os close-ups amplificam a importância dos detalhes, retratam a realidade. O tipo de sapato, a roupa, o colar de pérolas, a atenção ao tom exato da cor – tudo ali escancara a posição social da mulher. O fato de que ela não percebe o que havia acontecido na rua mostra nitidamente que ela não é bem informada sobre política, não liga nada para aquilo.

É uma burguesa, é das classes dominantes – mas não é uma apoiadora do golpe. Simplesmente não liga para aquilo.

Me lembrei de Missing, o maravilhoso filme do Senhor Cinema Político, Constantin Costa-Gavras, de 1982, nove anos, portanto, após o golpe que derrubou o governo socialista de Salvador Allende, sobre um empresário americano pouco interessado em política – interpretado por Jack Lemmon, aquele comediante que era um monstro nos dramas – cujo filho desaparece no Chile, e viaja para Santiago para tentar descobrir o que aconteceu com ele.

Faz muitos anos que revi Missing pela última vez, mas tenho clara na memória (xi, será que posso confiar?) uma sequência em que, em um restaurante caro, fino, chique, as pessoas aplaudem a passagem de um grupo de soldados. Os muito ricos, o empresariado, a alta burguesia combatiam o governo Allende com firmeza – como assim, dividir a renda, as riquezas? E aplaudia o golpe, por mais sangrento que tivesse sido.

Tudo, em 1976, mostra que Carmen – ao contrário dos ricos mostrados em uma sequência impressionante do filme de Costa-Gavras – não aplaudia o golpe. Nem era a favor, nem contra. Era – é preciso repetir a palavra – uma pessoa apolítica.

Uma mulher burguesa, sim – mas não uma dondoca boba

Os bons filmes conseguem compor muito bem seus personagens, e nos apresentá-los como pessoas ás

reais, de carne e osso, de corações e mentes. Pessoas tridimensionais, como costumam dizer críticos americanos e ingleses. Pessoas que a gente percebe como parecidas com alguém que a gente conhece bem.

1976 é assim.

Cada um de nós identificará Carmen como parecida com alguém que conhecemos. Aquela prima meio distante, a cunhada daquele grande amigo.

Aquele iniciozinho que relatei detalhadamente (até demais) mostra uma mulher com um jeitão de dondoca. O que vem depois desmente essa primeira impressão.

O fato de o padre Sánchez confiar nela, ser bem próximo dela, demonstra nitidamente que Carmen não é uma dondoca, uma mulher fútil, voltada única e exclusivamente para seu próprio umbigo.

Pelo que vamos percebendo dela ao longo do filme, Carmen, como tantas e tantas e tantas mulheres de sua geração e das que vieram antes dela – e tantas das que vieram depois também –, foi levada pela vida a virar dona de casa. Esposa e mãe – a vida dedicada a cuidar do marido e dos filhos.

Uma hora lá, em que toda a família está reunida, todos vindos de Santiago para a casa da praia – a filha com as filhas, o filho – alguém fala que Carmen está aposentada, e a filha dela diz uma coisa agressiva tipo “mas aposentada de quê, se nunca trabalhou?” E Carmen responde suavemente: – “Aposentada depois que vocês saíram de casa”.

Antes de casar, havia trabalhado na Cruz Vermelha, havia sonhado em ser médica, como já foi dito. Mas eis que chega a roda-viva e carrega o que a gente sonhou e planejou pra lá – e a mulher vira dona de casa.

Há quem tenha feito paralelo entre Carmen-Aline Küppenheim e a Alicia-Norma Aleandro de A História Oficial (1985), de Luis Puenzo. No filme argentino que deu o Oscar a Norma Aleandro, Alicia, a protagonista, apesar de dar aulas em um colégio particular, é, como eu anotei na época em que escrevi sobre o filme, “uma burguesa acomodada, alienada, distante da realidade de seu país”.

Carmen parece distante da realidade de seu país, é verdade. Mas não é uma dondoca. Faz um trabalho social na cidadezinha litorânea em que tem casa. Lê para cegos. Está sempre pronta para ajudar o padre – que, o filme deixa muito claro, é do tipo sério, bom, abnegado, um verdadeiro cristão.

E Carmen se dispõe de imediato, sem pestanejar, a cuidar da ferida do jovem que o padre protege.

Carmen é burguesa, é apolítica – mas não é idiota. Ela logo percebe que, diferentemente do que o padre Sánchez havia dito – cometendo o pecado da mentira –, o rapaz Elías não é um delinquente comum.

Carmen tem algo da avó da diretora 

Quase ao final dos longos créditos finais, em letras pequenas, quando a imensa maior parte dos espectadores já parou de prestar atenção, há uma dedicatória.

Cacete, eu adoro filmes com dedicatória. Comprovam que o cinema, produto de uma indústria, elaborado por centenas e centenas de profissionais, também é, ou pode ser, pessoal, autoral – como defendiam os jovens críticos franceses do Cahiers du Cinéma nos anos 1950.

Diz a dedicatória da autora do filme: “a Idolia y a las mujeres de mi família, intrépidas como mi abuela Nonie.”

A diretora e co-roteirista Manuela Martelli nasceu em Santiago em 1983, dez anos após o golpe militar. Ela só conheceu sua avó materna através das histórias contadas pela família e por filmes caseiros. Diz a Wikipedia em inglês no verbete sobre 1976: “O filme se passa em 1976, o ano em que sua avó morreu, e ela queria explorar as experiências que contavam a história de uma diferente realidade através dos vídeos da família feitos em uma câmara de Super-8.”

