Elizabeth – A Era de Ouro / Elizabeth: The Golden Age


Nota: ★☆☆☆

Anotação em 2008: Uma imensa, tremenda idiotice. Com uns 20 minutos de filme eu me sentia profundamente incomodado – embora me faltassem palavras exatas para expressar exatamente o que me incomodava. A sensação continuou até o fim do filme, que, como todo filme ruim, demora pra terminar.

Vamos ver se consigo expressar os motivos.

Tudo é falso – fake é a palavra mais exata, mais perfeita. Tudo é fake que nem uma nota de 3 guaranis paraguaios. Embora tenha sido feito em 2007 na Inglaterra, por um diretor indiano (Shekhar Kapur) e uma atriz australiana (Cate Blanchett), parece aquele pior tipo de filme histórico que Hollywood fazia nos anos 40 e 50, o pior do pior que os Cecil B. DeMille da vida fizeram. Todos aqueles figurinos perfeitos, imaculados – que o espectador vê o tempo todo que acabaram de ser feitos no maior capricho num riquíssimo departamento de vestuário de uma produção milionária. Todos aqueles cenários perfeitos, imaculados, palácios gigantescos, sem uma poeira, um estraguinho deixado pelo tempo – que o espectador sabe o tempo todo que acabou de ser feito por um riquíssimo departamento de direção de arte de uma produção milionária. Até as ruas da Londres do século XVI são imaculadamente limpas – quando até as pedras das ruas sabem que as cidades eram porcamente sujas.

Tudo igualzinho como se fazia mais antigamente, e que eu pensei que obras mais recentes e cuidadosas tivessem banido para sempre, coisas como, por exemplo, A Última Tentação de Cristo, ou a belíssima série Roma, ou os westerns mais recentes e cuidadosos, onde tudo é sujo, porco, empoeirado, nojento, como deve ter sido na vida real.

Aqui, não. Aqui tudo é fake como nos filmes históricos mais antigos. Tudo imaculadamente limpo, asseado, plastificado – fake. 

E todo mundo fala frases perfeitas, elaboradas, de grande impacto – que o espectador sabe o tempo todo que roteiristas bem pagos passaram meses inventando, e que pessoas reais jamais falariam.

E é tudo de um grande heroísmo, a história personificada nos grandes vultos, os reis e rainhas determinando o destino dos povos – de fazer o pobre conde Leão Tolstói se revirar de ódio na tumba, ele, que escreveu um dos maiores tesouros da literatura para mostrar que a história dos povos é escrita pelos povos da história.

Nem os grandes atores – pô, afinal, são Cate Blanchett, Geoffrey Rush, Clive Owen, Samantha Morton, tudo gente de primeiríssimo time – estão bem. Estão fake dentro daqueles figurinos fake naqueles palácios fake falando frases fake.

A única coisa que presta neste filme de merda é uma moça chamada Abbie Cornish, de beleza estonteante, traços perfeitos como se tivessem sido esculpidos por Michelangelo. Ela faz o papel de outra Elizabeth, uma dama de companhia da rainha Elizabeth I. Meu Deus: vejo agora que ela nasceu em 1982, é sete anos mais nova que a minha filha; é australiana, como Cate Blanchett e Geoffrey Rush; o iMDB lista que ela já ganhou seis prêmios e foi indicada para três outros. Da filmografia dela, só conheço Um Bom Ano/A Good Year, aquela boa brincadeira-descanso da dupla Ridley Scott-Russell Crowe; ela faz a garotinha americana que aparece na fazenda da Provence se dizendo parente do dono da propriedade.

O estranho é que não achei o primeiro filme dessa franchising (como se diz atualmente) tão ruim assim. Como foi que os caras perderam tanto a mão de repente?, me peguei pensando várias vezes.

Fui agora checar minhas anotações. Vi Elizabeth, o primeiro, que é de 1998, em março de 1999. Não devo ter achado uma droga total, mas também não me encantei por ele: dei duas estrelas, e não fiz comentário algum.

Elizabeth – A Era de Ouro/Elizabeth: The Golden Age

De Shekhar Kapur, Inglaterra-França-Alemanha, 2007.

Com Cate Blanchett, Geoffrey Rush, Clive Owen, Samantha Morton, Abbie Cornish

Argumento William Nicholson e Michael Hirst

Produção Zeta, Studio Canal e Working Title. Estreou em São Paulo 15/2/2008.

Cor, 114 min.

*

3 Comentários para “Elizabeth – A Era de Ouro / Elizabeth: The Golden Age”

  1. E eu que achava que esse filme incomodava MUITO só a mim! Em matéria de perder a mão em franchising esse filme só perde para Piratas do Caribe.

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