Essa Loura Vale um Milhão / Bells Are Ringing

3.5 out of 5.0 stars

A trama da comédia musical Essa Loura Vale um Milhão, no original Bells Are Ringing, de 1960, é uma absoluta delícia, cheia de boas idéias piadas gostosas, inclui uma gozação do meio artístico de Nova York e uma sensacional quadrilha fora-da-lei operando como se fosse uma gravadora de música erudita – mas parte de um ponto absolutamente incompreensível para as novas gerações.

O ponto de partida da trama – criada pela brilhante dupla Betty Comden & Adolph Green, autora do roteiro de Cantando na Chuva (1952) – é que, em Nova York, a maior metrópole americana, um grupo de mulheres criou um serviço de atendimento telefônico, o Susananswerphone – a justaposição do nome Susan com answer, resposta, e phone, que as legendas traduziram espertamente por Susanotarrecados.

Como assim?, perguntariam, perplexos, atônitos, os espectadores que nasceram, digamos, de 1990 para cá. Um serviço para atender às chamadas telefônicas? Um serviço para anotar recados?

Pois é. Difícil compreender um mundo sem telefones celulares e sem secretárias eletrônicas – que um brasileiro mal informado uma vez traduziu para o inglês como electronic secretaries, em vez de answering machines.

Mas eis aí: a base da trama de Bells Are Ringing – grande sucesso de público e crítica na Broadway, transposta para o cinema com a mesma estrela da peça, a excelente Judy Holliday, e vários outros atores da montagem original– é a empresa de atendimento telefônico Susananswerphone, Susanotarrecados.

O filme começa com uma bela peça publicitárisa do serviço de atendimento telefônico

O filme começa com o que poderia ser um belíssimo anúncio do Susanswerphone – se por acaso ele fosse uma grande empresa, capaz de pagar pelo custo de uma peça de propaganda tão bem feita.

Vemos, em várias tomadas rápidas, diversos aparelhos de telefone – aqueles que eram modernos, novinhos em folha no início dos anos 60, a bolota giratória com os números, o telefone propriamente dito pousado em cima dos dois pinos que ligavam e desligavam o equipamento. A voz empostada de um locutor (e como eram empostadas as vozes dos locutores!) começa: – “Senhoras e senhores, isso já aconteceu com vocês?”

E vemos uma moça bonita acabando de fechar a porta de sua casa e ouvindo o telefone tocar lá dentro. Ela procura a chave dentro da bolsa; quando finalmente encontra a chave, abre a porta e corre para atender – o telefone parou de tocar!

Outra moça está arrumando a sala de casa; está o maior, o mais absoluto caos, e o telefone toca. Ela procura o telefone, procura o telefone, procura o telefone mas, quando finalmente encontra, ele parou de tocar.

Uma terceira moça está no chuveiro quando o telefone toca. Ela se enrola na toalha, corre para a sala, mas, quando chega perto do aparelho…

O locutor: – “Essas jovens perderam chamadas telefônicas importantes. Não deixem que isso se repita!”

Uma das moças, uma loura, olha para a câmara, portanto para o espectador, para o locutor, com aquela expressão de loura-burra, piscando muito, e pergunta: – “O que podemos fazer?”

– “Contratem um serviço de recados.”

– “Serviço de recados?”

– “Um serviço de recados – explica o locutor – atende suas chamadas quando você não está, dá e anota recados, e entra em contato com você onde quer que você esteja. No East Side de Nova York, as pessoas mais inteligentes usam Susanotarrecados.”

Vemos na tela um desenho, uma ilustração daquelas de propagandas do início dos anos 60, mostrando uma dúzia de funcionários diante de mesas com telefones, como se a Susanotarrecados fosse assim uma grande, rica, organizada empresa. É uma propaganda escandalosamente enganosa; o Conar americano seguramente daria uma multa milionária à Susanotarrecados se ela divulgasse aquele anúncio.

