Longe do Paraíso / Far From Heaven


Nota: ★★★★

Anotação em 2004, com complemento em 2008: Um absoluto, absoluto brilho. É uma extraordinária homenagem a Douglas Sirk, o mestre do melodrama dos anos 40 e 50, mas é muito, muito mais que isso, é um panfleto sutil e ao mesmo tempo violento contra o racismo, o preconceito social, os preconceitos todos, a repressão.

Tudo, tudo é perfeito: a história, os movimentos de câmara, a fotografia, a música. Elmer Bernstein, que morreu este mês de agosto de 2004, disse que, por ser um filme à moda antiga, à moda dos melodramas de Sirk nos anos 50, ele pôde compor uma trilha como já não se faz mais, a trilha que ele já considerava a melhor que havia feito nos últimos 15 anos.

afar1Os atores, meu Deus do céu e também da terra, que brilho! Peter Travis escreveu na Rolling Stone, segundo informa a caixinha do filme, que “Julianne Moore e Dennis Quaid (tiveram as) melhores performances de suas carreiras”  – e isso é a mais pura verdade, embora Julianne Moore tenha tido tantos papéis bons na vida. (Ela concorreu ao Oscar por este filme, e perdeu para Charlize Theron em Monster.)

A trama se inspira, e muito, em um dos filmes de Douglas Sirk, Tudo o que o Céu Permite/All That Heaven Allows, de 1955 – e é preciso reparar na semelhança dos títulos originais, All That Heaven Allows, Far from Heaven. A ação dos dois filmes se passa nos anos 50. Assim como a personagem de Jane Wyman no filme dos anos 50, a personagem de Julianne Moore é uma mulher  de classe média alta, que vive uma vida confortável num belo subúrbio americano. Assim como no anterior, a mulher vai sentir atração por um homem mais pobre que ela, um jardineiro. Assim como no anterior, os conflitos familiares vão explodir durante uma festa.

afar2Mas há também grandes diferenças entre as duas histórias. Aqui, o jardineiro é negro – o que aumenta o fosso entre os dois, e o choque que uma relação entre eles provocaria naquela sociedade retrógada, careta, repressora. E mais, e ainda pior: no filme anterior, a mulher era viúva. Aqui, ela é casada, e com um marido que a trai – com outro homem. E é preciso realçar que a ação se passa nos anos 1950, infinitamente mais retrógados do que os anos 2000 para questões como amores inter-raciais e homossexuais.

É muito impressionante ver como um sujeito de apenas 40 anos pôde fazer um filme tão admiravelmente adulto e maduro. Esse Todd Haynes, que daqui para a frente vou perseguir, nasceu em Los Angeles em 1961. Vi agora no iMDB que o primeiro filme que ele dirigiu foi em 1985, Assassins: A film concerning Rimbaud. Em 1987 fez Superstar: The Karen Carpenter Story. Em 1998 fez Velvet Goldmine, o único que eu já vi – na época, gostei bem, mas não fiquei deslumbrado; acho que deveria agora rever. Para 2005, ele tem o projeto de um filme chamado I’m not there: Suppositions on a filme concerning Dylan.

 O parágrafo acima, é claro, foi escrito em 2004. Só em 2008 eu veria Eu Não Estou Lá/I’m Not There, o filme de Todd Haynes sobre “as muitas vidas de Bob Dylan”, um filme muito doido, muito surreal, complexo e fascinante – exatamente como o artista homenageado.

Longe do Paraíso/Far From Heaven

De Todd Haynes, EUA, 2002.

Com Julianne Moore, Dennis Quaid, Dennis Haysbert

Argumento e roteiro Todd Haynes

Música Elmer Bernstein

Fotografia Edward Lachman

Prod TF1 International Pictures e Volcan Production

Cor, 104 min

5 Comentários para “Longe do Paraíso / Far From Heaven”

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *