Salt

1.5 out of 5.0 stars

Anotação em 2011: Salt, produção cara com direção do australiano Phillip Noyce, autor de bons filmes, é tão maravilhosamente bem feito, nos quesitos técnicos, quanto estúpido. Agora, para quem gosta de filme de ação, com muito, mas muito tiro, dezenas e dezenas de assassinatos, explosão a dar com o pau e longas seqüências de perseguições de carros e carros se estraçalhando no meio das perseguições, é um prato cheio. Um banquete.

É mais ou menos assim:

Evelyn Salt (Angelina Jolie), mulher belíssima, foi presa na Coréia do Norte como espiã dos imperialistas americanos. É torturada, brutalizada, mas continua dizendo sempre que não é espiã, uma mulher de negócios. O marido dela,

Mike (August Diehl), um dos maiores especialistas em aranhas do mundo (aranhas, o bicho de oito patas, tá?), mexe todos os pauzinhos possíveis e consegue convencer o governo americano a negociar com os norte-coreanos a troca de um prisioneiro deles por Evelyn, e ela é libertada.

Dois anos depois, ela está já de volta à sua rotina, numa empresa que é apenas fachada para agentes da CIA. Trabalha ao lado de um colega, Ted Winter (Liev Schreiber), que foi até a Coréia do Norte para arranjar sua libertação. No dia em que a bela Evelyn quer sair logo para comemorar o aniversário de casamento, surge na empresa fachada da CIA um russo, um tal Orlov (Daniel Olbrychski), que deseja entregar segredos à agência de inteligência americana.

O que o russo entrega à CIA – e também a um alto funcionário do serviço de contra-espionagem, Peabody (Chiwetel Ejiofor) – é o seguinte: em meados dos anos 70, vários garotos e garotas russos passaram por um intenso treinamento para se tornarem agentes soviéticos disfarçados de inocentes cidadãos americanos. O objetivo do programa secreto era preparar aqueles garotos para que, no futuro, executassem uma série de ações que levariam simplesmente à destruição dos Estados Unidos da América.

E ela, Evelyn Salt, agente da CIA, na verdade era um desses agentes soviéticos infiltrados na sociedade americana.

Em vez de contestar a informação dada pelo russo aparecido do nada, em vez de dizer epa, esse cara é louco, o que faz Evelyn Salt? Prepara umas bombas, ali mesmo, no seu local de trabalho, mata uns cinco ou seis e consegue fugir, enganando algumas centenas de agentes, policiais, contra-espiões, o escambau.

Depois de uns 20 minutos de perseguição de carros pelas ruas de Washington, vamos ter que Evelyn Salt vai furar todo o esquema de segurança da presidência dos EUA e atirar no presidente russo Matveyev (Olek Krupa) durante a cerimônia fúnebre pelo vice-presidente americano, numa grande igreja de Nova York.

O assassinato provocaria uma violenta crise nas relações entre EUA e Rússia, mas isso seria só parte do plano e da trama. Ainda haveria uma tentativa de assassinato do próprio presidente americano, em plena Casa Branca, e do início de uma guerra mundial, russos e muçulmanos, contra os Estados Unidos.

Aquela gincana para saber quem consegue exagerar mais

Diante dessa trama, as histórias de 007 passam a ser lógicas, razoáveis, plausíveis, verossímeis.

É aquele concurso, aquela gincana para saber quem consegue exagerar mais, fazer tramas mais loucas, com mais explosões, mais bombas, mais tiros, mais mortes. E dá-lhe trilogia Bourne, dá-lhe Encontro Explosivo, dá-lhe Missão Impossível 1, 2, 3.

O cinemão comercial vai chafurdando cada vez mais fundo na imbecilidade.

Angelina Jolie, essa moça tão bonita, parece estar gostando desses filmes de ação. Fez Lara Croft: Tomb Raider e sua continuação, fez Sr. e Sra. Smith, fez O Procurado. Tá certo que entre uma imbecilidade e outra até que encontrou tempo para fazer O Preço da Coragem e, sobretudo, A Troca, de Clint Eastwood.

Poderia escolher melhor seus filmes, e também se alimentar melhor, a moça. Neste filme aqui, parece uma anoréxica.

Phillip Noyce já fez bom filmes, repito: Terror a Bordo/Dead Calm, de 1989, feito ainda na Austrália, é um ótimo filme de suspense, com um clima de tensão envolvente. Geração Roubada/Rabbit-Proof Fence é uma corajosa denúncia das práticas racistas do governo australiano contra os aborígenes. De novo sobre racismo, Em Nome da Honra/Catch a Fire é um bom filme ambientado na África do Sul do apartheid. Sua refilmagem do livro de Graham Greene O Americano Tranqüilo, de 2002, é uma bela obra, que mistura competentes cenas de ação com cerebrais e sérias considerações políticas.

Tem extrema competência para filmar cenas de ação. Jogos Patrióticos/Patriot Games, baseado em novela de Tom Clancy, é um filme de ação muito melhor que a média do gênero.

Neste Salt, ele demonstra que seu talento de artesão é gigantesco. Mas desta vez ele se esqueceu de botar inteligência no meio.

Um filme com evidente nostalgia dos tempos da guerra fria

Gastaram US$ 110 milhões para fazer o filme. Aparentemente, deu certo: ele já rendeu US$ 293 milhões. Tem muita gente no mundo que adora tiro, explosão e perseguição de carro.

O filme teve uma indicação ao Oscar pela edição de som. De fato, o som do filme é impressionante. Sai tiro por cada uma das seis caixas de som.

Fiquei pensando: Salt. Sim, o sal da terra. Ou SALT – Strategic Arms Limitation Talks, conversações para a limitação de armas estratégicas, que levaram à START, Strategic Arms Reduction Treaty, tratado para redução de armas estratégicas. As conversações começaram em 1969; um tratado foi assinado por Gerald Ford e Leonid Brejnev em 1974.

Certamente devem ter pensado nisso os autores quando resolveram dar esse nome à heroína que às vezes parece estar lutando para que o mundo volte ao tempo da guerra fria.

Como diria o Ancelmo Gois: e isso quer dizer…? nada, coisa nenhuma.

Salt

De Phillip Noyce, EUA, 2010

Com Angelina Jolie (Evelyn Salt), Liev Schreiber (Ted Winter), Chiwetel Ejiofor (Peabody), Daniel Olbrychski (Orlov), August Diehl (Mike Krause), Daniel Pearce (jovem Orlov), Hunt Block (president Lewis), Andre Braugher (secretário de Defesa),Olek Krupa (presidente Matveyev)

Argumento e roteiro Kurt Wimmer

Fotografia Robert Elswit

Música James Newton Howard

Produção Columbia Pictures, Relativity Midia. DVD Sony.

Cor, 100 min

*1/2

8 Comentários para “Salt”

  1. Eu não vi o filme e nem o vou ver, já sei mais ou menos o que me espera.
    Dessa mulher o único que vi com qualidade foi o dirigido por Clint Eastwood.
    É possível que há uns anos atrás tenha feito algo bom mas não conheço.
    Essa mulher deve pensar “Caramba! Eu sou a gaja que mais dineiro ganha no cinema! É porque gostam!”

  2. Vi há pouco tempo alguns minutos porque está disponível no Netflix, só uns minutos, não deu para aguentar mais.
    A Angelina parece a versão feminina do Tom Cruise, muita porrada em grande velocidade.

  3. Caríssimo José Luís, é perfeita, maravilhosa sua definição da Angelina Jolie neste filme.
    Um abraço!
    Sérgio

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