Viúvas / Viudas

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2.5 out of 5.0 stars

Viúvas, do diretor argentino Marcos Carnevalle,  parte de uma idéia interessantíssima, uma situação estranha, esquisita, estapafúrdia, mas ao mesmo tempo absolutamente plausível: um único homem deixa duas viúvas, a oficial, a esposa, e a amante. A amante, é claro, sabia de tudo; a esposa leva os dois choques ao mesmo tempo – a perda do marido e a consciência de que ele a traía.

Os primeiros dez, 15 minutos do filme, em que o tema nos é apresentado, são extraordinariamente fascinantes.

Elena (o papel de Graciela Borges, na foto abaixo, do recente Dois Irmãos) é diretora de documentários. Está trabalhando, ao lado da amiga, secretária e faz-tudo Esther (Rita Cortese, também ótima), quando recebe o telefonema: Augusto, o marido (Mário José Paz), acaba de ser internado, com um enfarte grave.

zzviuvas4Augusto chegou ao hospital quase sem roupa, levado por Adela (Valeria Bertuccelli), a amante. Adela é bem mais jovem do que Augusto e Elena, tem aí uns 25 anos – poderia perfeitamente ser filha do casal. Ela veste um sobretudo, aparentemente sem nada embaixo. Não se diz explicitamente, mas todos os indícios são de que Augusto e Adela estavam na cama, no ato, e saíram direto de lá para o hospital.

Esposa e amante se vêem pela primeira vez no corredor do hospital.

A situação é óbvia demais, mas Elena ainda fica em dúvida. Pede para a amiga Esther ir conversar com a moça, num momento em que esta sai do prédio do hospital para fumar.

O diálogo entre Esther e Adela é vago, sem explicitude, mas não é necessário. A coisa está nítida.

Numa hora em que Augusto está sozinho no quarto, Elena e Esther numa sala de espera, Adela entra lá e se deita junto com o amante. Elena chega, bota a moça para fora do quarto.

Num momento de lucidez, Augusto faz um pedido – seu último pedido – à esposa: que ela cuide de Adela. Tadinha, diz ele, ela não tem ninguém.

É grotesco, é patético, é esdrúxulo – mas é a vida, essa cachorra, como diz a jovem cantora Coralie Clément. C’est la vie, cette chienne.

Viúvas explora o patético da situação até o limite

Na minha opinião, pessoal e intransferível, Viúvas não consegue se manter no mesmo nível desses extraordinários, bem realizadíssimos primeiros dez, 15 minutos.

zzviuvas3Talvez exatamente por isso, porque o começo é tão bom, tão fantástico.

Talvez porque a personagem da garota Adele vá se revelando uma pessoa desinteressante, sem luz própria, sem brilho, sem vigor. É uma dessas jovens adultas que não cresceram, que não atingiram qualquer tipo de maturidade, como a personagem interpretada pela esplendorosa Charlize Theron em Jovens Adultos de Jason Reitman.

Não que o personagem seja mal construído – de forma alguma. Mas é um personagem que não fascina o espectador, não atrai – Adela vai se mostrando uma chata, e, ao menos para mim, o filme perde o fôlego em parte por isso.

Não que seja um filme ruim – de forma alguma, repito.

O diretor Marcos Carnevalle, ele também autor do roteiro, consegue narrar a história no fio da navalha, naquela fronteira fina entre o engraçado e o trágico – porque a história que ele conta é assim mesmo, c’est la vie comme même, “o que dá pra rir dá pra chorar, questão só de peso e medida”, para citar outra canção, a de Billy Blanco. A vida é cheia dessas situações patéticas – e Viúvas explora essa coisa do patético até o limite.

Para conseguir esse bom resultado, Carnevalle contou, sobretudo, com o talento e a experiência dessa ótima atriz, Graciela Borges. Ela é a alma do filme, e sua interpretação é impressionante.

Nascida em Buenos Aires em 1941, Graciela começou a carreira de atriz nos anos 50. Tem quase 60 títulos em sua filmografia, e trabalha também na TV argentina.

zzviuvaas5Já o diretor Marcos Carnevale é bem mais novo: nasceu em Córdoba em 1963. Mais jovem, mas já bastante experiente. Assinou 26 roteiros e dirigiu 11 filmes, inclusive Elsa & Fred, a bela produção espanhola de 2005, cheia de referências a Federico Fellini.

Exatamente porque é experiente, testado, Carnevalle narra sua história de forma simples, direta. Não usa fogos de artifício, criativóis, invencionices. É um realizador maduro.

É isso aí. É um filme que vale a pena ver.

Anotação em novembro de 2014

Viúvas/Viudas

De Marcos Carnevalle, Argentina, 2011

Com Graciela Borges (Elena), Valeria Bertuccelli (Adela),

e Rita Cortese (Esther), Martín Bossi (Justina), Mário José Paz (Augusto)

Roteiro Marcos Carnevale

Baseado em história de Bernarda Pagés

Fotografia Horacio Maira

Montagem Emilio Llamosas

Produção Aleph Media, Corbelli Producciones, Patagonik Film Group, Tronera Producciones. DVD Imovisión.

Cor, 100 min

**1/2

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