4.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2003 e 2008: Uma beleza, uma maravilha, um brilho este terceiro filme dirigido por Tim Robbins (depois de Bob Roberts e Os Últimos Passos de um Homem/Dead Man Walking). Ele rema totalmente contra a corrente e faz um canto de amor aos ideais socialistas absolutamente estranho no ninho destes tempos direitistas.
É um painel largo, amplo, que focaliza pelo menos uma dúzia de histórias pessoais que se interligam tendo como pano de fundo o ambiente multifacetado e em profunda transformação da Grande Depressão sendo enfrentada pelas reformas do governo Roosevelt – especificamente um programa federal de incentivo ao teatro, que os reacionários depressa apontaram como filocomunista.
A história se baseia em fatos e personagens reais, como, por exemplo, as figuras de Nelson Rockfeller (John Cusak), Diego Rivera (Ruben Blades), Frida Kahlo (Corina Katt Ayala), Orson Welles (Angus Macfadyen), John Houseman (Cary Elwes), que se misturam a personagens fictícios. O que serve de fio condutor para a história é a criação, pelo compositor Marc Blitzstein (Hank Azaria), e depois a montagem, dirigida pelo jovem Orson Welles, de uma peça musical abertamente esquerdista.
O elenco é um absurdo de bom – reúne mais que uma dúzia de grandes atores, quase um quem-é-quem do bom cinema americano (e inglês) do final do século XX.
O plano-seqüência de abertura, um dos mais espetaculares que já vi, vale por muitos filmes. É um tour-de-foce arrebatador, brilhante, coisa para aplaudir de pé como na ópera: vemos em primeiro plano uma mulher (Emily Watson) deitada no chão, atrás de uma tela de cinema, que começa a passar um cinejornal com notícias da Europa – a Segunda Guerra se avizinha – e dos Estados Unidos – o país assolado pela depressão procura meios para escapar dela; a mulher acorda, levanta-se, vai andando pela coxia do cinema-teatro; alguém a vê e corre atrás para expulsá-la, mas ela já está correndo para a rua, onde chega esbaforida e depois tenta caminhar devagar, normalmente; chega-se a uma hidrantes junto ao meio-fio, do qual escapa um esguicho d’água, e ela aproveita para limpar o rosto sujo, as axilas; a câmara a abandona um pouco para mostrar a fila que se forma na calçada, atores, atrizes, cantores, dançarinos, ventríloquos, escritores, dramaturgos, todos os tipos de artistas e artesãos desempregados desesperadamente à procura de uma chance naquele cinema-teatro onde uma comissão do programa federal aceita inscrições para futuras peças, projetos de teatro ou de circo; depois a câmara (sem corte algum, em absoluto, a mesma tomada sem parar, o mesmo plano-seqüência) volta a focalizar nossa pobre heroína, já de rosto lavado, em andrajos, tentando parar os passantes para cantar em troca de alguns centavos; a câmara passeia, passeia por ali, e então focaliza uma janela de um apartamento dentro do qual o compositor Marc Blitzstein está sentado diante do piano tentando compor sua peça musical.
É, sim, de aplaudir de pé como na ópera. E o filme está só começando.
O Poder Vai Dançar/Cradle Will Rock
De Tim Robbins, EUA, 1999.
Com John Turturro, Emily Watson, Hank Azaria, John Cusak, Joan Cusak, Bill Murray, Vanessa Redgrave, Susan Sarandon, Hank Azaria, Paul Giamatti, Jack Black, Barbara Sukowa, Gretchen Mol
Roteiro Tim Robbins
Música David Robbins
Fotografia Jean-Yves Escoffier
Produção Craddle. Estreou em São Paulo 25/1/2002
Cor, 133 min.
Vi ontem este filme e não fiquei muito satisfeito. Apreciei a posição política do realizador mas penso que há personagens em demasia e um grande amontoado de factos a acontecer ao mesmo tempo. Foi um tanto penoso de ver.