A Mulher Infiel / La Femme Infidèle


3.0 out of 5.0 stars

Anotação em 1996: Claude Chabrol insiste, como vários de seus contemporâneos, em mostrar as vilanias da burguesia. Pega aqui uma família de posses (cuja origem do dinheiro nunca é mostrada), que mora numa bela propriedade num subúrbio de Paris, garoto de uns dez anos pouco delineado, mulher jovem, bonita e sensual (Stéphane Audran), marido (Michel Bouquet) mais velho, educado, polido, frio e nunca interessado em carinho ou sexo.

Na primeira seqüência – o marido entra em casa para buscar os óculos que a mãe havia esquecido, câmara dá uma aproximada rápida, nervosa, da mulher que telefona – já fica explícito que ela tem um amante.

Na primeira metade do filme, até que a situação se transforme em tragédia, o roteiro não tem muito o que dizer, e descreve com detalhes cansativos o dia-a-dia da família: o marido vai a Paris para o trabalho (é dono de uma pequena empresa de seguros), a mulher também viaja para o centro da capital três vezes por semana – o espectador sabe que para se encontrar com o amante, mas ele (Maurice Ronet) só aparece depois de uns 40 minutos de filme.

 Se você não viu o filme, não leia a partir de agora

 O marido contrata detetive particular, e dele obtém uma foto e o endereço do amante. Vai visitá-lo uma manhã, e o mata – não fica claro se premeditadamente, se num acesso emocional. Recompõe-se, limpa os vestígios, embrulha o cadáver e o lança num lago.

E volta o dia-a-dia normal, como se nada houvesse, ela sofrendo com o desaparecimento do amante, ele tão distante quanto sempre. Até que a polícia aparece para interrogá-la, tendo encontrado seu telefone na agenda do morto. Mexendo num terno do marido, ela descobre a foto do amante, dada pelo detetive; queima a foto e dá um sorriso. Com esse sorriso, Chabrol quer mostrar – me pareceu – que a mulher passou a dar mais importância ao marido do que dava antes. Em seguida, o espectador não fica sabendo por que, os policiais voltam para prender o assassino.

Tudo é contado com imenso distanciamento, sem qualquer emoção. Da série De Como um Burguês Simpático e Aparentemente Normal se Transforma em Assassino Frio.

Pauline Kael mata a cobra e mostra o pau: “Este filme de Claude Chabrol é uma história de suspense sobre adultério e paixão na burguesia requintadamente detalhado, com atuações impecáveis, maravilhosamente bem dirigido (e eu ainda acrescentaria: com excelente trilha sonora, que pontua a tensão que não existe mas que sabemos vai explodir em algum momento). E no entanto não há um sopro de vida nele.”

A Mulher Infiel/La Femme Infidèle

De Claude Chabrol, França-Itália, 1969.

Com Michel Bouquet, Stéphane Audran, Maurice Ronet

Roteiro Claude Chabrol

Cor, 98 min

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