Plano Quase Perfeito / Dræberne fra Nibe

0.5 out of 5.0 stars

É tão baixo o nível de Plano Quase Perfeito, produção 2017 da rica Dinamarca, que o filme tenta fazer graça com a dificuldade de um gago. E boa parte das piadas que ele tenta produzir se baseiam naqueles estereótipos sobre nacionalidades, lugar de origem.

Sabe aquela coisa ginasiana de que italianos gesticulam demais, falam alto demais, e portugueses são burros, e franceses são frescos, e cariocas são malandros, e baianos preguiçosos?

Pois é: em Plano Quase Perfeito, há um assassino de aluguel russo que bebe sem parar, e uma assassina de aluguel inglesa que é toda absolutamente certinha, organizada, determinada e acha que o corpo humano é uma coisa feia.

A ação se passa numa cidadezinha chamada Nibe, que, vejo no mapa, fica bem no Norte do pequeno país, junto de um braço de mar entre o Báltico e o Mar do Norte, bem distante de Copenhagen. Menciono isso porque se fala o nome da cidadezinha diversas vezes, como se fosse sinônimo de lugar muito pequeno, muito longe de tudo, isolado do mundo. O título original tem o nome da cidade: Dræberne fra Nibe, e significa, parece, matanças em Nibe. O título em inglês foi Small Town Killers, assassinos de cidade pequena.

É possível que o diretor da porcaria, Ole Bornedal, ele também autor do argumento e do roteiro, tenha se inspirado em Fargo (1996) Coitados dos irmãos Coen, eles não têm culpa.

Dois amigos querem se livrar de suas mulheres

É assim: dois grandes amigos, sócios e únicos trabalhadores de uma pequeníssima empresa de construção, reforma e conserto de imóveis, estão tendo problemas com suas mulheres.

Ib (Nicolas Bro) é gordão, usa rabo de cavalo, só pensa em sexo – mas Gritt (Mia Lyhne), belo rosto, baixinha, mignonzinha, não quer saber de dar para ele.

Edward (Ulrich Thomsen) é magro, cabelo mais curto, pensa bastante em sexo – mas Ingrid (Lene Maria Christensen), belo rosto, um pouco mais cheia que Gritt, não quer saber de dar para ele.

Ib e Edward estão numa situação material bastante confortável. Como fazem preço um pouco mais baixo para serviços não declarados ao Fisco, têm oficialmente um lucro anual pequeno – mas, por fora, por baixo do pano, em dinheiro não oficial, estão muito bem.

Quem disse que só tem malandro no Rio de Janeiro, no Brasil?

Cada um tem uma bela casa construída pelos dois, belos carros. É verdade que trabalham bastante – enquanto as mulheres não fazem coisa alguma produtiva, são duas dondocas cuja maior diversão na vida é aprender a dançar salsa num ginásio da pequena cidade com um professor sueco, Malte (Joel Spira), que elas até acham atraente, mas, naturalmente, é gay.

Ib e Edward decidem, então, se divorciar das dondocas. Consultam um advogado – e ficam sabendo que o divórcio lhes custará fortunas.

Numa noite em que estão absolutamente bêbados, pensam numa saída mais barata: contratar um assassino de aluguel e ficar livres, os dois, de suas mulheres.

Bêbado feito um gambá, Edward contrata os serviços de um russo que encontra na internet. O russo aparece em seguida, Igor (Marcin Dorocinski), um sujeito que consegue beber mais que eu e todos os jornalistas que conheço juntos!

Gritt e Ingrid ficarão sabendo que os maridos contrataram Igor, e então contratam Miss Nippleworthy.

Tem comédia baixo nível em tudo quanto é país

Cinema ruim, comédia baixo nível, que se diz “popular” mas na verdade é apenas idiota, isso há em tudo quanto é país. Nos últimos anos, vi uma pérola dessas vinda da Alemanha, a terra de Fritz Lang, Rainer Werner Fassbinder e Wim Wenders, entre tantos outros, e outra vinda da França, a pátria de François Truffaut, Jean Renoir e Alain Resnais, entre tantos outros.

Carl Dreyer deve ter se revirado no túmulo ao ver este Dræberne fra Nibe.

Se é que ele viu. Não deve ter perdido tempo com esta bobagem. Não precisa: frequentador assíduo da Cinemateca do Céu, Dreyer não tem site sobre filmes.

Anotação em dezembro de 2018

Plano Quase Perfeito/Dræberne fra Nibe

De Ole Bornedal, Dinamarca, 2017

Com Nicolas Bro (Ib), Ulrich Thomsen (Edward), Mia Lyhne (Gritt), Lene Maria Christensen (Ingrid), Marcin Dorocinski (Igor Ladpolny, o assassino russo), Gwen Taylor (Miss Nippleworthy, a assassina inglesa), Søren Malling (Heinz, o policial), Birthe Neumann (a terapeuta de casais), Ole Thestrup (o advogado de divórcio), Elsebeth Steentoft (Fru Hansen), Joel Spira (Malte), Jens Andersen (Bent), Alexander Behrang Keshtkar (o chofer de táxi)

Argumento e roteiro Ole Bornedal

Fotografia Dan Laustsen e Linda Wassberg

Música Joachim Holbek

Montagem My Thordal

Casting Djamila Hansen

Produção Miso Film, 4Fiction, Nordisk Film,

Danmarks Radio.

Cor, 90 min (1h30)

1/2

Título em inglês: Small Town Killers.

2 Comentários para “Plano Quase Perfeito / Dræberne fra Nibe”

  1. Esse Sérgio Vaz é muito mal humorado, o filme mostra de forma cômica a desgraça e a dor da condição humana.
    Sabe “seo” Sérgio, os caminhos pra encontrar a Felicidade são exatamente assim mesmo, lá em Nibe, na França, em Londres, New York ou Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia.
    Somos todos caricaturas feitas por Deus pois Ele sabe que a dor é grande.
    Por favor não critique tão negativamente o trabalho que aquelas pessoas tiveram pra fazer todo um trabalho com um assunto muito difícil e triste apenas pra me entreter e me fazer pensar… pois o filme é igual aquelas tragédias das óperas mas com tanto talento que me fez rir.
    Repense se. SERGIO.

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