Particularidades do Casamento / Married to It


2.0 out of 5.0 stars

Anotação em 1997: O filme é tão cheio de boas intenções quanto o cemitério. A primeira proposta já é boa: um filme sobre relações afetivas, casamentos, relações dos casais, relações entre casais amigos de diferentes situações financeiras. Com alguma discussão sobre o que restou dos nossos sonhos da juventude agora que somos maduros e nossas vontades, menos fortes. Passando por alguma discussão sobre criação de filhos, e a convivência da segunda mulher com a filha do primeiro casamento do marido.

São três casais na Nova York da abertura desta década de 90, a década seguinte à do yuppismo. Dois dos casais são formados por gente que era jovem nos anos 60, o outro é formado por jovenzinhos. Beau Bridges e Stockard Shanning fazem o casal que se manteve mais pobre e basicamente fiel aos ideais da juventude; têm dois filhos jovens, caretas como mandam os tempos; ele trabalha na assistência social da prefeitura da capital do mundo, ela é chefe da associação de pais e mestres da escola dos filhos.

Ron Silver e Cybill Shepherd fazem o casal mais cheio de matizes; ele foi um sonhador, um believer, nos anos 60, e agora é um industrial, com muito menos dinheiro do que a segunda mulher, ela uma executiva de grande corporação; ela é fútil e gostaria de ser mais fútil do que na verdade é; ele tem uma filha adolescente chata e uma ex-mulher mais chata ainda.

Robert Sean Leonard e Mary Stuart Masterson são os jovenzinhos que vieram do interior profundo (Iowa, mais precisamente) para a capital, ele ingênuo e com emprego bom em Wall Street, onde usam e abusam de sua ingenuidade, ela uma psiquiatra bem intencionada mas deixando-se facilmente prender na armadilha de virar a dona de casa do marido que ganha bem.

Os três casais se conhecem por causa da escola dos filhos (onde a jovem psiquiatra trabalha). E vão desenvolvendo uma amizade que não tem muita explicação, dadas as diferenças tão profundas que os separam.

Não é um filme cheio de boas intenções mas abertamente ruim. Não, de forma alguma. É um filme cheio de boas intenções mas sutilmente fraco. Acho que o que dizem do diretor Arthur Hiller é isso mesmo: tadinho, ele é bem intencionado mas fraquinho demais. O tom do filme, de nostalgia do idealismo dos anos 60 e de crítica a esse mundo tomado pelos yuppies, é correto, ideologicamente, mas tão esquisito, ou meio fora do tom, como o cabelo grande do próprio Hiller como presidente da Academia nas cerimônias de entrega de Oscar. Difícil exprimir direito. É correto, é bom, é bem intencionado, mas soa como falsete.

 A canção do final e dos créditos finais, The Circle Game, uma pérola, foi escrita em 1966 por Joni Mitchell.

Particularidades do Casamento/Married to it

De Arthur Hiller, EUA, 1991.

Com Beau Bridges, Cybill Shepherd, Mary Stuart Masterson, Robert Sean Leonard, Stockard Channing, Ron Silver.

Argumento e roteiro Janet Kovalcik

Música Henry Mancini

Cor, 112 min

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