Mamma Mia!


2.5 out of 5.0 stars

Anotação em 2009: A trama parte de uma única idéia interessante (que, a bem da verdade, já havia sido usada em um filme dos anos 60 com Gina Lollobrigida), mas a história resultante é bobinha a não mais poder, e a mesma piada-motivo de tensão se repete indefinidamente, ad nauseam.

Apesar disso, Mamma Mia! é um filme extremamente bem feito, alegre, para cima, de bem com a vida, e cheio de energia. A coreografia e os movimentos da câmara nos muitos números musicais são excelentes. E os atores – com o destaque evidente para essa maravilha que é Meryl Streep – estão muito bem, e surpreendem ainda mais quando conferimos que são eles mesmos que cantam as canções, sem dublagem de profissionais.

A tal idéia interessante, que é ao mesmo tempo engraçada e causa a tensão de toda a história, a esta altura já é bem conhecida, mas lá vai: Sophie, garota de 20 anos, foi criada, numa paradisíaca ilha grega, por mãe solteira, que na juventude era uma tremenda riponga (Meryl Streep); quando se prepara para casar, Sophie descobre nos diários da mãe que ela transou na mesma época com três caras diferentes (os papéis de Pierce Brosnan, Colin Firth e Stellan Skarsgärd); a mãe, Donna, não sabe qual deles é o pai, e então Sophie, sem avisar a mãe, convida os três – todos eles ex-ripongas, todos eles hoje bem de vida – para o seu casamento.

Tudo isso é mostrado nos cinco primeiros minutos do filme; na verdade, o espectador já sabe disso antes de entrar no cinema ou de ver o DVD, porque a tagline – a frase de marketing escolhida para os cartazes do filme – já contou: “A mãe, a filha… e três caras que podem ser o pai”.

E toda a trama vai girar em torno disso, e só disso. É só isso o baião deles, e não tem mais nada, não – ou melhor, o pop deles. Então, para gostar do filme, será preciso que o espectador não ligue para a história, e se divirta com as músicas, a coreografia, os atores, o cenário estupidamente lindo.

Essa idéia – mãe, filha de cerca de 20 anos, três possíveis pais – é a base do filme Noites de Amor, Dias de Confusão/Buona Sera, Mrs. Campbell, de 1968; naquele filme do diretor Melvin Frank, Gina Lollobrigida interpreta Carla, uma mulher que, quase no final da Segunda Guerra, transou com três soldados americanos (Peter Lawford, Telly Savalas e Phil Silvers). Quando a filha nasceu, depois do fim da guerra, os americanos já de volta em casa, Carla escreve para cada um dos três dizendo que ele é o pai, e vive feliz da vida com três cheques mensais enviados dos Estados Unidos. Até o dia em que (e é aqui que a ação começa) Carla fica sabendo que todo o esquadrão a que pertenciam os três soldados está viajando com suas famílias para a sua cidade italiana, para uma reunião festiva. 

Está bem: nada se cria, tudo se copia. Mas aqui houve um certo exagero na cópia, né?

O fato é que a historinha realmente é o que menos conta. A grande sacada da autora da peça musical, e que também fez o roteiro do filme, Catherine Johnson, foi botar os personagens da história cantando músicas do ABBA – 22 canções. Elas são a razão do tremendo sucesso do musical primeiro no West End de Londres e depois na Broadway de Nova York  – assim como do sucesso deste filme. As músicas do ABBA venderam e vendem feito água, desde 1974, ano do primeiro disco do conjunto. O ABBA foi o grupo pop de maior sucesso dos anos 70; praticamente todos os seus discos entraram na lista dos mais vendidos em diversos países da Europa e dos Estados Unidos. 

Não sou fã do ABBA; entre meus, sei lá, mais de 5 mil discos, não há um só do conjunto, e neles há apenas uma faixa cantada pelos quatro suecos, justamente Mamma Mia!, que está na trilha sonora de Priscilla, a Rainha do Deserto, o filme australiano sobre drag-queens que atravessam o país em um ônibus muito doidão. Nunca tinha prestado qualquer atenção ao conjunto, nem pretendo prestar no futuro, mas o fato é que, pelo que se vê no filme, as canções deles são gostosinhas, fáceis, leves, dançáveis, dançantes. O pop descartável em sua melhor forma.

