Cinderela em Paris / Funny Face


Nota: ★★½☆

Anotação em 2008: A historinha é boba como nos piores musicais: revista de moda procura modelo que transmita um ar inteligente e acha uma vendedora de livros do Village, fanática por uma filosofia em voga na França. Não se sabe por que, não quiseram usar a expressão existencialismo e inventaram um outro ismo qualquer, de que nem me lembro.

Em Paris, onde a jovem letrada (Audrey Hepburn, gracinha total e absoluta) quer encontrar o filósofo de seus sonhos, um tipo obviamente inspirado por Jean-Paul Sartre, ela e o fotógrafo da revista (Fred Astaire) se apaixonam.

afunny3Apesar dessa bobagem toda, o filme vale, e muito. Vale pelo charme de Audrey e de Fred, pela criatividade solta (e muito à frente do tempo) de Stanley Donen (split screen, a tele dividida em duas, às vezes em três partes, grafismos, desenhos no meio da ação, aplicados sobre o filme em que estão os atores). E vale também por ser um exemplo perfeito dessa relação de ódio e amor entre americanos e a França. Um dia eu ainda gostaria de escrever um bom texto sobre como os mais diversos filmes retratam essa relação EUA-França.

Não encontrei anotação anterior sobre o filme, mas eu já o tinha visto mais de uma vez, com toda certeza.

 Algumas informações e outras opiniões:

 Foi o quarto longa de Audrey, depois de A Princesa e o Plebeu/Roman Holiday, de William Wyler, de 1953, Sabrina, de Billy Wilder, de 1954, e Guerra e Paz/War and Peace, de Henry King, de 1956. Ela fez o filme quase ao mesmo tempo em que filmava pela segunda vez com Billy Wilder, Amor na Tarde/Love in the Afternoon, também de 1957 e também passado em Paris.

 O filme foi exibido em competição no Festival de Cannes e teve quatro indicações ao Oscar (não levou nenhum): roteiro original, direção de arte, fotografia e figurinos – estes, feitos pela eterna Edith Head de todos os filmes da Paramount e por Givenchy, numa das muitas colaborações entre a alta costura e Audrey Hepburn.

O personagem de Fred Astaire, o fotógrafo refinado, é baseado em Richard Avedon, um dos maiores autores de portraits da história, sinônimo dos mais belos retratos de personalidades dos anos 50 e 60. E é do próprio Avedon a maior parte das fotografias mostradas no filme – inclusive o famoso retrato do rosto de Audrey mostrado na seqüência do laboratório fotográfico.

 Pauline Kael também fala de Avedon em sua crítica: “Os vestidos de Givenchy estão lindos; as seqüências (supervisionadas por Avedon) de Astaire fazendo fotos são muitas vezes divertidas e romanticamente enevoadas; melhor ainda, a trilha musical de George e Ira Gerswhin tem algo daquele frescor mágico que devia ter tido quando serviu ao Funny Face original na Broadway, 30 anos antes (também com Astaire).”

 Aí a grande dama da crítica americana bota as adversativas todas: “Mas este grande musical de Stanley Donen não é tudo o que devia ser. Ficamos esperando que se transforme num maravilhoso sonho, mas isto só ocorre de vez em quando. O roteiro de Leonard Gershe (sem qualquer relação com o espetáculo anterior) é fraco, sobretudo no tocante a Astaire, pois o filme acentua a idade dele ao tentar ignorá-la. E é uma idéia surrada usar como vilão um pensador tipo Sartre (Michel Auclair), fazendo um paquerador de quinta. O resgate de Hepburn das garras sexuais do intelectualismo europeu por Astaire como o rapaz americano da gema, de cabeça sadia, é uma conclusão tão vulgar e falsa de trama que a sofisticação do filme naufraga num miasma inteiramente não fotogênico. Mesmo assim, Audrey Hepburn é uma parceira encantadora para Astaire, e a satírica Kay Thompson está simpática como a esguia e calejada editora de moda.”

 Leonard Maltin deu 3.5 estrelas em quatro: “Estiloso e altamente estilizado musical”, com “extraordinário uso de cor”.

Cinderela em Paris/Funny Face

De Stanley Donen, EUA, 1957.

Com Audrey Hepburn, Fred Astaire, Kay Thompson, Michel Auclair

Roteiro Leonard Gershe

Com canções de George e Ira Gershwin

Produção Paramount

Cor, 103 min.

R, **1/2

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