Azul Escuro Quase Preto / Azuloscurocasinegro


Nota: ★★½☆

Anotação em 2008: Um filme sombrio, pesado, depressivo, que ganhou 19 prêmios – incluindo os Goyas para o diretor, o de novo ator para Quim Gutiérrez e o de ator coadjuvante para Antonio de la Torre.

Trata de filho que tem que cuidar de pai doente, de vida em prisão, de homossexualismo, de desemprego e falta de oportunidades e, principalmente, do abismo entre classes sociais na Espanha de hoje. Todas as conclusões do diretor a respeito desses temas duríssimos são pessimistas – ele procura demonstrar que mobilidade social é algo dificílimo de se atingir, e quem nasce pobre está condenado a ser pobre a vida toda, mesmo que se esforce e se eduque.

A narrativa não tem invencionices, criativol, embora o diretor seja jovem (é de 1970; tinha 36 quando fez o filme); é quase clássica. Começa narrando duas histórias diferentes, que rapidamente – com não mais que 15 segundos de ação – vão se cruzar.

O personagem central, Jorge (papel do estreante Quim Gutiérrez, um ator promissor), é filho de um zelador de prédio em uma cidade não identificada; deve ser Madri, um subúrbio de Madri, mas não se explicita. O pai tem uma doença degenerativa, perde a lucidez e o controle do esfíncter; o filho assume o lugar dele como zelador, e nas poucas horas vagas da dupla tarefa de cuidar do prédio e do pai doente, faz faculdade de administração, através da qual espera mudar de vida. Namora uma moça que mora no prédio, Natalia (Eva Pallarés), e que portanto tem melhor condição social que ele – e o fosso social está sempre presente na cabeça dele.

Um pequeno detalhe serve como emblema do fosso social entre os dois. Natalia sempre diz que nunca se importou com o fato de que eles são de classes sociais diferentes; Jorge diz que ele sempre se importou. Jorge tem os dentes da frente separados; quando Natalia volta para casa, depois de um período fazendo uma pós-graduação na Alemanha, diz a ele que a distância entre os dentes dele está aumentando. Mais tarde, numa discussão, Jorge diz a ela: Você tem dinheiro para estudar fora, tem dinheiro para usar aparelho de dentes.

Paralelamente à história de Jorge, o espectador vai vendo a história de duas pessoas numa prisão mista, para homens e mulheres – uma moça de classe média média (Marta Etura, boa atriz) perdida entre criminosas de origem bem mais humilde, que deseja engravidar (de qualquer homem que apareça) para ser transferida para uma ala melhor do presídio, e um homem condenado não se mostra por que crime (Antonio de la Torre); os dois vão se aproximar e, com uns 15, 20 minutos de filme, o espectador saberá que ele é o irmão mais velho de Jorge.

Depois entrará na narrativa uma terceira história, a de Israel (Raúl Arévalo), um vizinho e amigo de Jorge, em crise de identidade sexual depois de descobrir que o pai tem um lado homo.

Todo o elenco é muitíssimo bem dirigido.

O final nos deixou com a impressão de que o jovem diretor e roteirista não soube como resolver os diversos e pesados problemas que resolveu abordar. 

Azul Escuro Quase Preto/Azuloscurocasinegro

De Daniel Sánchez Arévalo, Espanha, 2006.

Com Quim Gutiérrez, Marta Etura, Antonio de la Torre, Héctor Colomé, Raúl Arévalo, Eva Pallares

Argumento e roteiro Daniel Sánchez Arévalo

Música Pascal Gaigne

Produção Tesela, P.C

Cor, 105 min.

**1/2

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