Terror a Bordo / Dead Calm


2.5 out of 5.0 stars

Anotação em 2008: La Kidman tinha apenas 22 anos de idade, mas já seis de carreira, quando estrelou este filme dirigido pelo australiano Phillip Noyce. A beleza da menina é luminosa, resplandescente.

Noyce, que não é bobo nem nada, usa e abusa do rosto monumental de Nicole neste thriller claustrofóbico e angustiante, quase todo passado num iate. Ali, navegando pelos mares do Sul, o casal formado por John (o irlandês criado na Nova Zelândia Sam Neill) e Rae (Nicole, havaiana criada na Austrália natal do diretor) se recupera da tragédia de um acidente automobilístico em que morreu a filhinha deles.

A viagem começa angustiada, sob o peso da perda absurda. Passados alguns dias, quando Joe e Rae estão começando, apenas começando, a tirar a testa do atoleiro de amargura, surge um acontecimento inesperado que vai transformar a vida do casal num terror ainda maior.

Phillip Noyce, então com 39 anos, era quase um iniciante; tinha feito três curtas e dois longa-metragens antes deste filme aqui, mas já demonstrava talento e domínio da linguagem. Consegue criar um clima forte, pesado, e extrai o melhor de seus três únicos atores.

Mais tarde, ele faria bons thrillers dentro do esquemão de Hollywood (Jogos Patrióticos/Patriot Games, de 1992, e O Colecionador de Ossos/The Bone Collector, de 1999), assim como ótimos filmes políticos (Geração Roubada/Rabbit Proof Fence, de 2002, sobre a cruel política australiana contra os aborígenes, Em Nome da Honra/Catch a Fire, de 2006, sobre o apartheid da África do Sul, e Um Americano Tranquilo/The Quiet American, de 2002, uma extraordinária adaptação do romance de Graham Greene).

Vejo no iMDB uma informação interessantíssima. Não sabia disso, ou, se um dia já soube, tinha esquecido: Orson Welles chegou a filmar, entre 1967 e 1969, uma adaptação do livro Dead Calm (algo como calma mortal), de Charles Williams, o mesmo que deu origem a este filme aqui. Ele foi o autor do roteiro, que colocava em cena mais pessoas que o trio desta versão de Phillip Noyce: o elenco tinha o próprio Orson Welles, Jeanne Moreau, Laurence Harvey, Michael Bryant e Oja Kodar, então senhora Welles. O filme se chamaria The Deep, mas não chegou a ser completado devido à morte de Laurence Harvey em 1970. A versão de Welles nunca chegou a ser exibida.

François Truffaut fala desse filme natimorto de Welles, mas atribui o fato de ele não ter sido concluído à falta de dinheiro para filmar a cena final, a explosão de um dos dois barcos que aparecem na história. Diz o cineasta, em um texto sobre Orson Welles concluído em 1978 e publicado no seu livro póstumo O Prazer dos Olhos (Jorge Zahar Editor, 2006):

The Deep foi feito a partir de um thriller policial. Orson Welles realizou esse filme em 1967, na Iugoslávia, e financiou-o ele próprio graças ao cachê fabuloso que recebera para atuar num grandioso filme patriótico iugoslavo. O elenco reúne Jeanne Moreau, Laurence Harvey (que morreu recentemente, pouco tempo depois de ter concluído a sincronização de seu papel!), o próprio Orson Welles e Oja Palinkas, que reencontraremos em filmes posteriores de Welles. Trata-se de um bom romance de Charles Williams, uma aventura policial que põe em cena os passageiros de dois navios. (…) O argumento do diretor para não mostrar o filme é a ausência da seqüência final: a explosão de um dos navios em pleno mar.”

Terror a Bordo/Dead Calm

De Phillip Noyce, Austrália-EUA, 1989

Com Nicole Kidman, Sam Neill, Billy Zane

Roteiro Terry Hayes

Baseado em livro de Charles Williams

Música Tim O’Connor e Graeme Revell

Produção Kennedy Miller

Cor, 96 min.

**1/2

5 Comentários para “Terror a Bordo / Dead Calm”

  1. Boa noite! Primeiramente, gostaria de parabenizar pelo site, ficou interessante e abrangente. Quanto ao filme, acho um dos melhores do gênero psicopata que aterroriza família; é claustrofóbico sem ser maçante. Eu assisti no cinema na época do seu lançamento (1989) e, na minha opinião, o forte do filme e a estranha química entre a mocinha Nicole Kidman e o psicopata Zane. Um filme muito bem feito.
    Abracos

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