Retorno ao Paraíso / Return to Paradise


Nota: ½☆☆☆

Anotação em 2004, com complemento em 2008: Eis aí um seriíssimo candidato ao título de pior filme de todos os tempos. Poucas vezes o espírito colonialista americano esteve tão bem representado quanto nesta história de um homem que vai dar com os costados (pra usar uma expressão típica de má dublagem dos filmes dessa época) numa ilha paradisíaca dos mares do Sul e vira o bwana da população local.

Ele serve, no entanto, para provar, sem deixar sombra de dúvida, que, se por um lado Gary Cooper é um ícone incontestável, por outro é e sempre foi um canastrão de marca maior – desde os papéis da juventude, como vi recentemente em O Cowboy e a Grã-Fina, até no final da vida, sempre interpretou um único personagem, ele próprio, um ator que sabe fazer duas ou três caretas e nada mais que isso.

Epa! Revejo agora, em 2008, os parágrafos acima, que anotei em 2004 ao ver este filme, e me espanto com a firmeza com que desanquei uma das figuras mais marcantes de toda a história do cinema, que atuou com praticamente todos os grandes cineastas americanos e/ou que trabalharam no cinema americano. Não que eu ache hoje Gary Cooper um grande ator – mas me assusta a falta de meio tons, a assertividade tão grande, plena, absoluta. Parece coisa de garoto, ou de crítico da Folha, o que mais ou menos dá no mesmo.  

Dou uma olhada no respeitável The International Dictionary of Films and Filmmakers – Actors & Actresses. O imenso verbete sobre Gary Cooper tem o cuidado de dividir sua extensíssima carreira – mais de cem filmes! – em seis diferentes períodos. E tem uma boa análise sobre cada um deles. Transcrevo abaixo apenas quais são os períodos, com um ou dois filmes de cada:

1926-1930 – O jovem herói nativo; 23 filmes ;

1930-1936 – Cinismo e desilusão; 19 filmes, inclusive Marrocos, de Joseph Von Sternberg ;

1936-1941 – Altruísmo e dedicação; 14 filmes, incluindo O Galante Mr. Deeds/Mr. Deeds Goes to Town, de Frank Capra, e Sargento York, de John Ford;

1942-1947 – Intelecto e determinação; 8 filmes, inclusive Bola de Fogo, de Howard Hawks;

1948-1956 – O Homem solitário; 16 filmes, inclusive Matar ou Morrer/High Noon, de Fred Zinnemann, e Seu Último Comando/The Court-Martial of Billy Mitchell;

1956-1961 – Questionando o passado; 8 filmes, inclusive Amor na Tarde, de Billy Wilder, e Sublime Tentação/Friendly Persuasion, de William Wyler.

Vale a pena transcrever o final do verbete, de autoria de um Stuart Kaminsky:

“É talvez apropriado que os dois Oscars de Cooper (por Sargento York e Matar ou Morrer) tenham sido de dois períodos diferentes, um no qual ele era o herói otimista do passado e o outro em que era o pessimista que lembrava o passado. De fato, mais de 60 dos filmes de Cooper tinham sua ação desenrolada no passado. Ele pode ter sido premiado pelo que representava na nossa história e nossa cultura, tanto quanto pela sua atuação em si.

Como disse um crítico, o rosto de Gary Cooper era o mapa dos Estados Unidos. Nele, líamos nosso passado. Poderíamos gostar ou não, mas não poderíamos deixar de ver o homem marcante que o representava.”

Isso posto, tenho que dizer que, é claro, eu sei da importância de Gary Cooper. Sem dúvida alguma ele foi um dos atores mais importantes da história. Vários de seus filmes são excelentes, são grandes e respeitáveis clássicos. Matar ou Morrer é um dos filmes de que eu mais gosto; não canso nunca de rever, e é daqueles que não perdem nada a cada revisão – ao contrário, ficam ainda maiores.

Mas, na minha opinião, ele não é um bom ator. Ao contrário. É um ator ruim, limitado, e durante toda sua respeitabilíssima carreira interpretou um único personagem, o personagem Gary Cooper. Há outros grandes ícones que são assim. Cary Grant, por exemplo, é assim – embora seja importantíssimo, embora tenha na imensa filmografia diversas obras-primas. John Wayne é assim. Esses três imensos ícones são completamente diferentes de, vamos lá, Meryl Streep, ou Bridget Fonda, ou Cate Blanchett, ou Debra Winger, ou Philip Seymour Hoffman – atores completos, capazes de todo tipo de nuance, de todo tipo de cara, que interpretam brilhantemente os mais diferentes papéis.

É isso aí – é o que eu acho.

Retorno ao Paraíso/Return to Paradise

De Mark Robson, EUA, 1953

Com Gary Cooper, Barry Jones, Roberta Haynes

Roteiro Charles Kaufman (1904-1991)

Baseado em história de James Michener

Música Dimitri Tiomkin

Cor, 100 min (Há uma versão da Turner cortada para 88 min)

3 Comentários para “Retorno ao Paraíso / Return to Paradise”

  1. Sobre Gary Cooper afirmo que ele era um ator
    natural, talvez por isso pareça facil e sem
    esforço a sua interpretação,todavia ele foi
    um grande ator. Não somente nos Estados Unidos,
    mas no mundo todo, sua importancia e estilo é
    imcomparavel a qualquer ator da atualidade.
    Concordo que sua carreira se divide entre o
    otimista e o pessimista. Indagado sobre a
    longevidade de sua carreira, ele dia que teve
    muita sorte. Para um icone do cinema como ele dizer isto é ser bem modesto. Gary Cooper era um homem simples gostava de boa
    comida, um bom vinho, caçar e cavalgar.Seu
    ponto fraco foram as mulheres, Ingrid Bergman
    disse certa vez, que seu romance com ele
    não contava, porque ele se apaixonava por
    todas as atrizes com as quais trabalhava.

  2. Reparo sobre a paixão de Gary Cooper por
    todas as atrizes que trabalhava, acredito
    que há algum exagero.

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