0.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2007, com complemento em 2008: Meia estrela – a pior cotação possível para este filme. E isso porque o site não tem bola preta. Mas pode ser bola preta um filme do grande George Cukor com Anna Magnani e Anthony Quinn, os dois indicados ao Oscar por seus papéis?
E ainda por cima com trilha sonora do competente Dimitri Tiomkin, que inclui a canção Wild is the Wind, também indicada ao Oscar, que virou um clássico e teve, entre muitas outras, uma definitiva gravação de Nina Simone?
Ah, pode, sim, senhor. Parece impossível, mas pode, sim, senhor.
Para começo de conversa, os atores – que a Academia me perdoe – estão absolutamente exagerados, over, careteiros de deixar embaraçado um Jim Carrey.
E a história é grotesca: ao ficar viúvo, um sujeito importa da Itália a irmã da mulher morta para se casar com ela, e a trata como se ela fosse a falecida.
Tadinha de La Magnani. Das diversas atrizes italianas que Hollywood importou durante algum tempo – Sophia Loren, Gina Lollobrigica, Claudia Cardinale, Virna Lisi -, acho que foi Anna Magnani quem mais penou em papéis grotescos.
Bem. Vejo no AllMovie uma observação interessante. Diz Hal Erickson em sua resenha: “Wild is the Wind representa (talvez deliberadamente) a situação contrária à de The Rose Tattoo (A Rosa Tatuada, de 1955). Enquanto em Tattoo Anna Magnani interpretava uma viúva que não conseguia jamais encontrar um homem à altura de seu falecido marido, em Wind seu personagem, Giola, casa-se com o rancheiro italiano Gino (Anthony Quinn), que é perseguido pela memória de sua primeira esposa. A situação é mais complicada em Wind, já que a falecida mulher do imigrante italiano Gina era a irmão de Giola. Quando se cansa das mudanças de humor do marido, Giola se volta para o filho dele, Bene (Anthony Franciosa), por gratificação emocional e sexual.”
E, nisso aqui – interessante -, o filme se aproxima de Desejo/Desire Under the Elms, feito um ano depois, em que a personagem de Sophia Loren se apaixona pelo filho do marido fazendeiro.
Que coisa. Hollywood importava as divas italianas para, muitas vezes, tratá-las mal.
A Fúria da Carne/Wild is the Wind
De George Cukor, EUA, 1957
Com Anthony Quinn, Anna Magnani, Anthony Franciosa, Dolores Hart
Roteiro Arnold Schulman
Baseado em livro de Vittorio Nino Novarese
Música Dimitri Tiomkin
Produção Hal B. Wallis
P&B, 114 min.
Embora no grotesco das seqüências da filmagem, brilha o talento de Anna Magnani, que esbanja sabedoria com sua caracterização temperamental. Ela afirma sua arte acima de qq. banalização do roteiro e da filmagem.
J. Pessoa,05/09/2010