Não há detalhes sobre o quanto da personagem central do filme tem da avó de Manuela Martelli, mas a dedicatória do filme e o fato de o próprio ano da ação ser o ano da morte dela indicam que sim, alguma coisa da abuelita há nessa Carmen maravilhosamente interpretada por Aline Küppenheim.

De 1983! Estava, portanto, com apenas 39 quando dirigiu o filme – e foi sua estréia na direção! É incrível isso, porque o filme parece sem dúvida alguma ter sido feito por um profissional maduro, experiente.

A experiência que Manuela Martelli (na foto abaixo) tinha era de atriz. Tem 20 títulos em sua filmografia; estreou aos 20 anos de idade, em 2003, já no papel principal de B-Happy, um filme sobre uma jovem de família desajustada que tem que se prover sozinha. Em 2004 trabalhou em Machuca, filme importante, grande sucesso de crítica, 12 prêmios.

As coincidências que não são propriamente coincidências. Estava também no elenco de Machuca a então já experiente Aline Küppenheim, que Manuela viria a dirigir neste belo 1976. E o diretor do filme era Andrés Woods, um dos produtores desta estréia de Manuela na direção.

         A trilha sonora, forte, experimental, é de uma brasileira

Dizer que Aline Küppenheim está para o Chile assim como Fernanda Montenegro para o Brasil e Norma Aleandro para a Argentina seria muita pretensão, porque não tenho conhecimento para tal. Mas ela tem uma carreira cheia de prêmios no teatro, na TV e no cinema chilenos, e, pelo que se informa, é respeitadíssima em seu país.

É uma chilena nascida em Barcelona, Espanha, em 1969, filha de pai francês e mãe espanhola, ambos artesãos. Viajou muito na infância – os pais passaram por vários países europeus nos anos 70. Mas no início dos anos 80 já estavam radicados no Chile.

Sua filmografia tinha 46 filmes e/ou séries em 2023. Entre eles estão, além de Machuca, a elogiada série Prófugos (2011-2013), da HBO, e o vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro Uma Mulher Fantástica (2017).

Por sua interpretação de Carmen, Aline Küppenheim levou o prêmio de melhor atriz no Festival Internacional de Tóquio.

1976 teve bela carreira nos festivais mundo afora. Estreou em maio de 2022 na prestigiosa Quinzaine des Realisateurs do Festival de Cannes, e depois passou pelos de Melbourne, San Sebastián, Hamburgo, Chicago, Tóquio, Palm Springs.

Esta anotação já está grande demais até para os meus padrões, mas é preciso fazer um registro sobre a trilha sonora.

É uma característica fantástica do filme. 1976, como já enfatizei bastante é (quase) todo em tom menor – com a exceção da trilha sonora. Em vários momentos, a trilha dá gritos, quase literalmente. A compositora Mariá Portugal usa acordes fortes, violentos. Usa muito o som de sintetizadores, e é uma coisa pouco melódica, estranha, um tanto experimental.

Assim, a trilha acaba fazendo um contraste fortíssimo com todo o resto do filme, que é suave, manso.

Jamais tinha ouvido falar em Mariá Portugal.

Como volta e meia diz a Mary, a gente não sabe coisa alguma.

Mariá Portugal não é portuguesa nem chilena – é paulistana da classe de 1984; baterista, cantora e compositora, é graduada pela Unesp e mestre pela PUC-SP, segundo informa a Wikipedia: “Ao longo dos seus mais de 20 anos de atuação na música brasileira, Portugal estabeleceu parcerias com Arrigo Barnabé, Fernanda Takai, Elza Soares e Metá Metá, sendo uma das fundadoras do Quartabê (grupo formado por ela, Maria Beraldo, Joana Queiroz e Chicão Montorfano). A trajetória da artista permitiu que ela se tornasse um expoente da cena paulistana de música experimental. Durante os anos 2010, Portugal inseriu-se na cena musical internacional através de parcerias com músicos europeus. Em 2020, ela foi honrada como a 13ª Improvisadora em Residência do Festival Moers, na Alemanha, país para qual se mudou.”

A gente não sabe quase nada. Mas sei que 1976 é um belo filme.

Anotação em novembro de 2023

1976

De Manuela Martelli, Chile-Argentina-Catar, 2022

Com Aline Küppenheim (Carmen),

e Nicolás Sepúlveda (Elías, o rapaz ferido), Hugo Medina (Padre Sánchez), Alejandro Goic (Miguel, o marido de Carmen), Carmen Gloria Martínez (Estela, a empregada), Antonia Zegers (Raquel), Marcial Tagle (Osvaldo), Amalia Kassai (Leonor), Gabriel Urzúa (Tomás), Luis Cerda (Pedro), Ana Clara Delfino (Clara), Elena Delfino (Elena), Salvador Guenel (Andrés), Vilma M. Verdejo (Julita, a empregada do padre), Mauricio Pesutic (Eugenio), Yasna Ríos (Silvia), Francisco Ossa (Padre Rafael), Elvis Fuentes (Humberto), Mora Recalde (enfermeira)m Graciela Tenenbaum (Sonia)

Argumento e roteiro Manuela Martelli, Alejandra Moffat

Fotografia Soledad Rodríguez

Música Mariá Portugal  

Montagem Camila Mercadal   

Casting Manuela Martelli, Sebastián Videla

Desenho Figurinos Pilar Calderon, Gabriela Varela Laciar      

Na Netflix. Produção Alejandra Garcia, Juan Pablo Gugliotta, Dominga Sotomayor, Nathalia Videla Peña, Andrés Wood, Omar Zúñiga. Cinestación, Magma Cine, Wood Producciones.

Cor, 95 min (1h35)

***1/2

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