2.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2010: Uma comedinha romântica do novo cinema argentino – suave, simples, despretensiosa. Nada extraordinário, mas é um filme agradável, bem feito, que sabe misturar bom humor com uma pitadinha leve de melancolia.
O jovem diretor Juan Taratuto, nascido em Buenos Aires em 1971, autor do ótimo Não é Você, Sou Eu, de 2004, é do tipo que não inventa, não solta fogos de artifício; tem uma boa historinha para contar e conta bem, sem criativóis. Permite-se uma beleza de longa tomada para começar: do alto de uma grua, a câmara mostra uma praça, crianças brincando, mães tomando conta e conversando, gente passando, um ou outro casal namorando; a câmara vai baixando um pouco, girando para a esquerda, atravessa uma rua, chega ao nível do chão – um sujeito de uns 35 anos está sentado no chão, diante de um prédio; chega uma mulher; cumprimentam-se, trocam uma ou duas frases, entram no prédio.
Corta, e a câmara está parada, de frente para aquele casal; o homem e a mulher estão sentados cada um em uma poltrona, obviamente diante de alguém, uma psicóloga, ou psiquiatra, uma terapêuta de casais. Vão contar sua história para a terapeuta e para o espectador.
São só três palavrinhas, mas o tenso Tenso não consegue dizê-las
A história que eles contam começa com uma manhã normal na vida do casal – ele é Tenso Polsky (Adrián Suar), ela é Tana Ferro (Valeria Bertuccelli). Tenso levantou primeiro, está tomando um chá e lendo o jornal do dia quando Tana se levanta da cama, senta à mesa da cozinha, acende um cigarro e começa a falar, a reclamar de alguma coisa. Quando Tenso vai ao banheiro escovar os dentes, Tana vai atrás, reclamando. Tenso se prepara para sair para o trabalho, Tana vai atrás, reclamando.
Tana fala demais, e sempre tem alguma coisa para reclamar da vida. Não cultiva suas próprias amizades, e está sempre falando mal dos amigos do marido. No fim de semana, vão a uma festa de aniversário de um dos amigos de Tenso; quando duas mulheres que estão na festinha começam a falar sobre um dos assuntos que Tana detesta – os signos do horóscopo -, Tana dá um vexame público, coisa desagradável.
Em menos de dez minutos de filme, o quadro está apresentado: Tana é uma danada de uma chata de galocha, uma pentelha, e o pobre Tenso – Tenso é o apelido dele, porque Tenso é um de fato um sujeito tenso – está de saco cheio, não agüenta mais. Os amigos o aconselham a chegar para Tana e dizer apenas três palavras – “Quero me separar”. Mas Tenso, sempre tenso, não consegue. E então os amigos têm a idéia: por que não contratar os serviços de Cuervo Flores?
Quem mesmo?
E os amigos explicam: Cuervo Flores. Um danado de um conquistador. Já conquistou umas 20 mulheres, estragou dezenas de casamentos.
Quando Tenso e o espectador ficam conhecendo Cuervo Flores (Gabriel Goity), estamos aí com 15, nem 20 minutos de filme. O que se seguirá é previsível – não há comédia romântica que não seja previsível -, mas gostoso, bem humorado.
Todos os atores estão bem, à vontade, normais, é como se não estivessem representando, é como se estivessem sendo filmados na sua vida real, normal – e eu não consigo deixar de me perguntar por que raios nuestros vecinos, nuestros hermanos ali de pertinho conseguem fazer todos os atores trabalharem bem, enquanto no cinema brasileiro é tão difícil ter atuações assim, soltas, tranqüilas, naturais, normais.
Um grande acerto, a atriz que faz a chata Tana
A atriz Valeria Bertuccelli é um belo acerto. Tem o tal de physique du role. Magrelinha, com uns cambitinhos de coxas finos como os braços de uma pessoa normal, não é bela, sequer bonita – mas seu rosto vai se transfigurar, se iluminar, quando, depois de mais da metade da ação já decorrida, aprende finalmente a sorrir.
Aliás, Valeria Bertuccelli ganhou o prêmio de melhor atriz da Academia argentina. Sim, a Argentina tem uma Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. E o ator Gabriel Goity, que faz Cuervo Flores – uma figura fantástica, hilária, na foto acima cantando Tana -, ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante da Associação de Críticos de Cinema da Argentina.
O compositor Ivan Wyszogrod criou uma trilha sonora com temas que acentuam o bom humor com que a história é contada. É uma música divertida, gostosinha.
Quando começaram os créditos finais, após a bela sacada que é a última tomada do filme (o desfecho é o esperado, mas a última tomada é uma boa sacadinha), pensei: ih, acho que no meio dos créditos vai ter alguma gracinha – e tem mesmo, um ou dois minutos de gostosa gracinha pós fim do filme. Nego apressado, que se levanta da poltrona do cinema ou desliga o DVD quando começam a rolar os créditos finais, vai perder a brincadeira.
