A Noite de São Lourenço / La Notte di San Lorenzo


[Rating:3.5]

Anotação em 1997: Brilhante, sim. Brilhante, fortíssimo, emocionante, com uma puta simpatia pelo bicho homem, esse ser infeliz que cria maravilhas e guerras. O filme tem aquela coisa em que os italianos são especialistas – o painel, o afresco, o retrato de uma realidade grande, vasta.

Dois ou três personagens se destacam mais, mas é um filme sobre o coletivo, sobre os moradores de San Martino, um vilarejo da Toscana. O espectador acompanha ao mesmo tempo uns 20 personagens.

O mais impressionante de tudo, me pareceu, é que, no meio de toda aquela loucura, aquela insensatez, aquele desatino, ninguém, em momento algum, questiona todo o absurdo da guerra, da perda das casas, da caminhada louca à procura de nada, das mortes todas. Quero dizer: o filme foi feito para isso, para questionar o absurdo da guerra, o absurdo da divisão dos próprios italianos, da guerra civil que se instala, os assassinatos de irmãos, o fato de que todos, em determinado momento, se transformam em assassinos. E, para questionar isso, o filme propositadamente não mostra um só personagem perplexo com o fato de que todas as ordens naturais das coisas foram para o espaço, para o vinagre. Como se, na guerra, todos aceitassem como normal a loucura, o contra-senso, a vida de pernas para o ar.

A própria narradora da história – contada como uma fábula para fazer dormir o seu bebê – tinha seis anos em 1944, durante os acontecimentos, e se divertia com tudo aquilo, a vida fora da rotina, como se a guerra fosse um feriado, uma feira, um playcenter.

Vamos ver o que eu escrevi sobre o filme no CD da II Guerra da Agência Estado:

Nos últimos dias da guerra, os moradores do vilarejo de São Lourenço, na Toscana, se dividem entre os que são mortos pelos alemães e os que enfrentam os compatriotas fascistas. Passado (e rodado) na terra natal dos irmãos Taviani, com ótima fotografia e um elenco uniformemente perfeito, o filme é brilhante e comovente. Ganhou o prêmio especial do júri em Cannes.

Tem erro. O vilarejo é San Martino. (O dia é que é de São Lourenço.)

A Noite de São Lourenço/La Notte di San Lorenzo

De Paolo e Vittorio Taviani, Itália, 1982.

Com Omero Antonutti, Margarita Lozano, Claudio Bigagli, Massimo Bonetti. Norma Martelli, Enrica Maria Modugno, Sabina Vannucchi

Roteiro de Paolo e Vittorio Tavini e Giuliani, com a colaboração de Tonino Guerra

Fot Franco di Giacomo

Música Nicola Piovani

Cor, 105 min

6 Comentários para “A Noite de São Lourenço / La Notte di San Lorenzo”

  1. Filme maravilhoso. O absurdo e a estupidez da guerra, além de colocar italianos uns contra os outros, fascistas contra a população civil, também afeta os alemães (ver a cena em que passa um ônibus azul-claro como um carro funerário, seguido pelo canto fúnebre de um alemão). O filme não é nem um pouco maniqueísta. E o ponto alto é o encontro emocionante entre Galvano e Concetta naquele quarto. O amor entre duas pessoas idosas é mostrado com uma dignidade extraordinária.

  2. Este filme tem,realidade,fantasia,sonhos e,
    conto de fadas… entre outras coisas lindas deste filme,(pode ser spoiler)é aquela passagem em que a menina vê a cena de batalha
    como se fôsse uma legião romana.
    O Chico Lopes está certíssimo;que coisa linda
    a cena de amor entre aquele casal de idosos,
    quanta poesia houve naquela cena.
    Li numa pesquisa, que, muitos do elenco são amadores, com a exceção de Omero Antonutti e
    Margarita Lozano.
    Que a narradora da história,na verdade,está no lugar dos Taviani que tinham 11 e 13 anos
    na ocasião e,nasceram na San Miniato.
    Li também que os Taviani disseram ter feito este filme,”TALVEZ PARA COMPREENDER OS ANOS DE CHUMBO QUE VIVEMOS ANOS ATROZES,MAS TBM UMA ÉPOCA QUE OS HOMENS TINHAM QUE REVELAR TUDO QUE ERAM,DE BOM OU DE MAL”.
    Uma pena que pouca gente se interesse por um cinema com esta qualidade.
    Este filme é uma obra prima,uma jóia rara !!!
    Sergio,me desculpe ter colocado aqueles detalhes que li em pesquisa,é que,foi muita empolgação mesmo,por este filme.

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