Desde que Otar Partiu / Depuis qu’Otar est Parti…


Nota: ★★★☆

Anotação em 2006, com complemento em 2008: Bonito, extremamente sensível, extraordinariamente bem feito. Lembra Adeus, Lênin, com a brutal diferença de aqui não é a Alemanha Oriental, mas a paupérrima Geórgia – por ironia, a terra de Stalin.

E lembra também Salada Russa em Paris, por mostrar a dura realidade da vida depois da implosão do império soviético.

É a história de uma família de três mulheres, de três gerações, vivendo em um minúsculo apartamento de Tbilisi, numa Geórgia de economia devastada depois do fim do comunismo. Eka (Esther Goritin) é a matriarca da família, uma velhinha viúva, já doente, que tem saudades dos tempos melhores da União Soviética e ainda admira Stálin; é um francófila – admira tudo que diz respeito à França, tem uma coleção de livros em francês, deixada pelo marido. O que de mais precioso Eka tem são as cartas que recebe periodicamente do filho Otar, que fugiu do país e vive em Paris. A filha dela, Marina (Nino Khomassouridze), é uma mulher amargurada com a vida dura, a pobreza, a falta do marido morto. A filha de Marina, Ada (Dinara Droukarova) é uma jovem universitária, que estudou francês e usa a língua como ganha-pão; apesar de todas as dificuldades da vida apertada, é cheia de vida e esperança.

Depois de mostrar o dia-a-dia da vida dessas três mulheres, o filme chega a seu grande drama: Marina e Ada ficam sabendo que Otar morreu e foi enterrado como indigente em Paris. Temendo que a notícia arrase de vez com a saúde já precária de Eka, as duas não contam a tragédia para ela, e Ada passa a escrever cartas para a velha senhora como se fosse Otar. A mentira vai perdurando, até que a matriarca anuncia que vendeu a coleção de livros e outras coisas que possuía para que fossem, as três, visitar Otar na França.

A maior parte do filme foi feita em locação em Tbilisi mesmo – e é uma boa oportunidade para vermos um pouco desse país tão pouco mostrado no cinema. Foi a estréia da diretora Julie Bertucelli, uma jovem nascida em 1968 – e ela chega esbanjando talento e sensibilidade. Filha do cineasta Jean-Louis Bertucelli, ela trabalhou como assistente de vários diretores, inclusive Krystof Kieslowski e Bertrand Tavernier; depois, dirigiu documentários. Este seu filme de estréia ganhou o Grande Prêmio do Júri na semana da crítica no Festival de Cannnes de 2003. Até 2008, ainda não voltou a dirigir.

Desde que Otar Partiu/Depuis qu’Otar est parti…

De Julie Bertucelli, França-Bélgica, 2003.

Com Esther Gorintin, Nino Khomasuridze, Dinara Drukarova

Roteiro Julie Bertucelli e Bernard Renucci

Cor, 103 min.

Um comentário para “Desde que Otar Partiu / Depuis qu’Otar est Parti…”

  1. O roteiro de Desde que Otar partiu é um plágio descarado do conto A saúde dos Doentes, de Julio Cortázar, do livro Todos os Fogos, o Fogo, de 1966. Só posso interpretar como roubo, pois não há referência alguma nos créditos. Acho brilhante a crítica de Érico Borgo, mas ido deveria ser mencionado.

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