Honra e Liberdade / River Queen


2.0 out of 5.0 stars

Anotação em 2008: O pano de fundo é a Nova Zelândia de meados do século XIX, as lutas eternas entre os colonizadores ingleses e irlandeses contra os nativos, os maoris, o embate de civilizações, o branco dito civilizado com todas as aspas possíveis contra os nativos.

Os personagens centrais – e aqui vem a grande diferença deste filme aqui em relação a tantas dezenas, talvez centenas de outros que enfocam o embate entre colonizadores e nativos, seja nas Américas, na África, na Ásia, na Oceania – acabam perdendo a identidade cultural, e oscilando entre ficar de um lado ou do oposto. Já não são mais os colonizadores, embora também não sejam exatamente os nativos – oscilam como pêndulos entre um e outro.

Só me lembro de outro filme que mostra exatamente esse tipo de conflito: Pequeno Grande Homem/Little Big Man, de Arthur Penn, de 1970, em que o personagem de Dustin Hoffman às vezes se sente índio, às vezes se sente branco.

Aqui, o personagem central, Sarah (Samantha Morton, essa excelente atriz capaz de tantas caras tão diferentes), filha de um colonizador irlandês (Stephen Rea, em papel muito pequeno), tem logo no início do filme um filho com um maori, para completo desgosto do pai. Ela o cria entre os brancos, até que, quando a criança está com 6 anos de idade, é raptado pelo avô, um chefe maiori (o pai do menino havia morrido).

Durante os sete anos seguintes, Sarah faz de tudo para encontrar o filho; quando finalmente o reencontra, ele tinha se transformado completamente num nativo. Há, então, lá pelo meio do filme, o diálogo esperado. A mãe diz que quer levar o filho para casa, ou seja, para a área dominada pelos brancos – e ele responde que, ali entre os nativos, no interior do país, rio acima, ele está em casa.

O visual do filme é riquíssimo. A paisagem da Nova Zelândia é belíssima, e o diretor de fotografia abusa dela e cria imagens maravilhosas. A câmara é um tanto nervosa, o diretor abusa da câmara de mão, especialmente no início; mas o tempo todo ela é inquieta, está quase sempre em traveling. As cenas de luta entre invasores e invadidos são extraordinariamente bem feitas. Ah, sim: a trilha sonora é maravilhosa.

Mas o que é, afinal, que o filme quer dizer?

O interessante é que ele não toma claramente um partido. Ao contrário do grande Penn, que é 100% pró-índio no seu épico dos anos 70, este filme aqui – me pareceu – não assume a defesa de um dos lados. Mostra o confronto, mostra que os dois lados em guerra são capazes de barbaridades. Acho que o filme pretendeu mostrar exatamente como esse tipo de conflito pode produzir dores profundas, angústias pesadas nas pessoas que não conseguem mais saber qual é sua identidade cultural – mas não teve o talento suficiente para explorar isso mais a fundo.

Vejo agora, depois de fazer a anotação acima, que o diretor Vincent Ward é neo-zelandês mesmo, nascido em 1956 – estava, portanto, com quase 50 anos ao fazer o filme; este foi o seu sexto trabalho como diretor.

Samantha Morton, que já vi interpretar, entre outras, uma irlandesa pobre imigrando para os Estados Unidos (Terra de Sonhos/In America, de Jim Sheridan, 2007), uma rainha escocesa (Elizebeth – A Idade de Ouro, de 2007) e uma americana do futuro (Minory Report, de Spielberg, 2002) nasceu em Nottingham, na Inglaterra, em 1977. Ótima atriz.

Honra e Liberdade/River Queen

De Vincent Ward, Nova Zelândia-Inglaterra, 2005.

Com Samantha Morton, Cliff Curtis, Kiefer Sutherland, Rawin Pere, Stephen Rea,

Roteiro Vincent Ward, Toa Fraser e Kelly Lions

Música Karl Jenkins

Fotografia Alun Bollinger

Cor, 114 min.

**

5 Comentários para “Honra e Liberdade / River Queen”

  1. Com a Samantha Morton vi “In America” que achei excelente e que já cá canta na minha estante e também “Minority Report” de que também gosto e que também já cá está há uns tempos.
    Este ainda não vi mas vou tratar disso.

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