Um Sinal de Esperança / Jakob the Liar


Nota: ★★★☆

Resenha na coluna O Melhor do DVD, no site estadao.com.br, em 2000: Em seu depoimento-comentário para a edição de Um Sinal de Esperança em DVD, o diretor húngaro Peter Kassovitz conta que durante alguns anos tentou, sem sucesso, encontrar formas de financiamento para fazer o filme baseado no livro de Jurek Becker. Só conseguiu depois que levou o projeto para o casal Marsha e Robin Williams. Ela é produtora do filme e seu marido assina como produtor executivo.

É inevitável a comparação com A Vida é Bela, ou ao menos a lembrança dele, porque o filme chega depois da premiadíssima obra de  Roberto Begnini e, como ele, ousa tratar o holocausto dos judeus na Segunda Guerra Mundial com um certo humor.

Aqui é preciso fazer um parênteses para lembrar que não é muito claro quem teve a idéia primeiro, ou quem afinal teve a ousadia de concretizar primeiro a idéia. A Vida é Bela é uma produção de 1997; este Um Sinal de Esperança, embora seja uma produção de 1999, foi filmado entre outubro e dezembo de 1997 – e, como se mencionou acima, era um projeto do diretor Kassovitz havia anos. Da mesma época é uma terceira tragicomédia sobre o holocausto, Trem da Vida, do romeno Radu Mihaileanou, exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 1998.

De qualquer forma, mais importante que determinar quem fez primeiro é assinalar que, muito mais do que filme italiano, o humor aqui é extrema e agressivamente amargo, e o horror do maior genocídio da História é muito mais cruamente exposto; comparado com este filme, A Vida é Bela parece de fato um conto de fadas cor de rosa.

Nos comentários em áudio que o espectador pode ouvir ao longo da versão em DVD, o diretor Kassovitz conta que o roteiro – redigido a quatro mãos por ele e pelo escritor francês Didier Decoin – puxava mais para a comédia. Foi Robin Williams, segundo Kassovitz, quem, ao interpretar Jakob Heym “com tanta sinceridade e tensão”, acabou puxando a narrativa “mais para a emoção do que para a comédia”.

É bem possível que Robin Williams estivesse cansado das acusações de careteiro, de ator  capaz apenas de interpretar Robin Williams. O fato é que ele conseguiu uma performance admirável.

O filme, infelizmente, tem aquela coisa totalmente sem sentido, sem lógica, mas que o cinema americano usa há tanto tempo, que é fazer os personagens, sejam eles de onde forem, falarem em inglês; aqui, são todos judeus poloneses, e falam inglês – com sotaque do Leste Europeu! É um total absurdo, só compreensível se se lembrar que, afinal, para se pagar, um filme tem que ser aceito no mercado americano, e eles se acham o umbigo do mundo e não conseguem ler legendas. Abstraindo-se isso, no entanto, o elenco, composto por americanos, alemães, húngaros, poloneses, está brilhante.

É um filme forte, duro, muitas vezes pesado, sempre irônico, de uma ironia amarga, cáustica. Expõe, com competência, a idéia que propõe defender – e que é dita sem meios tons, às claras, explicitamente: sem esperança não há vida; é preciso haver esperança – mesmo que seja falsa, mentirosa.

 Complemento em 2008: Eis aí mais uma prova de que mesmo os resenhistas bem intencionados podem cometer erros. Ao reler em 2008 a resenha acima que fiz em 2000 e dar uma olhada no IMDB, esse excelente site sobre filmes, percebi que este filme na verdade é a refilmagem de uma obra alemã ocidental de 1975, Jakob, der Lügner, dirigida por Frank Beyer e igualmente baseada na novela de Jurek Becker. Essa informação não constava de nenhum dos extras do DVD da produção de 1999. O próprio autor da novela fez o roteiro do filme da Alemanha Ocidental.

Outra omissão imperdoável na resenha que eu fiz: era necessário dizer que o diretor Peter Kassovitz é o pai de Mathieu Kassovitz, que, quatro anos antes, em 1995, havia dirigido La Haine, um filme importantíssimo sobre o ódio racial na França.

Um Sinal de Esperança/Jakob, The Liar

De Peter Kassovitz, EUA-França-Hungria, 1999.

Com Robin Williams, Liev Schreiber, Armin Mueller-Stahl

Roteiro Peter Kassovitz e Didier Decoin

Baseado em novela de Jurek Becker

Música Edward Shearmur

Cor, 120 min

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