Anotação em 2010: Para quem gosta de filmezinho metido a besta, pretensioso, feito para agradar aos júris de festivais, desses chatos de doer, Três Macacos, do turco Nuri Bilge Ceylan, é um prato cheio. Uma refeição completa. Um banquete.
E não deu outra. O filme levou o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes.
Exatamente como em Climas, seu filme de 2006, a câmara de Nuri Bilge Ceylan não se movimenta: fica estática, paradona. Os planos são loooooongos, cheios de loooooongos silêncios. E os personagens não conseguem se comunicar, um não consegue dizer ao outro o que sente, o que quer.
São quatro personagens, basicamente – um patrão, um empregado dele, a mulher e o filho do empregado. Servet (Ercan Kesal) é rico, está concorrendo a um cargo eletivo; não sabemos exatamente o que ele faz – é parte do estilo do diretor não ser explícito em muitas coisas, não dar as informações redondas para o espectador, ser o mais elíptico possível. Servet deve ser um empresário, não se sabe de que ramo. Na primeira seqüência do filme, atropela uma pessoa numa estrada, e foge sem prestar socorro.
Pede então a seu motorista, Eyüp (Yavuz Bingol), que assuma a culpa, diga que era ele que estava dirigindo. Pegará uma pena de seis meses a um ano, continuará recebendo o salário e, quando sair da prisão, receberá uma boa bolada.
O filho do motorista Eyüp, Ismail (Rifat Sungar), é um adolescente aí na faixa dos 18, 19 anos; como tantos adolescentes, é um garoto perdido; não estuda, não passa no vestibular; é preguiçoso, dorme até tarde, se envolve com más companhias. Uma noite chega em casa ferido, sangrando, cheio de escoriações, não sabemos nem saberemos nunca por que – faz parte do estilo do diretor. Elipses.
Hacer (Hatice Aslan), a mulher do motorista preso, vai um dia ao escritório do patrão do marido, pedir um dinheiro emprestado a ele, para satisfazer a vontade do filho e comprar um carro. Servet demonstra ter atração por Hacer, e isso deixa Hacer vaidosa, alegre, feliz.
O que vem a partir daí é drama, drama, drama, drama.
Pronto. Já tive minha cota de Nuri Bilge Ceylan
Exatamente como em Climas, o diretor demonstra saber dirigir os atores e saber escolher bom fotógrafo – há algumas tomadas, ao longo de todo o filme, de grande beleza plástica.
Gostei do que a crítica do AllMovie, assinada por Mark Deming, diz. “Aparentemente o filme tem alguma coisa para dizer, mas falta fluidez para fazer sua mensagem clara e forte.” E depois: “Mesmo os mais básicos pontos da trama são apresentados de uma maneira desnecessariamente oblíqua, de tal modo que fica difícil dizer quem está fazendo o que e por quê. (…) Embora muitos dos elementos mais intrigantes do filme sejam relativamente menores, a incapacidade de Ceylan de clarificar seu lugar na narrativa enlameia as águas daquilo que poderia ter sido uma história razoavelmente direta.”
É isso aí. Não dá para enganar todo mundo o tempo todo.
Vi Climas por curiosidade, porque a gente precisa ver os filmes de cinematografias menos conhecidas, precisa ver os filmes que estão sendo badalados, precisa conhecer coisas desconhecidas. Quis ver Três Macacos para experimentar, e para tirar a teima. Experimentei. Chega. Minha cota de Nuri Bilge Ceylan está preenchida. Eta cara chato.
Três Macacos/Üç maymun
De Nuri Bilge Ceylan, Turquia-França-Itália, 2008
Com Yavuz Bingol (Eyüp), Hatice Aslan (Hacer), Rifat Sungar (Ismail), Ercan Kesal (Servet)
Argumento e roteiro Ebru Ceylan e Nuri Bilge Ceylan
Fotografia Gökhan Tiryaki
Produção Bim Distribuzione, NBC Film, Pyramide Prods, Zeynofilm
Cor, 109 min
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Bom saber. Já vou passar longe, bem longe.
Xi, Danilo, olha a minha responsa…
Mas, pelo que já conheço do seu gosto, faz bem em passar longe.
Um abraço.
Sérgio
“E os personagens não conseguem se comunicar, um não consegue dizer ao outro o que sente, o que quer.” – Então Antonioni também deve ser chato e pretensioso.Ceylan é herdeiro do verdadeiro cinema, que exige do espectador.
Caro Zeferino,
A proximidade da temática de Ceylan com a de Antonioni está realçada na primeira frase da minha anotação sobre Climas, para a qual há link imediato.
Quanto à existência de “o verdadeiro cinema”, duvido dela. O cinema seria bem mais pobre se houvesse só um tipo de filmes. Felizmente existem dezenas de tipos. Todos verdadeiros.
De resto, como eu já vi os Antonionis todos, me dispenso da obrigação de gostar das contrafações.
Sérgio
O filme é uma bomba. Comparaçoes com Antonioni?? Simplesmente falta de respeito. O ator que faz o filho é péssimo. A fotografia lembra esses videos feitos em casa em reuniões de familia. Um tremendo abacaxi metido a besta como foi dito para enganar juri de festivais.
Assisti nesta madrugada.
O filme é lento , parado , arrastado , um silêncio enorme, poucos diálogos mas não sei se esta era a intenção do Ceylan. Sei lá … será que o título do filme tem a ver com isto?
De fato chega um momento em que – como dizia Lupicínio Rodrigues – é preciso ter nervos de aço.
Não sei se estou certo mas acho que a morte do “caçula”, era o verdadeiro drama daquela familia. Havia muita infelicidade , muito sofrimento.
Eu sempre achei que em alguns momentos o silêncio (não como este) é muito importante.
E há quem diga que o silêncio afasta as pessôas, então . . .
Concordo contigo quando dizes de algumas belas tomadas.
Com certeza, querer comparar com Antonioni é no mínimo um sacrilégio, uma ofensa grande.
Um abraço !!
Sabe Sergio, um detalhe curioso que voce não deve estar lembrado pelo tempo que foi feita esta anotação, é do celular da Hacer.
Nossa mãe do céu !! A musica que tocava quando ligavam para ela, era coisa muito pior que “Vingança” de Lupicínio Rodrigues.
Vixe !!!!!
E uma coisa tem que ser dita também.
A Hatice Aslan é uma mulher muito , muito bonita.
Um abraço!!