Este Homem Faz o que Homem Pede, de 2012, é uma prova de que o cinemão comercial alemão também faz comedinhas românticas bobas.
É muito bobo – e não tem muita graça. Bem, eu, pelo menos, não achei engraçado – as piadas me pareceram mais bobas, mais tronchas, desconcertantes, do que propriamente engraçadas.
Cheguei a pensar algumas vezes em parar de ver, mas acabei indo até o fim. E fui até o fim pela mesma razão com que resolvi gravar para ver (esteve na programação de um dos canais Max): ué, se a gente não experimenta ver filmes sobre os quais não sabe nada, como vai ficar conhecendo coisas novas?
E a verdade é que, apesar da história boba, de algumas situações que beiram o ridículo, o filme acaba sendo simpático, gostosinho. Não ofende ninguém, não defende nenhuma causa ruim – muito ao contrário. A moral da história é bem próxima da de um filme delicioso, maravilhoso, Simplesmente Amor/Love Actually. A mesma de tantos belos filmes, a mesma daquela old Beatle song: all you need is love, love is all you need.
Depois de ver o filme, me surpreendi ao saber que o diretor Marc Rothemund é o autor de Uma Mulher Contra Hitler (2005), um drama sério, denso, sobre uma personagem real, Sophie Scholl, uma estudante universitária que foi presa por distribuir panfletos contra Hitler e o nazismo.
Um tipo comum nas comédias românticas: o conquistador que não quer compromisso
O protagonista deste filme mais recente do diretor Marc Rothemund se chama Paul Schuberth (Wotan Wilke Möhring), e é daquele tipo de homem que costuma frequentar muito as tramas das comedinhas românticas: um sujeito que muitas mulheres consideram atraente, que come um monte delas mas se recusa, terminantemente, a ter qualquer tipo de compromisso.
O diretor Rothemund, ele também autor do argumento e do roteiro, ao lado de Hans Rath, define o personagem de cara, logo na primeira sequência. Vemos um homem que ainda não acabou de se vestir direito, segurando os sapatos, camisa, paletó, saindo de fininho de um quarto em que uma jovem mulher dorme. Claro: é Paul, o come-quieto-sem-essa-de compromisso. Caminha pé ante pé até a porta do apartamento, mas, no momento em que está para sair para a liberdade, uma luz acende: a moça que ele acabou de comer o olha com cara de brava, tipo “então você é assim?”
E Paul, com uma carinha inocente: – “Eu trabalho cedo e não queria acordar você.” E mente: “Eu telefono”.
A moça bate com força a porta de seu quarto – e aí entram os créditos iniciais.
Enquanto rolam os créditos iniciais, ouvimos uma cançãozinha pop em inglês – e vemos imagens aéreas de uma cidade estarrecedoramente bela. É impressionante como a Berlim vista do alto que o diretor de fotografia Martin Langer mostra é bela, organizada, com avenidas largas, parques, muito, muito verde.
Pela primeira vez na vida, o conquistador se apaixona
Após os créditos, um close-up do rosto de Paul. Ele está rezando o catecismo do come-quieto-sem-essa-de compromisso: “É assim: eu não quero nada sério. Não quero compromisso. Não tenho a obrigação de voltar para a casa de ninguém. Eis nosso acordo: eu passarei por aqui de vez em quando. Quando for embora, não quero ver cara triste. Sem choro, por favor.”
Paul está apresentando seu catecismo para um cão. Um cachorro enorme, gigantesco, chamado Fred. Fred está no que entendi ser um canil público para cães sem dono, colocados ali até que apareça alguém interessado em ficar com algum deles. O canil aceita voluntários que queiram passear com os cães – mas os voluntários precisam se submeter a alguns testes. A funcionária que está atendendo Paul naquele momento acha estranho ele querer passear com Fred, porque o bicho é uma fera, aquela será a primeira vez que o voluntário novato vai sair com um um cão, e nos testes Paul havia passado raspando.
