Entre o Céu e o Inferno / Black Snake Moan


Nota: ★★☆☆

Anotação em 2008: Eis aí uma história muito, mas muito doidona, sobre o encontro de dois personagens esquisitérrimos e antípodas, num lugarejo perdido no interiorzão do Tennessee (ou seria Mississippi?; tanto faz; o que importa é que interiorzão do Sul profundo).

Samuel L. Jackson faz um ex-músico de blues que acaba de ser abandonado pela mulher (que foi viver com o irmão dele) e é extremamente religioso. Christina Ricci, essa veteraníssima que estava então com 26 anos, faz uma ninfomaníaca drogada, cujo namorado vai para o Exército, e que tem ataques furiosos de desejo de trepar – ao som do barulhinho de cobras que dá ao filme o seu título original.

aricciEla é espancada e deixada inconsciente numa estrada por um dos caras que transam com ela – e é então recolhida e cuidada pelo ex-músico carola, que entende ser uma missão religiosa salvá-la do pecado. Saberemos bem mais para o meio do filme que a ninfomania da moça vem do fato de ela ter sido abusada sexualmente quando garota.

Os dois atores estão ótimos, embora em atuações um tanto exageradas. Christina Ricci aparece com pouquíssima roupa em várias cenas, de uma explicitude que beira o pornô.   

Aliás, sobre isso vejo no iMDB uma história interessantíssima. Conta-se lá que a atriz ficou furiosa ao ver a campanha de marketing do filme, que incluía pôsteres em que ela aparece – como no filme – mostrando o corpo, em poses sensuais. É gozado. Passa boa parte do filme com pouquíssima roupa, e aí fica brava porque os cartazes a mostram com pouca roupa. Queria o quê?

Mas tudo bem, vamos em frente. O fato é que, a partir daí, a jovem estrela passou a ser uma ativista em campanhas contra o estupro, e aderiu a uma organização, a Rede Nacional contra Estupro, Abuso e Incesto, fundada – veja só – pela cantora e compositora Tori Amos, ela mesma vítima de um estupro que descreveu em uma belíssima e trágica canção no disco Little Earthquakes.

O diretor Craig Brewer, nascido em 1971, virou queridinho da crítica moderninha; é, por exemplo, um dos 60 novos diretores escolhidos para figurar no livro Cinema Now, de Andrew Bailey, editado pela Taschen em 2006. Diz o autor: “Craig Brewer, baseado em Memphis (ah, então a ação se passa no Tennessee), reacendeu a chama do cinema regional americano – que contava com uma rica tradição de cinema independente antes de ter sido cooptada pelo dinheiro de Nova York e Hollywood – após seu segundo longa-metragem, Hustle & Flow (2004-2005), vendido por US$ 9 milhões no Festival de Cinema de Sundance. (…) Brewer cita Flannery O’Connor e Tennessee Williams como fonte de inspiração, apimentando seus melodramas de estufa com personagens marginais e desfavorecidos, entre as quais (…) as duas personagens principais de seu terceiro longa-metragem, Black Snake Moan (2006), um intérprete de blues da província (Samuel L. Jackson) que acredita ser capaz de expulsar o demônio de uma mulher branca vítima de abuso (Christina Ricci) que sofre de uma compulsão sexual e que ele acorrenta ao radiador da sua cabana no estuário do Mississipi.”

Entre o Céu e o Inferno/Black Snake Moan

De Craig Brewer, EUA, 2006.

Com Samuel L. Jackson, Christina Ricci, Justin Timberlake

Argumento e roteiro Craig Brewer

Música Scott Bomar

Produção Paramount Classics, New Deal

Cor, 115 min.

**

3 Comentários para “Entre o Céu e o Inferno / Black Snake Moan”

  1. Amo muitão esse filme.
    Tenho um poster gigante dele na sala da minha casa.
    Ricci está fantástica!

  2. Gostei bastante deste filme, em especial do trabalho dos dois actores principais. Parece-me uma película com qualidades.

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