1.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2000: Interessante: eis aí um filme muito ruim, mas muito ruim mesmo, que eu vi com muita atenção e interesse. Tinha gostado muitíssimo de Por Uma Noite Apenas/One Night Stand, que esse Mike Figgis viria a fazer muito depois. É muito, muito ruim. Mas, no entanto, porém, todas as adversativas colocadas, é um filme que já mostra que o sujeito tem talento; era imaturo e quis fazer um filme extremamente pretensioso. É cheio de maneirismos, pequenos truques de câmara, pra dizer assim: olha, gente, eu tenho talento!
Os atores são péssimos, os diálogos às vezes são completamente absurdos, a história é pretensiosíssima – mas o sujeito já tinha talento, sim.
Lá pro fim do filme, me peguei com a seguinte definição: é uma espécie assim de Voltar a Morrer em que tudo dá errado, em que nada funciona direito. Voltar a Morrer é um daqueles raros filmes em que tudo dá certo, tudo funciona perfeitamente, tudo se encaixa. Este é o contrário.
Anotei meses atrás, ao ver Voltar a Morrer pela terceira vez: Uma das coisas que mais me impressionam nessa nova revisão foi o fato de que não há nada, nada, absolutamente nada gratuito no filme. Tudo, todos os pequenos detalhes, tudo tem sentido para a história, para o clima, para o ambiente.
Pois está certo: este filme agora do Mike Figgis é uma espécie assim de Voltar a Morrer às avessas, em que tudo dá errado.
Tudo é gratuito, tudo é só por maneirismo, tudo é fake.
Tem algum elemento de Um Corpo que Cai, também. Kim Novak não está lá gratuitamente. Ele achou provavelmente que faria uma citação a Um Corpo que Cai, a morte recorrente, voltar a morrer, e por isso escolheu Kim Novak. Deve ser.
Agora vou ver o que diz o Cinemania.
Ah, sim, então eu vi mais filmes do Figgis do que eu imaginava. É dele Justiça Cega/Internal Affairs, de 1990, bom policial sobre tira corrupto (Richard Gere) sendo investigado por cara da corregedoria (Andy Garcia). É dele também Mr. Jones, de 1993, de novo com Gere e com a beleza da Lena Olin, um filme fraquinho. E também é dele Nunca Te Amei/The Browning Version, de 1994, com Albert Finney e Greta Scacchi, refilmagem da peça de Terence Rattingan, belo, sutil, sobre incomunicabilidade entre um professor inglês que está se aposentado e a mulher que o trai. Este aqui, Liebestraum, foi o quarto filme dirigido por ele.
A biografia reforça o que pensei do filme: o bicho é um estilista. A definição que a biografia faz do filme é ótima: “(Liebestraum) made precious little sense-something about a 40-year-old sex scandal, corruption, and family madness-but had style to spare.”
A definição é melhor que a resenha do Leonard Maltin; este dá duas estrelas e meia, embora também considere esquisita a história (de autoria de Figgis, como a dos demais filmes dele; o bicho é um autor, e também faz as músicas de seus filmes, um dos motivos pelos quais gostei demais do One Night Stand): “An architectural writer visits his dying mother in a small town, only to get involved in a forty-year-old sex scandal, his own adultery, and the demolition of the town’s most distinctive building by his lover’s husband. So-so material with a truly insane title; directed (overdirected?) with some style by the maker of STORMY MONDAY. Novak, who’s wasted, spends most of the film bedridden in a gloomy hospital. Available on video in R and unrated versions.”
Um interessantíssimo péssimo filme.
Liebestraum, Atração Proibida/Liebestraum
De Mike Figgis, EUA, 1991.
Com Kevin Anderson, Pamela Gidley, Bill Pullman, Kim Novak
Argumento e roteiro Mike Figgis
Produção MGM.
Cor, 109 min.
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