Mas lá vai nosso herói levando Fred pela coleira (com focinheira, conforme havia especificado a funcionária). A rigor, nosso herói vai sendo levado pelo cão imenso, que assusta crianças e adultos pelo caminho.
No momento em que Paul sai do canil com o cãozão, uma moça de cabelos negros bem curtinhos, jaleco branco sobre a roupa, pergunta para a funcionária se aquele é mesmo Fred, e quem foi que teve coragem de escolhê-lo para passear. A funcionária explica que é um novato meio metido a besta.
A moça de cabelos negros é a veterinária chefe, a dra. Iris Jasper (Jasmin Gerat, na foto).
Para não encompridar muito, é o seguinte: Paul, o come-quieto-sem-essa-de compromisso, vai se apaixonar pela atraente e gostosa veterinária. Mas a vida não é fácil, e a dra. Iris está noiva, vai se casar em breve.
Depois da metade, o diretor radicaliza: cai no mais absoluto pastelão
A galeria de personagens que o espectador vai conhecer a seguir inclui três figuras típicas. Guido Schamski (Jan Josef Liefers) é o diretor de vendas da grande empresa em que Paul trabalha como diretor de RH. O filme não se preocupa em dizer de que ramo é exatamente a empresa – não vem ao caso. Guido é muito amigo de Paul; está no terceiro ou quarto casamento, e trai a mulher com uma funcionária da firma, contrariando aquela norma segundo a qual onde se ganha o pão não se come a carne.
Günther (Oliver Korittke) é o maior amigo de Paul, e é o oposto dele. Se Paul tem a maior facilidade de se dar com as mulheres, Günther, bem ao contrário, é extremamente tímido. Está perdidamente apaixonado por Iggy (Karoline Schuch), a garçonete de um restaurante que ele frequenta, mas jamais conseguiu entabular uma conversa com ela. Pedirá a ajuda e os conselhos de Paul para ver se consegue alguma coisa.
Há também Bronko (Fahri Ögün Yardim), um artista plástico que não consegue vender um único trabalho.
Lá pelas tantas, todos esses três sujeitos vão acampar no amplo apartamento de Paul.
Quando a narrativa passa da metade, o diretor resolve radicalizar. Há seqüências do mais absoluto pastelão. E no final há praticamente uma cópia de uma sequência de A Primeira Noite de um Homem/The Graduate, só que em versão absolutamente escrachada.
Parece que os dois atores principais são muito conhecidos na Alemanha
Essa moça Jasmin Gerat, que interpreta a bela veterinária, parece ser na Alemanha uma espécie assim do que na TV e nas capas de revistas brasileiras são ultimamente Juliana Paes e Grazi Massafera: está em todas. Nascida em 1978, em Berlim, tem 43 filmes e/ou séries de TV no currículo. E Wotan Wilke Möhring parece ser assim o Selton Mello ou o Wagner Moura dos tedescos: em 20 anos de carreira, iniciada em 1993, fez mais de 100 filmes e/ou séries de TV.
É isso aí. É bom saber que o cinemão comercial alemão também faz comedinhas românticas bobas – e no fundo até gostosinhas.
Anotação em abril de 2014
Homem Faz o que Homem Pede/Mann tut was Mann kann
De Marc Rothemund, Alemanha, 2012
Com Wotan Wilke Möhring (Paul Schuberth), Jasmin Gerat (Iris Jasper), Jan Josef Liefers (Guido Schamski), Fahri Ögün Yardim (Bronko), Oliver Korittke (Günther), Friederike Kempter (Kathrin), Karoline Schuch (Iggy), Hedi Kriegeskotte (Frau Hoffmann), Peter Sattmann (Dr. Görges)
Argumento e roteiro Hans Rath e Marc Rothemund
Com a colaboração de André Erkau, Gernot Gricksch e Hendrik Hölzemann
Fotografia Martin Langer
Música Peter Hinderthür e Mouse T.
Montagem Dirk Grau
Produção NFP neue film production, Warner Bros.
Cor, 108 min
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