Mentiras Inocentes / Innocent Lies / Les Péchés Mortels


Nota: ★☆☆☆

Anotação em 2009: Apesar da abertura que promete – Charles Trenet cantando Que Reste-t-il de Nos Amours, belíssima paisagem de uma cidadezinha francesa à beira-mar, em 1938, às vésperas da Segunda Guerra -, este filme é uma tremenda, gigantesca, absurda porcaria. Mas tem duas coisas interessantes: Gabrielle Anwar, esplendorosa, filmada por um diretor voyeur e taradão, e Keira Knightley ainda garotinha, aos dez anos de idade.

Só por causa das duas me dou ao trabalho de falar sobre o filme, embora com bastante preguiça. Por preguiça, vou aproveitar a sinopse do AllMovie:  

“Alan Cross (Adrian Dunbar) é um detetive inglês que viaja até uma comunidade rica na costa da França em 1938; ele está lá para o funeral de um amigo e quer descobrir mais sobre as misteriosas circunstâncias por trás da morte do companheiro. Cross encontra uma rica família inglesa que era próxima do morto e que parece viver de acordo com suas próprias regras. Helena Graves (Joanna Lumley) era muito chegada ao morto, mas diz não saber nada sobre sua morte. A filha de Helena, Celia (Gabrielle Anwar), está noiva de um americano mas também esteve envolvida em uma relação incestuosa com seu irmão Jeremy (Stephen Dorff).”

Bem, é isso até os primeiros 20, 30 minutos. A partir daí, a sensação que se tem é de que os roteiristas perderam completamente a mão, não sabiam mais o que estavam fazendo, onde queriam chegar. Ou então que fizeram um filme com 180 minutos de duração e depois tiveram que cortar para 88 – e cortaram sem qualquer critério. A trama espalha uma porção de informações, histórias menores, paralelas, e depois as abandona. Uma coisa de louco.

Por exemplo: não haverá qualquer explicação para a morte do amigo do detetive Alan Cross. None whatsoever, como dizia o Hal 9000 do Kubrick. Como estamos em 1938, às vésperas da Segunda Guerra, presume-se que possa haver algo relacionado com espionagem; A tal ricaça Helena Graves é uma simpatizante dos nazistas – mas depois essa questão some completamente, não se fala mais nela. Jeremy é casado com uma judia, que dá dinheiro a um francês para que ajude a tirar os pais dela da Alemanha – mas isso acaba se perdendo, não levando a nada. O prefeito da cidadezinha não quer que o detetive Cross continue investigando os crimes – e não se explica por quê. O detetive chega à França com a filhinha de uns sete, oito anos de idade – e de repente a menina some, não se fala mais nela.

Em suma: é tudo doido, sem pé nem cabeça. No final, há um agradecimento a Agatha Christie por ter inspirado a história, e o iMDB informa que originalmente o roteiro era baseado na novela Towards Zero, de Agatha Christie, mas os herdeiros da velhinha inglesa, aparentemente chocados com a invenção de uma relação incestuosa na história, inexistente na novela, exigiram que não fosse dado crédito à escritora e que os nomes dos personagens fossem modificados. Não conheço essa novela Towards Zero, mas o resumo da história que consta na Wikipedia não tem nada, absolutamente nada a ver com a trama do filme.

Então vamos a Gabrielle Anwar. É visível, é perceptível, é óbvio que o prazer do diretor, esse tal Patrick Dewolve, de quem nunca tinha ouvido falar, é filmar Gabrielle Anwar. Ele filma os pés dela longamente, ela andando descalça; filma os pés dela calçados, até o momento em que tira os sapatos para não fazer barulho. Faz longas tomadas do rosto dela – e nunca a vi tão absolutamente linda, deslumbrante, com aquela beleza um tanto diáfana, um tanto entre o etéreo e o safado. Ela estava com 25 anos. E o diretor a expõe em várias cenas de sexo, em diferentes posições, e faz close das meias dela, das ligas nas coxas dela. Um voyeur taradão – e um péssimo co-roteirista.

Os personagens de Gabrielle e de Stephen Dorff, os irmãos incestuosos Celia e Jeremy, têm um segredo profundo, chocante, do passado, quando eram garotos, ele com 11 anos, ela com dez; há vários flashbacks deles nessa época de garotos, e a Celia de dez anos é interpretada por uma menina linda, de rosto marcante. Não reconheci a atriz. Só depois, vendo os alfarrábios, foi que vi: é Keira Knightley, essa força da natureza.

Ah, sim. Nos créditos finais, repete-se a maravilha de Que Reste-t-il de nos Amours, na voz de Patricia Kaas, a cantora de voz rouca que Lelouch tentou transformar em atriz no filme Amantes e Infiéis/And Now Ladies & Gentlemen, de 2002. A delicadeza melancólica da canção maravilhosa não tem nada a ver com este filme de merda.

Um P.S.: O filme passou na TV a cabo, na MGM; segundo o Amazon, não há DVD disponível – aparentemente, foi lançado só em VHS.

Mentiras Inocentes/Les Péchés Mortels/Innocents Lies

De Patrick Dewolve, Inglaterra-França, 1995.

Com Adrian Dunbar, Gabrielle Anwar, Stephen Dorf, Joanna Lumley, Sophie Aubry

Roteiro Kerry Crabbe e Patrick Dewolve

Música Alexandre Desplat

Produção Cinéa, PolyGram Filmed Entertainment, Red Umbrella.

Cor, 88 min.

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