Turnê / Tournée

2.0 out of 5.0 stars

Mathieu Amalric, grande ator, mais de 70 filmes no currículo, diretor bissexto, autor de 12 títulos, incluindo curtas e documentários, ganhou o prêmio de direção em Cannes por Turnê, seu terceiro longa como realizador.

É um pequeno filme, despretensioso – talvez estudadamente, cuidadosa despretensioso. Mostra o que diz seu título: uma turnê de um grupo cinco mulheres, cinco americanas, dançarinas, strippers, por algumas cidades francesas. A intrépida trupe – que proclama estar fazendo um neo-burlesque, seja lá o que isso for – é chefiada por um francês, que havia passado uma temporada nos Estados Unidos, e estava agora voltando para seu país – Joachim Zand, interpretado pelo próprio Mathieu Amalric.

O filme faz questão de ser um corte no tempo: o que o espectador verá são alguns dias na vida daquelas pessoas: o produtor Joachim, as cinco garotas americanas, o assistente de Joachim, Ulysse (Ulysse Klotz). Cuidadosamente, a narrativa vai revelar muito pouco sobre o passado desses personagens, e não vai dar, ao final, nenhum indício do que acontecerá a eles no futuro.

Alguns dias na vida daquelas pessoas em turnê. Só isso.

Propositadamente, o filme deixa muitas perguntas sem respostas

Quanto tempo terá Joachim passado fora de seu país, nos Estados Unidos? Como ele veio a conhecer aquelas mulheres? De que ele vive? Como consegue financiar aquela turnê, que começa em Le Havre, vai para La Rochelle, depois para Bordeaux, rodeando a França pelos extremos?

O espectador não terá muitos elementos para satisfazer sua curiosidade a respeito dessa e de muitas outras questões. Lá pela metade do filme, um repórter vai entrevistar as cinco mulheres – e elas, curiosas como talvez fiquem os espectadores, como eu, ao menos, fiquei, perguntam ao repórter o que ele sabe sobre Joachim. O que ele conta é pouco: Joachim foi um homem importante na TV francesa.

Por que deixou a TV, por que viajou para os Estados Unidos? Por que se meteu com aquelas moças neo-burlescas?

Não se sabe. Não se saberá.

Esparsamente, virão algumas informações. Joachim é divorciado, tem dois filhos no início da adolescência. Deixou desafetos na França. Por que, não se sabe, não se saberá.

Numa das muitas viagens da trupe, em um trem, Joachim saberá pelo telefone que não terá o teatro parisiense onde pretendia apresentar o espetáculo das dançarinas e strippers. Exatamente por que, não se saberá. O filme decididamente não está interessado em responder a esse tipo de questão. Mostra um corte no tempo, alguns dias na vida daquelas pessoas. Só isso, e pronto.

Um filme que dá a impressão de que foi se improvisando à medida em que ia sendo rodado

Informa-se na internet que as cinco mulheres escolhidas por Mathieu Amalric não são atrizes profissionais – são o que ele mostra no filme, strippers de um movimento que se define como new burlesque.

Numa entrevista à jornalista Mariane Morisawa, publicada no site G1, Amalric disse que não queria que o filme fosse um documentário (vários de seus curtas-metragem como diretor são documentários), apesar de todos interpretarem a si mesmos. “Só há 17 minutos de shows no filme. Elas são atrizes de verdade. Exibi para o pessoal da Comédie Française para mostrar o que é atuação de verdade.”

Aparentemente – pelo que se vê no filme, e também pelo que diz Amalric em entrevistas –, boa parte do que se passa na narrativa foi sendo improvisado, criado à medida em que as seqüências iam sendo rodadas.

Não é desagradável de se ver. Ao contrário. Mas deixa-se esquecer rapidamente

Eu, a rigor, não entendi muito bem o que Mathieu Amalric quis dizer, quis mostrar. Ele mesmo disse à jornalista do G1 que não achava que deveria haver uma mensagem. Sim, mensagem não há, sem dúvida. Mas, afinal de contas, para que serve mesmo o filme?

De fato não sei. Me parece um filme absolutamente descartável, dispensável. Não faria falta alguma à humanidade se não tivesse sido feito.

Não é, no entanto, desagradável de se ver. Deixa-se ver, sem esforço. Mas, dois minutos depois que termina, a gente já se esqueceu dele.

Anotação em setembro de 2011

Turnê/Tournée

De Mathieu Amalric, França, 2010

Com Mathieu Amalric (Joachim Zand), Miranda Colclasure (Mimi Le Meaux), Suzanne Ramsey (Kitten on the Keys), Linda Marraccini (Dirty Martini), Julie Ann Muz (Julie Atlas Muz), Angela de Lorenzo (Evie Lovelle), Alexander Craven (Roky Roulette), Damien Odoul (François), Ulysse Klotz (Ulysse)

Argumento e roteiro Mathieu Amalric, Philippe Di Folco, Tom Frank,

Marcelo Novais Teles, Raphaëlle Valbrune

Fotografia Christophe Beaucarne

Produção Les Films du Poisson, Neue Mediopolis Filmproduktion, WDR / Arte, Le Pacte.

Cor, 111 min

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