E as letras das canções se encaixam perfeitamente nas situações da historinha do filme. É como se tivessem sido escritas para ela.

Phyllida Lloyd, que dirigiu o musical no teatro tanto no West End quanto na Broadway, e estreou na direção cinematográfica com este filme, conseguiu de todo o elenco uma energia danada, uma coisa impressionante. Eles transmitem uma Itaipu de energia, e transmitem também uma sensação de que estão se divertindo à beça, ao fazer o filme. Eles estão sempre correndo, falando alto, cantando, dançando – dá pro espectador ficar até cansado de tanta energia.

De Meryl Streep se pode esperar literalmente qualquer coisa – e ela já havia demonstrado que sabe cantar, e muito bem, em Lembranças de Hollywood/Postcards from the Edge, de 1990, e depois em A Última Noite/A Prairie Home Companion, de 2006. Aqui ela está nunca menos que brilhante. Mas fiquei surpreso ao ver, nos créditos finais, que todos os atores são os intérpretes das canções que aparecem cantando: nenhum deles foi dublado. Jamais imaginei ver um Pierce Brosnan cantando. 

Então é isso. Este filme tão bobo quanto gostoso é absolutamente contra-indicado para quem só gosta de filme de ação, tiros e violência, e para quem só gosta de filme iraniano ou papo-cabeça. O resto da humanidade vai se divertir.

Mamma Mia!

De Phyllida Llloyd, Inglaterra-EUA-Alemanha, 2008

Com Meryl Streep, Pierce Brosnan, Colin Firth, Stellan Skarsgärd, Amanda Seyfried, Julie Walters, Christine Baranski, Dominic Cooper

Roteiro Catherine Johnson, baseado em sua peça

Música Benny Andersson

Canções do ABBA

Coreografia Anthony Van Laast

Produção Universal.  Estreou em SP 12/9/2008

Cor, 108 min.

**1/2

10 Comentários para “Mamma Mia!”

  1. Realmente o forte do filme é a música do ABBA, quem é fã se esbaldou…
    Mas não é o primeiro filme que utiliza suas músicas na trilha, O Casamento de Muriel com a estupenda Toni Collete também encanta com este recurso. Aliás, gostaria de ler uma crítica sua sobre este filme.
    Abços

  2. Não sei dizer o quanto odiei este filme. Foi um custo assistí-lo até o fim. Teve momentos que até fiquei constrangida pelo mau gosto. Meryl Streep e Piercy Brosnan mais pareciam dois helicopteros desgovernados.. um horror! Até gosto de zerar QI as vzs, não vejo nenhum mal, num filminho pipoca, mas este.. francamente…
    Já o casamento de Muriel, é muito bom. Um filme que fala de sentimentos, recalques, desequilibrio familiar, futilidades, entre outras coisitas mas.
    Não tenho nada contra o Abba, apesar de tbem não ter nada deles entre meus discos, mas acho legal ouvir assim sem compromisso. Agora quanto ao Mamma Mia… MAMMA MIA!!!!!!

  3. Obrigado pelo comentário, Sílvia. A vida fica melhor com o contraditório. O site também.
    Um abraço.

  4. Não vi o filme pq não suporto musicais, meu Deus, eu não aguento. Como diz uma prima minha, quando a gente acha que vai sair uma frase da boca do personagem , ele começa a cantar! rsrs. Só gosto e consigo ver “A Noviça Rebelde” pq marcou minha infância. Uma amiga minha viu a peça em NY e depois viu o filme aqui e escreveu sobre, e nem isso me fez ter vontade de assistir. Então como não vi, não posso falar se é bom ou ruim, mas achei o comentário da Silvia hilário. Rechei de rir.
    Quanto à Meryl Streep, fiquei com vontade de ver o novo filme dela, “Julie & Julia”.

  5. Às vezes eu tenho a impressão de que as pessoas têm vergonha de gostar de filmes bobinhos, que não tenham uma história profunda ou edificante. Mamma Mia é um filme bobinho. E é lindinho, fofinho, bem feitinho e engraçadinho. É um filme para ser visto com uma tigelona de pipoca e um bom chimarrão. Apenas com disposição para se divertir, rir muito e cantar junto. Principalmente quem, como eu e minha filha, adora Abba.
    Em resumo: Mamma Mia é um filme feliz!

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