2.0 out of 5.0 stars
Anotação em 1998: Sim, é um filme importante. Sem dúvida. Segue o tal do Dogma 95 – um manifesto dinamarquês radical, com acho que dez mandamentos absolutamente rígidos contra o cinema comercial que se faz no mundo inteiro. Não se pode usar luz que não seja natural, não se pode usar música, todo o som tem que ser direto, não se permite nenhum efeito especial ou cenário artificial, a câmara tem que ser sempre de mão ou no ombro, o filme tem que ser sempre 18mm, um bando de coisas nesse gênero.
As pessoas que gostam de cinema, parece, andavam querendo atitudes assim corajosas e radicais contra o cinemão – prova disso é que o filme, de conteúdo absolutamente indigesto e forma violentamente anti-establishment cinematográfico, foi um dos preferidos da última Mostra de Cinema de São Paulo, além de ter ganho Prêmio Especial da Crítica em Cannes e ter sido elogiadíssimo pela crítica internacional.
Legal. Em tese, todo tipo de renovação, de sopro novo, é sempre muito bem-vindo.
Eu, pessoalmente, talvez esteja meio velho para tanto radicalismo.
Minha sensação foi de que, na ânsia do radicalismo, se fez um filme, neste caso específico, exageradamente formal. Quer dizer: o pobre do espectador fica percebendo o tempo todo a questão formal – quando, sabemos todos, o mais importante é a união perfeita entre forma e conteúdo, de tal maneira que um ajude o outro, deixe o outro fluir legal, e não que um se sobressaia ao outro.
Eu, pessoalmente, me cansei de tanta câmara na mão, de tanto contre-plongé enviesado, de tanto plano torto, de tanta imagem mal focada, de tanto imagem mal iluminada, de tanto grão aparecendo borrado em imagens de big close up, de tanto ruído excessivo (as tomadas do início com o ruído dos pneus dos carros nas pedras são absolutamente sacais).
Recursos formais – me parece – são excepcionais quando bem usados, para realçar algo que se quer dizer. Usados e abusados ao extremo, ao longo de 105 minutos, os recursos formais enchem o saco. E até tiram a atenção do espectador para o que se está contando.
E o padrão geral de imagem ruim me parece um disparate: vamos fazer um filme de imagem sujas, mal-feitas, mal iluminadas.
Me lembro do velho Igor Montagu, que trabalhou com o Hitchcock e com o Einsenstein, que dizia, sabiamente: tomada como se fosse de dentro de uma galadeira, ou debaixo das rodas de um carro, isso é besteira, porque a câmara é o olho humano, e o olho humano não fica embaixo do carro ou dentro da geladeira.
Pois bem. Falei sobre o filme, e falei sobre a forma. Alguém prestou atenção mais ao que estava sendo dito do que à forma com que estava sendo dito?
Bom. O que foi dito é chato, pentelho, opressivo, distante de 99% da humanidade. Pensando bem, é o seguinte: eta filme chato, pentelho, babaca.
Festa de Família/Festen
De Thomas Vinterberg, Dinamarca, 1998.
Com Ulrich Thomse, Henning Moritzen, Thomas Bo Larsen
Argumento Thomas Vinterberg
Roteiro Thomas Vinterberg e Mogens Rukov
Cor, 105 min.
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