3.5 out of 5.0 stars
Anotação em 1995: Um belo filme, inteligente, divertido e ao mesmo tempo emocionante sobre a difícil passagem do comunismo para o capitalismo na Rússia de hoje, com bons comentários sobre consumo, solidariedade e amizade. Tem grande dose de realismo fantástico, um pouco do encanto com a infância que estava em Um Dia, um Gato, um grande respeito pelo ser humano sensível, em especial pelo artista (é a arte que liga os principais personagens, o professor-músico russo e a escultora francesa), uma visão negra da vida na Rússia mafiosa de Yeltsin e um tanto de respeito pelos valores que a Revolução tentou implantar e que o fim do comunismo levou embora. Lembra, nesse ponto, o grande filme de Szabo quando ele voltou à Hungria natal, o tristíssimo Queridas Amigas. O diálogo em que o professor-músico tenta convencer as crianças a deixar Paris para voltar à privação de São Petersburgo me fez chorar: “Nascemos num lugar e numa época errados, vivemos num país pobre, mas se não estivermos lá não vamos conseguir fazer nada pra mudar isso”.
Resenha para a revista Bárbara, em 1996:
De um lado, um quase inferno, o pior de todos os mundos, a privação das coisas mais básicas, como comida e moradia decentes. Do outro, uma visão do paraíso, a terra prometida de todas as tentações materiais imagináveis. Salada Russa em Paris (Salades Russes, Rússia-França, 1993, Flashstar) é sobre uma janela fantástica que separa e ao mesmo tempo une esses dois universos antagônicos. A janela – em uma habitação coletiva para várias famílias na São Petersburgo empobrecida pelo desmoronamento do comunismo – é descoberta pelos moradores do lugar, um bando de personagens malucos, hilariantes, e no entanto tão parecidos com a gente. Eles abrem a janela na Rússia e – Shazam! – do outro lado estão no coração de Paris. A partir desse passe de mágica, o diretor Youri Mamine cria uma fábula deliciosa, inteligente e emocionante sobre a difícil passagem para o capitalismo na Rússia de hoje, repleta de bons comentários sobre sociedade de consumo, solidariedade e amizade. O filme tem um grande respeito pelo ser humano sensível, em especial pelo artista (é a arte que liga os principais personagens, o professor-músico russo e a escultora francesa), uma visão negra da vida na Rússia mafiosa de Yeltsin e um tanto de respeito pelos valores que a Revolução tentou implantar e que o fim do comunismo enterrou de vez. O diálogo em que o professor-músico tenta convencer as crianças a deixar Paris para voltar à pobreza de São Petersburgo é de arrepiar.
Salada Russa em Paris/Salades Russes, ou Okno v Parizh
De Youri Mamime, França-Rússia, 1993.
Com Agnès Soral, Serguei Dantsow, Nina Oussatova, Victor Mikhailov.
Roteiro Youri Mamine e Arkadi Tigai
Música Youri Mamine e Alexei Zalivalov
Cor, 87 min
Gostaria de saber se este filme (Salada Russa em Paris) pode ser encontrado em DVD ou se pode ser baixado na internet. Tive um sonho parecido com ele e antes dele ser filmado. De uma rua pobre da minha cidade eu podia ver o Empire State Building…:)