2.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: Os Vuillard são uma família marcada pela tragédia. Muitos deles são profundamente infelizes; alguns são bem doidos (um tem de fato o diagnóstico de esquizofrenia). Alguns se odeiam profundamente, alguns simplesmente não gostam um do outro. Quase todos são chatos de galocha. A mãe acaba de saber que tem uma doença gravíssima. Quer passar o Natal com eles?
Quem tiver interesse, é só ver esse filme do diretor Arnaud Desplechin – que, além de tratar de chatos, doidos e infelizes, é interminável. Tem torturantes 150 minutos.
Sintomaticamente, o filme começa num enterro, o de Joseph, o primogênito do casal Abel (Jean-Paul Roussillon) e Junon (Catherine Deneuve). Joseph estava no maternal quando os médicos diagnosticaram que ele tinha um câncer de sangue chamado linfoma de Burkitt; ele poderia ser salvo por um transplante, mas não havia ninguém na família com compatibilidade para ser doador, e então Joseph morreu aos 6 anos de idade. Quando ele morreu, Junon já tinha tido três outros filhos: Elizabeth, Henri e Ivan.
Essas informações são passadas ao espectador por uma voz em off. Quando a ação começa, Junon, a mãe, está tendo um desmaio. Mais tarde, os médicos vão diagnosticar que ela está com uma doença grave e degenerativa; para se salvar, terá que se submeter a um difícil transplante de medula óssea, se encontrar alguém na família que tenha as condições de ser doador. Mas mesmo o transplante é perigoso e pode levar à morte tanto Junon quanto o doador.
Um festival de neuroses e desavenças
Antes que o espectador fique sabendo sobre a doença de Junon, o diretor Desplechin nos apresenta os três filhos, todos agora adultos. A mais velha, Elizabeth (Anne Consigny), é uma atriz de teatro, mulher infeliz, profundamente infeliz; é casada com um dramaturgo, Claude (Hippolyte Girardot), e têm um filho de 16 anos, Paul (Emile Berling), esquizofrênico, com tendências suicidas.
Henri (Mathieu Amalric) é um alcoólatra, irresponsável. Administrou um teatro onde Elizabeth apresentou várias peças, e acumulou dívidas imensas; os credores foram à Justiça; Elizabeth aceitou pagar as dívidas, com a única condição de jamais voltar a ver o irmão. Tem um ódio profundo dele.
O caçula, Ivan (Melvil Poupaud), está casado com uma bela jovem, Sylvia (interpretada por Chiara Mastroianni, a filha do grande Marcello e de Catherine Deneuve), e tem dois filhos garotinhos, de uns seis, sete anos.
Junon, a mãe, não gosta de Henri, e ele não gosta da mãe, e isso é sabido por todos na família. Junon também não gosta de Sylvia, porque entende que ela roubou seu caçula.
Há ainda na história a atual namorada de Henri, Faunia (Emmanuelle Devos), uma pessoa muito estranha, e Simon (Laurent Capelluto), sobrinho de Junon e portanto primo dos seus três filhos, um pintor que – saberemos bem mais tarde – é eternamente apaixonado por Sylvia.
Todas essas tristes pesssoas vão se reunir às vésperas do Natal na casa ampla de Abel e Junon na cidade de Roubaix, na região de Lille, para um festival de neuroses e desavenças.
Tudo quanto é truquezinho formal está lá
Eu, euzinho, jamais convidaria alguém para participar desse encontro ou assistir a ele. Várias vezes pensei em apertar a tecla Stop do DVD, mas acabei indo em frente para ver onde aquilo tudo iria dar. A verdade é que não dá em lugar nenhum.
O diretor Desplechin usa todos os truquezinhos, os brinquedinhos formais possíveis: tem split-screen (aquela coisa de dividir a tela), tem câmara de mão, tem ultra big close-up, tem aquele recurso de fazer fade out e fade in com uma bola preta focalizando o meio da tela, tem fotinha interrompendo a ação, tem melodias em tom cômico pontuando cenas dramáticas, tem personagem interrompendo a ação e se dirigindo diretamente à câmara, ao espectador.
O filme teve dois prêmios e 14 indicações; o ator Jean-Paul Roussillon, que faz Abel, o pai da família, levou o César de melhor ator coadjuvante.
Arnaud Desplichin nasceu em Roubaix, a pequena cidade em que se passa a ação. Ele também assina argumento e roteiro, juntamente com Emmanuel Bourdieu. Tem oito filmes no currículo; o mais conhecido deles é Reis e Rainhas, de 2004, também com Mathieu Amalric, Emmanuelle Devos e Catherine Deneuve. Quando vi o filme – que é elogiadíssimo –, em 2005, fiz uma anotação bem curta e bastante grossa: “Uma decepção. Catherine Deneuve, a melhor coisa do filme, faz uma ponta, apenas. O filme conta a história paralela de dois ex-amantes – ela está cuidando do pai doente terminal, ele está sendo internado em um hospício. Uma bobagem”. Nem me lembrava do filme ou dessa anotaçãozinha, que achei depois de ver este Um Conto de Natal, mexendo nas velhas anotações para saber de onde eu me lembrava de Emmanuelle Devos. É uma boa atriz.
Aliás, isso é preciso ser dito: todos os atores estão muito bem. São belas interpretações.
Um Conto de Natal / Un Conte de Noël
De Arnaud Desplechin, França, 2008
Com Catherine Deneuve (Junon Vuillard), Jean-Paul Roussillon (Abel Vuillard), Anne Consigny (Elizabeth), Mathieu Amalric (Henri), Melvil Poupaud (Ivan), Hippolyte Girardot (Claude), Emmanuelle Devos (Faunia), Chiara Mastroianni (Sylvia), Laurent Capelluto (Simon), Emile Berling (Paul)
Argumento e roteiro Arnaud Desplechin e Emmanuel Bourdieu
Produção Why Not Productions
Cor, 150 min
**
Eu também não via a hora de o filme acabar.
Tens tôda razão Sergio,o filme é torturante, muito chato e longo demais.
E tem uma cena incrível, vamos e venhamos, o tombo que o Henri toma na rua, era para ter acabado com a cara dele e, no entanto, deu só um arranhão na testa ou no nariz, sei lá.
De fato, os atores estão muito bem.
Ao final, me consolei dizendo à mim mesmo que valeu ter assistido,pela presença dessa atriz maravilhosa e mulher lindíssima que é a Catherine Deneuve mesmo com o passar dos anos.
Um abraço !!