1.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2008: Este filme consegue a incrível, sensacional proeza de ser, ao mesmo tempo, absolutamente deslumbrante no visual e na música, e bobo, bocó, panaca no conteúdo.
O visual e a música assombram de cara, ainda nos créditos iniciais, enquanto a câmara segue o personagem central pelas ruas apinhadas de gente de Portoferraio, na ilha de Elba, entre a Córsega e a Itália continental, em 1814, poucos dias antes da chegada de Napoleão a seu exílio. A direção de arte, os figurinos, a reconstituição de época, a fotografia e os próprios movimentos da câmara – tudo é um primor, um espetáculo, uma coisa de babar.
Como outros ótimos filmes italianos que reconstituem histórias do passado (dá para lembrar, de imediato, Visconti, os irmãos Taviani), este aqui tem um cuidado extraordinário com a iluminação. Em cenas noturnas de exteriores ou interiores, há pouquíssima luminosidade – como era na realidade, antes da luz elétrica.
E o próprio tema do filme promete, no início. Esse personagem central que caminha pelas ruas de Portoferraio saindo de sua casa e indo em direção à escola em que dá aula é Martino (Elio Germano), um rapazote de 20 anos, um fervoroso crítico de Napoleão, a quem considera – com toda razão do mundo, diga-se – um traidor dos nobres ideais da Revolução Francesa, um tirano, um déspota, o responsável pela morte de centenas de milhares de pessoas nas guerras pela ocupação de quase toda a Europa.
Derrotado, forçado a abdicar, Napoleão está para chegar ao exílio na ilha, sob a vigilância de militares ingleses, mas ao mesmo tempo com um séquito de centenas de pessoas – e para a adoração de 99,99% da população, que o respeita como o imperador mais poderoso do mundo. Ao chegar, Napoleão vai requisitar alguém letrado para funcionar como seu secretário particular, anotar suas frases, seus pensamentos – e escolhem exatamente Martino, que pensa na chance de assassinar o tirano.
A seqüência do desembarque de Napoleão (interpretado pelo incansável Daniel Auteil, um sujeito capaz de fazer três ou quatro filmes por ano, todo santo ano, sem tirar férias nunca) e sua corte, visto como se fosse através dos olhos do garoto Martino, é de uma beleza deslumbrante. A câmara pega a multidão, Napoleão lá longe, um pontinho quase invisível, cercado de bajuladores por todos os lados.
Mas, a essa altura, o filme já demonstrou seu grande, imenso, incorrigível defeito. Ele é caricatural. O diretor Paolo Virzi provavelmente perseguia a farsa, o farsesco. O que obteve foi apenas o ridículo. Os atores berram a plenos pulmões o tempo todo, são exagerados em tudo, o over do over. É como se estivéssemos vendo uma aventura de Renato Aragão e seus Trapalhões no Tempo de Napoleão.
Fantástico: um trabalho técnico apuradíssimo, um visual deslumbrante – e um filme bocó.
Ah, sim, tem a deusa Bellucci. Monica Bellucci, deslumbrantérrima, desperdiça sua beleza como uma baronesa que nas horas vagas espanta o tédio dando para o jovem Martino. Quase no final do filme, Napoleão conhece a baronesa.
E aqui temos uma safadeza da Focus Filmes, a empresa que lançou o DVD no Brasil. O título brasileiro, Meu Caso com o Imperador, e a foto de Daniel Auteil como Napoleão ao lado de La Bellucci, dão a falsa impressão de que se trata de uma história de amor entre a bela mulher e Napoleão. Estão vendendo gato por lebre. Até porque, infelizmente, Monica Bellucci aparece pouco no filme.
Meu Caso com o Imperador/N (Io e Napoleone)
De Paolo Virzi, Itália-França-Espanha, 2006
Com Elio Germano, Daniel Auteil, Monica Bellucci, Sabrina Impacciatore, Valerio Mastrandea, Francesca Inaudi
Roteiro Francesco Bruni, Furio Scarpelli, Giacomo Scarpelli e Paolo Virzi
Baseado no livro N, de Ernesto Ferrero
Fotografia Alessandro Pesci
Direção de arte Francesco Frigeri
Música Juan Bardem e Paolo Buonvino
No DVD. Produção Catleya
Cor, 110 min
*1/2
Não concordo com vc gostei do filme.
achei uma comédia mto simpática, os berros fazem parte do contexto, afinal é um filme italiano!
Tbm queria q La Bellucci aparecesse mais, adorei ela como a baronesa histérica cheia de ironias, com aquele sotaque do sul da Itália, sempre aos berros com a empregada “Pascalina!!!!!!!”