4.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2000: Esse diretor Mark Herman fez Laura – A Voz de Uma Estrela/Little Voice – e aquele filme era esplêndido. Este aqui é tão bom quanto, se não for melhor ainda.
Me peguei pensando, no fim, que este é um dos melhores, mais profundamente emocionantes filmes dos últimos dez anos, junto com dois que são seus parentes, Terra e Liberdade/Land and Freedom e Segredos e Mentiras/Secrets and Lies. Todos os três feitos nas Ilhas Britânicas – que coisa impressionante.
Este filme aqui pertence a essa linhagem nobre, e lembra outra linhagem nobre, a do grande cinema italiano de Os Companheiros a Nós que nos Amávamos Tanto. É um cinema fundado na generosidade com que faz o retrato do grupo, da sociedade.
Interessante. Nos anos 90, depois do fim do comunismo, sobrou o cinema inglês para fazer bons filmes políticos. O antigo centro do Império virou o único sobrevivente.
Este filme aqui faz o que Ou Tudo ou Nada/The Full Monty fez com humor escrachado, só que com seriedade, embora sem sisudez.
Também me peguei pensando que é um filme que reúne quase tudo que os críticos desprezam – além de generoso, é sentimental, piegas, apegado a esses valores tão antigos, arcaicos e antifuncionais como a mina de carvão que é o centro da trama – solidariedade, humanismo, respeito pelo ser humano. É belo, imprescindível – murro em ponta de faca contra o sistema econômico que destrói as vidas em nome do bem estar da economia das nações, esse estranho sistema que termina o milênio hegemônico no mundo inteiro, que preza mais as corporações do que esse melancólico, imprestável, anacrônico bicho homem.
Sentimental, piegas, anacrônico. Estupendo.
O músico abandonado pela mulher, cujo pai está morrendo, com os pulmões cheios de carvão, antes de tentar se matar aceita mais um trabalho como palhaço, em uma festa na igreja, e faz um discurso contra Deus para as crianças: “E Deus criou o Partido Conservador. Deus? O que ele anda fazendo? Ele pode levar John Lennon, pode levar os 300 rapazes da mina Ainsley, quer levar até meu pai – e Margaret Bloody Thatcher vive? O que ele está aprontando?”
O letreiro antes dos créditos finais lembra: “Desde 1984, 140 minas foram fechadas na Grã-Bretanha, à custa de 250.000 empregos”.
O título original, Brassed off, significa tired and annoyed, fed up – de saco cheio seria uma boa tradução, acho. É também, me parece, um jogo de palavras com brass, metal, de big brass band, um dos temas do filme.
Um Toque de Esperança/Brassed off
De Mark Herman, Inglaterra, 1999.
Com Pete Postlethwaite, Ewan McGregor, Tara Fitzgerald, Jim Carter, Mary Healey, Melanie Hill, Philip Jackson, Sue Johnston, Peter Martin, Stephen Moore, Stephen Tompkinson
Argumento e roteiro Mark Herman
Música Trevor Howard
Produção Chanel Four e Miramax
Cor, 107 min.
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Gostaria de saber como poderia adquirir o filme ” Um toque de esperança “. Desejo saber também se já existe este filme em DVD. Gopstaria de receber resposta, por favos, atraves do meu e-mail. Obrigado
Caro Hipólito, dei uma verificada e chequei que vi o filme Um Toque de Esperança em 2000, ainda no tempo do VHS; ele foi lançado por uma empresa chamada Filmark, de acordo com o guia Videobook 2001. Não encontrei o filme nos bons sites de venda brasileiros – ou ele não chegou a ser lançado em DVD, ou já saiu de catálogo. Mas está disponível nos sites estrangeiros, como o Amazon.