– “Eis o que ela pode fazer para você:”

Vemos a primeira moça, e uma voz de secretária esperta, educada, diz: – “Enquanto você não estava, a agência ligou. O emprego é seu!”

Vemos a segunda moça, e a voz treinada informa a ela: – “Enquanto você estava fora, seu advogado ligou. Seu tio deixou tudo para você!”

A terceira moça ouve o seguinte: – “Enquanto você estava fora, ele ligou e mandou dizer que quer casar com você.”

Volta a voz do locutor: – “Una-se à elite de Nova York. Use Susanotarrecados. Nossos escritório luxoosos têm charme, elegância, confiabilidade, bom gosto e glamour.”

A Susanotarrecados tem três moças que atendem aos telefones dos clientes

Uau! Beleza de abertura de uma comédia musical – e uma beleza de apresentação para o espectador de 1960 do que era o então inovador serviço de atendimento telefônico.

Enquanto o locutor ainda falava as frases finais do anúncio, o espectador já via na tela um carteiro se encaminhando para uma casa situada no térreo de um prédio de uns 3 andares – uma daquelas casas de térreo um pouco abaixo do nível da rua, quase um sótão. A grande empresa Susanotarrecados anunciada na introdução do filme é, na realidade, uma firminha familiar, que funciona ali no apartamento da Susan que dá o nome da empresa, Sue para os íntimos (o papel de Jean Stapleton).

A equipe, toda a equipe da Susanotarrecados é composta por três mulheres: Sue, sua amiga Gwynne (Ruth Storey) e sua prima Ella Petersen.

Ella é a protagonista da história – e o papel da maravilhosa Judy Holliday.

Grandes roteiristas, grande diretor, grande produtores, grandes canções

Bells Are Ringing é uma delícia de comédia musical, uma  maravilha de divertissement. Tem, como disse na abertura do texto, uma trama divertida, gostosa, rica – a dupla Betty Comden & Adolph Green era de fato excepcional.

Só o fato de terem sido eles os autores da história e do roteiro de Cantando na Chuva já seria o suficiente, mas Comden & Green são também os autores da peça On the Town e do roteiro da adaptação para o cinema, Um Dia em Nova York (1949). Do roteiro de Dançando nas Nuvens/It’s Always Fair Weather (1955). Da história de A Roda da Fortuna/The Band Wagon (1953). Nada menos que quatro dos melhores musicais de Hollywood nos anos dourados.

É deles também o roteiro da deliciosa comédia–fantasia-sátira A Senhora e Seus Dois Maridos/What a Way to Go (1964) – e o fato de eles serem os autores do roteiro explica bem a presença de Gene Kelly no filme, e o personagem que ele representa, um dançarino-coreógrafo-ator de cinema muito parecido com o próprio Gene Kelly.

O nome do diretor que assina este Bells Are Ringing também já é, por si, garantia de bons serviços prestados: Vincente Minnelli foi um dos grandes realizadores americanos dos anos 40 a 60, e um dos mais refinados diretores de musicais.

O nome do produtor Arthur Freed é tão prestigioso quanto o de Minnelli e os de Comden & Green. Compositor, escritor, mas sobretudo produtor, Arthur Freed (1894-1973) assinou a produção de mais de 50 filmes, entre algumas das maiores pérolas do filmusical: Núpcias Reais (1951), O Barco das Ilusões (1951), Sinfonia de Paris (1951), Cantando na Chuva (1952), A Lenda dos Beijos Perdidos (1954), Meias de Seda (1957). Gigi (1958).

Há várias belas canções, todas de autoria de Julie Styne (melodias) e da dupla Comden & Green (letras): Foram compostas especificamente para a peça, mas várias delas, como “It’s a Perfect Relationship”, “Just in Time”, “Better than a Dream”, têm vida independentemente do libreto.

