3.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2001, com complemento em 2008: Sempre achei, e continuo achando, que o cinema piorou muito, da década de 80 para cá: fazia-se um cinema muito melhor nos anos 30, 40, 50, 60, do que nas últimas décadas do século. No entanto, tenho visto muitos filmes antigos bem ruins, ultimamente (ou seja, em 2001), no Telecine que passa clássicos. E eis aí um filme novo, e muito bom. Um filme fora do comum, fora do padrão, fortíssimo, violentíssimo.
Eu jamais tinha ouvido falar o nome do diretor, nem do ator nem da atriz principais.
Comecei a ver com uma certa má vontade. No começo, achei: eis aí uma obra de diretor novo, querendo dizer que é novo e moderninho, tentando dar roupagem moderninha a coisas que já foram ditas tantas vezes – é a história de um roteirista que tenta escrever seu roteiro enquanto tem visões sobre o que está escrevendo. Isso Philippe de Broca fez com brilhantismo em O Magnífico/Le Magnifique, de 1973.
Cenas da City de Londres, o bando de yuppies da City – até o antiyuppismo hoje já é velho. Cenas daquelas hordas de pessoas indo trabalhar num centro de metrópole, gado perdido, sem sentido – isso já foi feito mil vezes, até por Hitchcock nos anos 30 naquele bobo Ricos e Estranhos.
O filme começa com alguns toques de graça meio sem graça, mas tentando fazer alguma graça: o jovem roteirista quer falar sobre Marianne, o protótipo da yuppie do nosso tempo, e vai à City tentar ver como são as yuppies do nosso tempo.
Na metade do filme, troca-se a tentativa de fazer alguma graça por uma tentativa de fazer um certo suspense. Pouco depois da metade, já não há mais graça nem suspense; muda-se de tom, fica-se sério, pesado, claustrofóbico, denso, há um relato detalhado, até nojento e escatológico, de uma jornada de profunda, dilacerante solidão de uma mulher.
Lembrei de Polanski em Repulsa ao Sexo, pelo clima claustrofóbico, doentio. Há um pouco de O Inquilino, pela justaposição de cenas da mulher, Glória, se maquiando diante do espelho, e do homem, o jovem roteirista, olhando os apetrechos de maquiagem diante do espelho de Glória. Lembrei de Romance Entre Amigos, um filme americano que é totalmente fora do padrão, ao descrever, em tempo real, um jantar de dois colegas de trabalho, profunda solidão a dois – pelo fato de serem de gente nova, e feitos com a coragem de fugir agressivamente do padrão. Há algo de Marco Ferreri, a autoagressão pela comida.
Nos letreiros finais, há uma série de agradecimentos do diretor, a parentes, amigos, uma imensa lista, que inclui até um fulano de tal, my Brazilian soulmate, ou algo assim. A lista termina com: To Roman Polanski, my mentor.
Tá explicado.
Um filme chocante, corajoso, forte.
A atriz que faz Glória, Andrea Hart, tem talento e guts. É preciso coragem para fazer aquela cena do vômito. É coisa aterradora – uma dessas coisas meio únicas.
Esta minha anotação acima, feita em 2001, me pareceu agora confusa. Então, aí vai a sinopse do AllMovie:
Este filme feito em Londres, a estréia em longa-metragem do diretor americano Benson Lee, deu o prêmio de melhor atriz no Festival de Sundance de 1998 à atriz de teatro Andrea Hart em seu primeiro filme. Começando em preto-e-branco, a história abre com o roteirista Roman (James Hicks) não conseguindo construir um sério drama social sobre Marianne (Julie Alanagh-Brighten), que compete com sucesso com os homens no mundo dos negócios. Com uma mudança para cor, Roman acorda, com bloqueio criativo, e vai para o distrito financeiro para achar inspiração. Lá ele encontra Gloria (Hart), que deixa cair seu telefone celular e sua chave. Isso permite que ele entre na casa dela e reúna informações sobre sua vida com base nas roupas, livros, fotos e diário dela. Ele tem uma visão ainda mais íntima, voyeurística dela ao se esconder no armário quando ela volta para casa.
Visões de Um Escritor/Miss Monday
De Benson Lee, Inglaterra-EUA, 1998.
Com Andrea Hart, James Hicks, Alex Gianninni, Louise Barrett
Argumento e roteiro Benson Lee e Richard Morel
Produção Lakeshorte International
P&B e Cor, 93 min.
Numa rápida olhadela na sua apresentação, vi que temos muito em comum, tb comecei a ver filmes e fazer anotações muito cedo com mais ou menos 11-12 anos…
Mas o que me trouxe ao site foi esse filme que vi em 2001 no Telecine. Adorei, foi um dos filmes que mais ficaram na cabeça e me lembro de muito detalhes até hoje.
É um filme dificil de achar, por isso te pergunto se você saberia me dizer se é possivel encontra-lo.
Cara Bárbara,
Muito obrigado por sua mensagem.
Legal que a gente tenha em comum essa coisa de anotar os filmes que vê. Todo
mundo deveria fazer isso, né?
E bem legal que você também gostou desse filme. Dei uma pesquisada, e
parece que ele não foi lançado no Brasil. Mas o Amazon tem – http://www.amazon.com.
Obrigado, e mande sempre comentários…
Miss Monday é um dos melhores filmes que eu já assisti na minha vida. Me prendeu toda a atenção. Andrea Hart fez uma interpretaçao stupenda. Eu amei. Comprei o filme óbvio. Não achei repulsivo ou nojento a cena da comida ou a cena do vomito. Assisti em choque e fiquei com pena do personagem Gloria. Reparei nas manchas ( que pareciam de queimaduras) nas pernas da Gloria, quando ela tirou a meia calça. E existiam as mesmas manchas vermelhas nas maos e braços. Talvez a mãe de Gloria a tivesse machucado quando criança. Eu pensei. Tive compaixão por Gloria. Mas nunca tive nojo. Bom, Miss Monday está na lista dos filmes mais marcantes que eu já vi.