Vejo no iMDB que os americanos – esse povo que, como digo e repito sempre, acha que, se o filme não foi feito lá, não existiu – já preparam uma refilmagem da história. Breve, nas telas, A Boyfriend For My Wife. Minha sugestão ao eventual leitor: veja o original argentino.
Um PS em 2/2107: A refilmagem americana não saiu, ao menos até agora. Já o cinema brasileiro refilmou a história. Um Namorado para Minha Mulher foi lançado em 2016, direção de Julia Resende, com Ingrid Guimarães, Caco Ciocler e Domingos Montagner..
Um Namorado para Minha Esposa/Un Novio para mi Mujer
De Juan Taratuto, Argentina, 2009
Com Adrián Suar (Tenso Polsky), Valeria Bertuccelli (Tana Ferro), Gabriel Goity (Cuervo Flores), Benjamín Amadeo (Damian Kepelsky)
Argumento e roteiro Pablo Solarz
Fotografia Pablo Schverdfinger
Música Ivan Wyszogrod
Produção Patagonik Film Group, INCAA
Cor, 100 min
**1/2
Quando li a sinopse deste filme falei para mim mesmo que tinha certeza de que ía gostar.
Mas me enganei. É, eu não gostei.
Gostei demais. Achei um filme muito gostoso.
Como voce diz; agradável,despretencioso, bem feito. Ela falava demais e com que rapidez , o que ficava mais insuportável ainda.
E ainda pergunta pro marido ” sabe essas pessôas que falam sem parar ?”
Uma pessôa que começa seu dia com um humor daqueles, não pode querer ser feliz.
Que papo foi aquele entre ela o marido e as outras duas mulheres na festa? Como diria Paulo Silvino, ” coisa horrorosa !!!!!! “.
E o Sr. Flores ? Também gostei muito do ator que o fez. Ficou legal aquele ” tom ” de espião, de agente secreto na “conquista” da Tana. Falando nela , como mudou depois que estava na rádio, Ficou até mais “bonita”.
Aquela fala do suco de oxitona foi muito bem sacada. lembra ?
O final é previsível , claro. Mas como voce costuma dizer, qual comédia romântica não é?
Mesmo sendo previsível, achei que foi muito bem feito. Gostei muito.
Um abraço !!
Fazia tempo que eu queria assistir a esse filme, desde que li sobre ele aqui pela primeira vez. Acho até que comecei a ver uma vez, mas tive que parar, e acabei não retomando.
Só fui ver ontem, dia primeiro (mas não inteiro, pois comecei a cochilar) e terminei hoje, retomando as partes em que pesquei.
É legalzinho, nada de mais, mas bem feito, e de certa forma mexeu comigo; não profundamente, claro, só me fez lembrar de um relacionamento que tive, e que no fim ficou péssimo (por motivos diferentes dos do filme), mas não importam os motivos, a sensação ruim é a mesma.
Se o final tivesse ido por outro caminho teria ficado mais real e interessante, e eu torci para que fosse diferente (até porque aquele cara é muito sem sal; a mulher é chata, mas pelo menos é sincera) porém, é como você disse, comédias românticas seguem um mesmo esquema.
As sequências em que eles estão na psiquiatra são as melhores, e é engraçado ver como o cara deixou o casamento se arrastar por dois anos, disse que se sentiu sozinho nesse período, mas demorou para tomar uma atitude. Afora outras pequenas coisinhas que o filme mostra, que vão minando uma relação: a falta de cuidado e atenção com o outro, o desleixo consigo mesmo, a ausência de diálogo, o homem banana que não toma decisões mas culpa a mulher por tudo etc. A atriz está mesmo ótima, mas o ator também trabalhou super bem, conseguiu me irritar sobremaneira.
O personagem Cuervo Flores me lembrou os cafajestes bregas da televisão, e bregas são também as músicas que tocam durante o filme, ao melhor estilo Falcão ou Waldick Soriano argentino.
O que foi aquela garrafa de *leite de coco brasileiro na cena da vitamina? (Pareceu merchan, porque ele vira o rótulo para a câmera). E o cara falou “maracujá” com pronúncia em português. Falando nisso, eu estava com saudade de ouvir o sotaque portenho.
Eu ia mesmo comentar da refilmagem brasileira; vi o trailer por acaso há algum tempo, e enquanto assistia ao filme me lembrei disso, mas fiquei na dúvida se tinham feito realmente uma refilmagem ou se havia sido outra coisa. Nem precisei pesquisar, porque quando reli o texto, vi que você tinha feito um update. Site eficiente é isso aí!
*Merchan ou não, decerto importamos para os hermanos; não sem razão, afinal, é só olhar para o Nordeste e os nossos coqueiros que dão coco.