Duas delas são muito específicas para a trama, e têm letras inteligentíssimas, brilhantes: “It’s a Simple Little System”, sobre o uso do serviço de recados para recolher apostas em corridas de cavalos – ilegais em Nova York – como se fossem encomendas de discos de música erudita, e “Drop That Name”, cantada numa festa de gente do show business de Nova York, que se pretende muito refinada, intelectualizada, e vai citando os nomes de dezenas de escritores, pintores, atores, gente do meio artístico. O barato é que, entre os nomes que são falados estão Vincente Minnelli e Arthur Freed – e a canção já era assim no teatro, bem antes de haver a versão cinematográfica dirigida por um e produzida por outro.

Entre as canções, há uma que se tornaria clássica, uma maravilha, uma pérola, “The Party is Over”.

Uma loura diante das dezenas de fios que saem de um aparelho de PBX

Um astro de Hollywood, no topo da fama na época, foi escalado para o principal papel masculino, o do dramaturgo Jeffrey Moss, que na Broadway havia sido de Sydney Chaplin, – e Dean Martin, com aquele seu ar entre o eterno bonachão, bon-vivant, non-challant e o grande canastrão, parece ter nascido para interpretar o papel.

E então Bells Are Ringing tem ótima trama, bela trilha sonora, ótimas canções, um Dean Martin ótimo, grandes atores levando para as telas os personagens que haviam feito sucesso na Broadway, tudo sob a batuta de um mestre, com produção primorosa de outro mestre.

Mas o melhor de tudo é Judy Holliday.

A primeira sequência em que ela aparece já valeria todo o filme. É um show, uma maravilha, um momento antológica.

Naquele inicinho de filme, o espectador acabou, então, de ouvir o locutor explicar o que é o serviço de recados telefônicos. O espectador vê que a Susanswerphone – que era anunciada como uma grande companhia com dezenas de funcionários em escritório altamente profissional – na verdade funciona num quase sótão de um predinho de três andares, porque o carteiro está descendo as escadas para entregar a correspondência ali, e há uma plaquinha com o nome da empresa.

E então a câmara entra na casa de Sue.

É verão, faz calor naquele primeiro andar-quase sótão do Brooklyn, e uma das três únicas funcionárias da Susanotarrecados, Gwynne, anda pela ampla sala tentando se refrescar como pode. Pára diante do ventilador, levanta um pouco a saia para que o ventinho penetre entre as pernas. Abre o botão de cima da blusa, e balança a blusa como se ela fosse um leque – mas os movimentos de Gwyne estão tão longe de serem sensuais quanto de serem os de uma funcionária exemplar de uma grande companhia em pleno local de trabalho.

É bem a imagem de um lugar esculachado mesmo. Esculachado, sem charme algum,

Mas não é Gwynne que interessa. Quem interessa é a mulher que está trabalhando diante de um pequeno aparelho de PBX do final de anos 50, início de 60. Quem não viveu naquelas eras não verá uma dessas pérolas. Eu vivi, e então eu vi: havia um deles na loja de ferramentas da Rua Florêncio de Abreu em que me vi trabalhando quando cheguei a São Paulo, em 1968, sem um tostão, sem diploma, sem lenço sem documento. Havia uma delas, maior e mais sofisticada que a da Florêncio de Abreu, na salinha das telefonistas da S.A. O Estado de S. Paulo, que ficava na entrada da redação do Jornal da Tarde no sexto andar do prédio da Rua Major Quedinho.

Vixe… Viajei longe ao falar do aparelho de PBX porque ele me fez lembrar os da minha vida, mas não é ele que interessa, que importa – é a mulher que está diante dele, operando aquele número incrível de fios que se enfiam em buraquinhos e dessa maneira conectam vozes distantes.

