O Verdadeiro Amor / Sweet Land


2.0 out of 5.0 stars

Anotação em 2009: Um filme simples, despretensioso, do cinema independente americano, sem atores muito conhecidos e dirigido por um estreante. Fala sobre imigrantes europeus que se instalam na área rural de Minnesota, no coração do Meio Oeste.

Como sintetizou com absoluta precisão a Mary, é um filme que tem coisas belas e coisas bobas.

Nos primeiros minutos do filme, o diretor Ali Selim – ele mesmo nascido em Minneapolis, em Minnesota – mistura três épocas distintas. Temos os dias de hoje, em que Lars, um descendente de imigrantes, casado e com filhos, está vendo morrer a avó, Inge, e recebendo uma proposta milionária para vender a fazenda da família; temos ações que se passam 30 anos antes, quando Lars é um garoto jovem, de uns 20 anos, e está ao lado da avó Inge quando ela perde o marido, Olaf; e temos um passado mais remoto, cerca de 1920, quando Inge chega da Europa para se casar com Olaf; o casamento havia sido combinado e arranjado por cartas pelos pais de Olaf, que vivem na Europa. É nessa época mais distante que o filme se concentra.

Olaf (Tim Guinee) é norueguês, assim como boa parte de seus vizinhos, assim como Frandsen (Alan Cumming), seu maior amigo. Olaf e Frandsen vão juntos receber Inge (Elizabeth Reaser quando jovem, Lois Smith quando bem mais velha) – e são surpreendidos com o fato de que Inge não é norueguesa, e sim alemã.

(Por que os pais de Olaf, que arranjaram a ida de Inge para os Estados Unidos, escolheram uma alemã em vez de uma norueguesa, e por que não contaram isso ao filho nas cartas, é um absoluto mistério. Mas é o tal negócio: se Inge não fosse alemã, não teria filme.)

Há, na comunidade, um grande preconceito contra os alemães; a Primeira Guerra Mundial tinha acabado havia pouco, e muitas famílias tinham perdido filhos na guerra. Para complicar, Inge não fala inglês, e não tem documentos básicos, como certidão de nascimento, que permitissem a realização do casamento.

Aí está, então, o grande imbróglio da história. A comunidade é extremamente religiosa – são luteranos, rígidos -, e estaria fora de cogitação a idéia de que Inge vivesse na bela casa da fazenda de Olaf sem que estivessem casados; a saída encontrada por eles, diante de toda a dificuldade de comunicação com a moça que não fala inglês, é botar Inge para viver na casa do amigo Frandsen. Só que Frandsen e sua mulher Brownie (Alex Kingston) vivem apertados numa casa com uns nove ou dez filhos.

Há alguns diálogos e situações de fato bem bocós, bem bobões – como quando o pastor da comunidade, Sorrensen (John Heard) chega à casa de Olaf no momento em que Inge está dançando uma valsa, e o pastor se horroriza com aquilo e com o fato de que ela faz café preto demais para o gosto dele. Ou como quando, depois de ser avisado que poderia perder sua fazenda, Frandsen toca gaita diante da filharada imensa. Em compensação, há belas imagens, a fotografia é de primeiríssima – o diretor Ali Selim veio da publicidade, em que ganhou prêmios importantes. 

O filme tem uma delicadeza que não é comum no cinemão americano, e nem mesmo no independente. Tem uma aura de uma grande pureza, uma certa ingenuidade, e de grande simpatia por aqueles imigrantes que trabalham duro, gente simples, boa. Deve ser por essas qualidades que ganhou seis prêmios – inclusive o de melhor primeiro longa-metragem do Independent Spirits Award.

E é isso aí: não é um filme ruim, não; é bem intencionado e tem todo o jeito de ter sido feito com amor. É simples, despretensioso. Bem assim, assim.

O Verdadeiro Amor/Sweet Land

De Ali Selim, EUA, 2005

Com Elizabeth Reaser, Tim Guinee, Alan Cumming, Lois Smith, Patrick Heusinger, Paul Sand, Alex Kingston, John Heard, Ned Beatty

Roteiro Ali Selim

Baseado no conto A Gravestone Made of Wheat

Música Mark Orton

Produção 120dB Films. Estreou no Brasil 31/7/2008 (segundo o iMDB).

Cor, 110 min.

**

4 Comentários para “O Verdadeiro Amor / Sweet Land”

  1. É isso aí,Sergio,com certeza este filme foi feito com muito amor.É simples,sem pretensões
    e como disseste,bem intencionado e,é por isso mesmo,que é um filme muito bonito e,que eu gostei muito,mesmo.
    Achei o início, um pouco confuso com aqueles flash backs,mas foi coisa rápida.A fotografia
    é muito bonita,tem belas tomadas em angulo aberto(é assim que se fala?)lindo,lindo.
    Existe tbm, aqui neste filme,mais um exemplo de preconceitos raciais,que aquela sociedade mesquinha infligiu ao casal Olaf/Inge.
    É como disseste,Sergio,não é um filmão,mas é um filme muito lindo,sincero e sensível.
    Só um detalhe que é opinião minha.Dentre as caracterizações com o passar dos anos,para mim,a que ficou mais perfeita(se é que se pode dizer assim)foi a do Frandsen jóvem (Alan Cumming)e Frandsen idoso (Paul Sand).
    Veja as fotos dos dois; a semelhança é perfeita.

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