[rating:4]
Anotação em 2004, com complemento em 2008: Pesado, duro, desesperançado painel sobre crianças pobres na Roma pós-Segunda Guerra Mundial, feito no ano seguinte ao fim do conflito. É um dos melhores filmes de Vittorio De Sicca e um dos grandes do neo-realismo italiano, na minha opinião.
O roteiro é rico, tudo é cheio de matizes, sem qualquer simplificação ou generalização. Não dá pra pensar em Los Olvidados, de Buñuel, no Pixote de Babenco, e nem mesmo nos Incompreendidos de Truffaut sem ter visto este filme.
Pauline Kael fez uma bela resenha:
“Estudo lírico de Vittorio De Sicca de como dois meninos traídos pela sociedade traem um ao outro e a si mesmos. Tem uma suavidade e uma simplicidade que sugerem grandeza de sentimento, e isso é tão raro em filmes que para citar uma comparação a buscamos fora do veículo. Se Mozart tivesse composto uma ópera passada na pobreza, ela talvez tivesse esse tipo de beleza dolorosa. Os dois meninos engraxates mantêm sua amizade e seus sonhos em meio à apatia da Roma do pós-guerra, mas são destruídos por suas próprias fraquezas e desejos, quando mandados para a prisão por contrabandear no mercado negro. Cesare Zavattini escreveu esse estudo da corrupção da inocência; é um filme de protesto social que se eleva acima de seu propósito.”
Vítimas da Tormenta/Sciuscà
De Vittorio De Sicca, Itália, 1946.
Com Franco Interlenghi, Rinaldo Smordoni, Annielo Mele
Roteiro Sergio Amidei, Adolfo Franci, Cesare Giulio Viola e Cesare Zavattini
P&B, 93 min