2.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2008: Para quem gosta de muita doença, muita piração da cabeça, este filme da alemã Margarethe Von Trotta é um prato cheio. Não há um único personagem que sequer chegue perto de algum tipo de sanidade mental.
O filme abre com uma mulher numa banheira, conversando ao telefone com o pai. Diz a ele que gostaria de contar sobre sua amiga Carlotta. O pai (o ótimo veterano Armin Mueller-Stahl), que vemos em uma cadeira de rodas, sendo servido por uma bela e elegante criada, trata a filha com profundo, nojento desdém.
Corta, e temos um homem jovem chegando a um hotel, onde é reconhecido e bem recebido pelos funcionários. Enquanto ele está diante do balcão fazendo o check-in, entra no salão do hotel uma mulher de vestido vermelho berrante e maquiagem pesadíssima, se oferecendo aos homens que ali estão. Os funcionários do hotel tentam expulsá-la, mas o hóspede recém-chegado vai em seu socorro, a chama pelo primeiro nome que lhe vem na cabeça, Alice. Sobem para o quarto, ela deita, abre as pernas, tira a calcinha, expõe as propriedades para o homem e para a câmara, pergunta o que ele quer, diz que sem roupa é mais caro.
Corta, e temos o homem acordando; a mulher não está; está é o dinheiro que ele tirou da carteira para pagá-la. Ela não quis o pagamento.
Em seguida vemos esse mesmo homem, Robert Fabry (August Diehl), engenheiro, dono de uma empresa de construção, chegando a um escritório de advocacia. Conversa com o que parece ser o dono do escritório, que lhe diz que a dra. Carolin Winter (Katja Riemann), muito competente, já preparou o esboço de contrato para ele. Leva Fabry à sala da dra. Winter – o espectador vê que a dra. Winter é a moça da primeira seqüência, a da banheira, mas Fabry, antes do espectador, reconhece nela a mulher que ele acabou de comer na noite anterior – apesar de uma não parecer muito com a outra. Convida-a para jantar, com uma certa insistência, uma certa brutalidade.
Corta, e os dois estão jantando. Depois vão dançar, e ele a ataca com selvageria, primeiro na pista de dança, depois num canto qualquer do hotel; a advogada, recatada, assustada, foge dele como o diabo da cruz.
Ah! Temos então um caso de dupla personalidade: a recatada dra. Winter, assim como o dr. Jekyll, guarda um Mr. Hyde dentro de si, e de noite ataca como Carlotta, a puta de peruca, maquiagem pesada e vestido vermelho. Sei, sei.
A loucura está só começando. Teremos em seguida um quadro de obsessão, incesto, auto-mutilação, alcoolismo, tentativa de fatricídio, de assassinato, e muito mais.
De fato: para quem gosta de muita doença, muita piração da cabeça, eis aí um prato cheio.
Os atores estão todos bem. A atriz Katja Riemann, que faz a advogada de duas personalidades, é ótima.
Dona Margarethe Von Trotta – atriz de vários filmes de Rainer Werner Fassbinder e de Volker Schlöndorff, com quem foi casada durante 20 anos, e diretora de mais de uma dezena de filmes a partir de 1975 – tem uma fixação por espelhos. Em uma de cada quatro tomadas, há um espelho refletindo seus personagens pirados. Talvez seja uma maneira de dobrar a piração contida em cada cena.
Uma Outra Mulher/Ich bin die Andere
De Margareth von Trotta, Alemanha, 2006
Com Katja Riemann, August Diehl, Armin Mueller-Stahl, Barbara Auer, Karin Dor
Roteiro Pea Frölich e Peter Märthesheimer
Baseado em novela de Peter Märthesheimer
Música Christian Heyne
Produção Clasart Film
Cor, 104 min.
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Um comentário para “Uma Outra Mulher / Ich bin die Andere”