Ao longo de três minutos, Judy Holliday dá um show fantástico diante do PBX

Nessa primeira sequência em que aparece, Ella Peterson-Judy Holliday atende, ao longo de deliciosos, antológicos 3 minutos, os mais diversos telefonemas. Entre eles:

* de alguém que quer falar com a residência da Sra. Van Renssalaer;

* da Sra. Mallet, que pergunta por Papai Noel; Ella-Judy então faz voz de Papai Noel, chama Junior ao telefone e diz que ele pre-ci-sa passar a comer espinafre – ao que Junior responde “está bem, Papai Noel”;

* de um freguês do restaurante sei lá das quantas; ela responde em parte em francês, e informa que o restaurante está fechado para férias coletivas;

* de um sujeito que se identifica como Sr. Chandler, que quer saber quando é o próximo trem para Vermont; ele havia ligado para a estação, e lá estava ocupado; Ella-Judy alcança um papel com os horários de trem e dá a informação para o Sr. Chandler;

* de um paciente, Sr. Ferguson, da clínica dentária dr. Kitchell, que precisa falar com o dentista porque a ponte que ele havia colocado no dia anterior tinha caído. Ella-Judy responde – como se fosse a secretária da clínica do dr. Kitchell – que o dentista está naquele momento na Editora Musical Harmonia. O Sr. Ferguson esbraveja que é um lugar esquisito para um dentista, e pergunta qual é o número da editora musical. As duas mãos ocupadas com outras coisas, Ella-Judy mexe com os dedos dos pés o catálogo telefônico até localizar o número da Editora Musical Harmonia;

* de uma voz desconhecida, que quer falar com o Nick; Ella-Judy informa que ele ligou para o número errado, e desliga;

* de uma mulher de voz estridente, dizendo que é a Olga, e quer falar com Jeff Moss. Como se fosse a secretária particular de Jeff Moss, Ella-Judy diz que sente muito, mas o sr. Moss está em uma reunião sobre a peça dele. Com sua voz cada vez mais estridente, Olga diz: “Reunião? Ele está é dormindo. Bote ele na linha. Ele prometeu me levar às corridas.”

* de Rosina Grimaldi, uma cantora de ópera, que liga enquanto a tal Olga ainda está na linha. – “Madame Grimaldi, como está a sua laringite?”, pergunta Ella-Judy, carinha feliz. Madame Grimaldi informa que está bem melhor, graças ao maravilhoso emplastro de mostarda que Ella-Judy havia indicado – e canta operisticamente uma nota para provar que está melhor da garganta.

* e então Ella-Judy volta à ligação com Olga da voz estridente, para dizer que sente muito, mas o sr. Moss não poderá atendê-la.

A trama inclui um dentista compositor, um ator que imita Marlon Brando…

Ao final desse tour-de-force de Ella junto ao aparelho de PBX, as chamadas param um tempinho, para que ela e sua colega Gwynne possam conversar um pouco. Gwynne observa para Ella – e para o espectador – que ela está dando muita importância àquele playboy Jeffrey Moss.

Ella, na verdade, está absolutamente apaixonada por Jeffrey Moss (claro, o papel de Dean Martin), sujeito que ela nunca viu na vida, mas com o qual conversa várias vezes por dia, já que é um dos clientes da Susanotarrecados.

A trama gostosa criada por Comden & Green naturalmente vai fazer com que Ella e Jeffrey se encontrem, desencontrem, encontrem de novo, como em qualquer comedinha romântica. Permitirá que Judy Holliday e Dean Martin façam juntos (e também separados) números de música e dança. Incluirá o tal dentista, o dr. Joe Kitchell (Bernard West), que na verdade tem um imenso talento para compor, e acabará compondo canções para o novo show que Jeffrey Moss vai conseguir escrever graças aos incentivos de Ella.

Incluirá ainda um ator metido a vanguardista, Blake Barton (Frank Gorshin), que faz uma imitação de Marlon Brando absolutamente hilária, arrasadora. E mais o tal esquema criminoso já citado antes: um sujeito chamado J. Otto Prantz (Eddie Foy Jr.) vai seduzir Sue, a dona do Susanotarrecados, e propor a ela uma joint venture entre o serviço de recados e sua gravadora de música erudita – que na verdade é uma gangue de bookmakers.

