0.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: Eis aí um filme absolutamente, totalmente inacreditável. Parece o que o Millôr Fernandes chama de compsyssão enfantiu. Pode até haver algum filme com atores trabalhando tão mal quanto neste A Ilha da Morte – mas trabalhando pior não tem. Ah, não tem – é impossível. Nem se se reunisse a pior turma de teatro ginasiano da face da Terra seria possível ter um elenco tão pateticamente ruim.
É tudo, tudo, tudo absolutamente primário, infantil, tosco, rudimentar.
É inacreditável. Inimaginável.
Se pensarmos na pior telenovela já feita em toda a América Latina, ainda assim ela será mais bem dirigida do que este filme.
Fui atrás de informações na internet. Em vários lugares aparece uma mesma sinopse, certamente distribuída em press-release pela produção (texto semelhante está no site oficial do filme, http://www.elcayodelamuerte.com/home.html):
“Cuba, 1958. Rodolfo tem 20 anos e sonha fazer cinema em Hollywood. Seu pai, um membro do movimento revolucionário, está fugindo da polícia, situação que obriga a família a abandonar Havana e a se refugiar na pequena San Juan de las Rocas. Ali, os sonhos de Rodolfo supostamente ficam mais distantes. Ele continua, no entanto, a escrever roteiros e a mandar cartas para o estúdio Metro Goldwyn Mayer. Para sua surpresa, encontra no povoado um grupo de cineastas em plena produção de um filme. Apresenta-se a eles e conhece Laura, noiva de Leonardo, o filho do prefeito e “produtor” da turma. Rodolfo apaixona-se por Laura e inspira-se nela para seus novos roteiros. Escreve então A Ilha da Morte, a história de um doutor maléfico que domina pela hipnose os moradores de uma ilha maldita. Enquanto isso, seu pai une-se a conspiradores que planejam matar Duarte, o temido e repressor capitão da polícia local. Rodolfo, apesar das reclamações do pai em relação a seus projetos, que julga infantis, começa a rodar seu filme usando inclusive dinheiro pertencente ao movimento revolucionário. A produção é estrelada por sua amada Laura e, ao estrear, leva os habitantes a se revoltarem com a rotina de repressão em que vivem.”
Num site da Film Society of Lincoln Center, encontrei o seguinte parágrafo:
“Em seu primeiro longa-metragem, Wolney Oliveira – um brasileiro que estava entre os primeiros a se graduar na prestigiada escola de cinema de San Antonio de los Baños, em Cuba, a “cidade sonolenta” onde o filme se passa – delicadamente cria um filme-dentro-do-filme que é ao mesmo tempo uma história de amor e um terno olhar sobre a passagem de um rapaz da inocência para a consciência sócio-política em um momento histórico turbulento. A bem feita reconstituição de época e reviravoltas cômicas na trama diminuem o peso, fazendo de El Cayo de la Muerte uma charmosa comédia dramática que é muito agradável de se ver.”
Meu Deus do céu e também da terra, não é possível que seja o mesmo filme que eu vi.
Consciência sócio-política? Reviravoltas cômicas? Não, o sujeito não viu o filme que eu vi.
Que eu vi, porque Mary, mais esperta, desistiu depois de suportar com estoicismo uns 20 minutos de uma narrativa capenga, boba, bocó, infantil, e com atores chocantemente, impressionamente mal dirigidos.
Vi o resto sozinho. E a coisa só ia piorando. É daquelas coisas que deixam o espectador envergonhado. É tudo tão ruim que sequer consigo explicitar exemplos da ruindade – o trailer do filme, no youtube, no entanto, fala por si só: http://www.youtube.com/watch?v=vFOISxYXQqs
No final, aparece uma dedicatória aos cineastas amadores que, na mesma cidade de San Antonio de los Baños onde o diretor Wolnei Oliveira estudou cinema, fizeram filmes de 8 mm, nos anos que antecederam a revolução que derrubou Fulgencio Batista e colocou Fidel Castro no poder. Eram, parece, puro trash, aqueles filmes amadores – e então este A Ilha da Morte, uma homenagem a eles, procuraria adotar o estilo trash dos homenageados. Em suma: o filme seria ruim de propósito, segundo o entendimento de um ou dois críticos benevolentes.
Trash de propósito. Sei, sei.
O filme abriu a 17ª edição do Cine Ceará, o Festival Ibero-Americano de Cine e Vídeo. Wolney Oliveira, o diretor do filme, é o diretor-executivo do Cine Ceará. Tem lógica.
Num site sobre telenovelas latino-americanas, todotnv.com, vejo que o casal central, Caleb Casas, que faz o rapaz apaixonado por cinema, e Laura Ramos, que faz Laura, a noiva do filho do prefeito da cidade, trabalham em novelas colombianas. Tem lógica.
O filme não consta do iMDB, o site mais enciclopédico sobre cinema que existe. Consta o diretor, constam os principais atores, mas o filme não está lá. Foi a primeira vez que procurei um filme no iMDB e não achei.
Está certo o iMDB. Este filme é inacreditável. Ele não existe.
A Ilha da Morte/El Cayo de la Muerte
De Wolney Oliveira, Brasil-Cuba-Espanha, 2006
Com Caleb Casas, Laura Ramos, Isabel Santos, Alberto Pujol, Claudio Jaborandy, Leonor Arocha, Lester Martínez, Lieter Ledesma, Haroldo Serra
Roteiro Arturo Infante, Manuel Rodríguez , Alfonso Zarauza
Música José Maria Vitier
Produção Bucanero Filmes, ICAIC, Iroko Films
Cor, 88 min
Bola preta.