É tudo muito gostoso – mas, repito, o crème de la crème é Judy Holliday.

Uma atriz fantástica, que ficou marcada pelos papéis de loura-burra

Judy Holliday, uma loura inteligente, talentosíssima, ganhou o Oscar e o Globo de Ouro e ficou marcada por seu papel de loura-burra em Nascida Ontem/Born Yesterday (1950), outro filme baseado em peça de sucesso na Broadway, dirigido por outro bom diretor de estilo elegante, chique, George Cukor.

Um ano anos, em 1949, já havia feito outro papel de loura meio burra num maravilhoso filme do casal Spencer Tracy-Katharine Hepburn, A Costela de Adão/Adam’s Rib, do mesmo George Cukor.

Nascida em Nova York em 1921, filha de uma professora de piano que a matriculou em uma escola de balé aos 4 anos, Judy estreou no cinema em Serenata Boêmia, de 1944.

Era ótima no palco e no estúdio, na fala, no canto e na dança. Era ela que o duo Comden & Green tinha em mente quando criou a personagem de Ella Peterson – e foi Judy que encarnou Ella na Broadway, onde o musical estreou em 29 de novembro de 1956. Permaneceu em cartaz por 924 apresentações, até 7 de março de 1959. A peça foi indicada para o Tony de melhor musical, mas não levou. Já Judy levou o Tony de melhor atriz em musical.

“É desencorajador que Hollywood tenha sido tão rasa a ponto de fazer uma atriz como Judy Holliday, que teve sucesso como um tipo de personagem, só tivesse papéis semelhantes”, diz o livro The Internationalç Dictionary of Films and Filmakers. “Em A Costela de Adão, Nascida Ontem e Da Mesma Carne/The Marrying Kind, Holliday demonstrou que era uma atriz talentosa, que poderia mostrar uma ampla gama de emoções e uma inocência pura, feminina.”

Foi vítima não apenas da insistência dos produtores em escalá-la para papéis de loura-burra, mas também da paranóia dos anos do macarthismo. Tida como simpatizante do comunismo, não chegou a entrar oficialmente na lista negra dos atores que os estúdios não podiam contratar, mas os estúdios evitaram chamá-la durante parte dos anos 50.

Fez apenas 7 filmes, num período de 16 anos, entre 1944 e 1960.

“É muito triste que tenha morrido tão prematuramente”, diz o Dictionary, no final do verbete sobre a atriz. “Seria muito interessante se pudéssemos ter visto que papéis Judy iria escolher para interpretar.”

Sim, morreu prematuramente, muito prematuramente – em 1965, duas semanas antes de completar 44 anos, vítima de câncer.

O grande saxofonista Gerry Mulligan faz um pequeno papel no filme

Algumas informações sobre o filme e sua produção, a grande maioria tirada da página de Trivia do IMDb:

* Tão gostoso, tão alegre e divertido, Bells Are Ringing, no entanto, acabou marcado por uma característica triste: foi o último filme de Judy Holliday, e o último musical do diretor Vincente Minnelli e do produtor Arthur Freed para a MGM.

*Além de Judy Holliday, estes foram os atores que refizeram no filme os papéis que já haviam desempenhado no teatro:

Jean Stapleton, como Sue, a dona da empresa Susanswerphone; Dort Clark, como o inspetor Barnes, que suspeita que a empresa trabalhe para um esquema de prostituição; Bernard West, como o dentista Joe Kitchell, que tudo que quer na vida é compor canções, e Doria Avila como Carl.

* O prédio de quatro andares em que funciona, no térreo baixo, a empresa de recados telefônicos, é o mesmo que Steven Spielberg usou, 25 anos depois, em O Milagre Veio do Espaço/Batteries Not Included (1987).

* O DVD do filme, lançado pela Warner Bros. – inclusive no Brasil – traz várias pérolas, a começar por uma música que acabou não incluída na montagem final, “Is It a Crime?” (como todas as demais, música de Jule Styne, letra de Betty Comden e Adolph Green), cantada e recitada por Judy Holliday para Dort Clark, que faz o inspector Barnes.

* Outra canção escrita pelos mesmos autores para o filme, “My Guiding Star”, cantada por Dean Martin, acabou ficando de for a do filme. Está também como bônus do DVD.

* Uma curiosidade sensacional sobre um ator que faz um pequeno papel no filme. O personagem dele sequer tem nome – é um rapaz que vai jantar com Ella Peterson, ainda na primeira meia hora de filme, um encontro acertado pelas duas amigas da moça, Sue e Gwynne, na tentativa de arranjar um namorado para ela. Ella é completamente desajeitada diante de homens, e o encontro se converte em uma série de terríveis trapalhadas.

Pois bem. O sujeito que faz o rapaz é Gerry Mulligan, o grande músico de jazz, um dos maiores saxofonistas de jazz da História. Gerry Mulligan (1927-1996) tinha ligação com cinema, gostava de cinema: compôs as trilhas sonoras de sete títulos, e trabalhou como ator em cinco. Composições dele e/ou músicas tocadas por ele aparecem em duas dezenas de filmes. Que figura!

Mundo afora, exibidores não conseguiram, claro, captar a graça do título original 

Leonard Maltin deu ao filme 3 estrelas em 4: “Adaptação feliz do sucesso musical da Broadway de Betty Comden, Adolph Green e Jule Styne, com Holliday recriando seu papel como operadora de um serviço de recados que se apaixona pelo homem que ela conhece apenas pela voz ao telefone. As canções incluem “ Just in Time,” “The Party’s Over.” Infelizmente, o ultimo filme de Holliday. CinemaScope.”

O Guide des Films de Jean Tulard avalia assim Un Numéro de Tonerre: “Comédia musical, mais cantada que dançada. Um bom trabalho sobre um tema hoje fora de moda, as pessoas que atendiam ligações telefônicas”.

Um Número de Trovão. Não consigo captar o que os exibidores franceses quiseram dizer com esse título Un Numéro de Tonerre.

Os portugueses não se distanciaram muito do originl Bells Are Ringing – um título inteligente, que mistura sinos tocando, sinal de paixão, com campainha do telefone tocando. Em Portugal, o filme é A Menina dos Telefones.

Os espanhóis foram Suena el Teléfono.

A coisa da loura que vale um milhão não é exclusividade da imaginação dos exibidores brasileiros. No México e na Colômbia, o título foi Esta Rubia Vale un Millón.

O DVD da Warner veio com Essa Loura, com u. Mas parece que o filme foi lançado nos cinemas brasileiros como Essa Loira, com i. Afe!

Anotação em junho de 2018

Essa Loura Vale Um Milhão/Bells Are Ringing

De Vincente Minnelli, EUA, 1960

Com Judy Holliday (Ella Peterson)

e Dean Martin (Jeffrey Moss), Fred Clark (Larry Hastings), Eddie Foy Jr. (J. Otto Prantz), Jean Stapleton (Sue), Ruth Storey (Gwynne), Dort Clark (inspetor Barnes), Frank Gorshin (Blake Barton), Ralph Roberts (Francis).

Valerie Allen (Olga), Bernard West (Dr. Joe Kitchell), Steve Peck (gângster), Gerry Mulligan (o rapaz do encontro às cegas)

Roteiro Betty Comden & Adolph Green

Baseado na peça musical homônima de autoria da dupla

Fotografia Milton A. Krasmner

Música Jule Styne

Montagem Adrienne Fazan

Casting Don McElwaine e Bobby Webb

Produção Arthur Freed, MGM. DVD Warner.

Cor, 126 min (2h06)

***1/2

Título em Portugal: A Menina dos Telefones. Na França: Un Numéro de Tonnerre.

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