3.0 out of 5.0 stars
Anotação em 2008: Um ator e uma atriz passam a ter um caso durante as filmagens de um filme de época. Já vimos esse filme antes, é claro, em A Mulher do Tenente Francês/The French Lieutenant’s Woman, de Karel Reisz, de 1981.
Então, é muita ousadia de um italiano refazer uma história bem parecida com a que já havia sido interpretada por dois atores extraordinários, dos melhores de sua geração, Jeremy Irons e Meryl Streep. Pois é, mas o cara fez – e é um belo filme. Graças, sobretudo, à interpretação do par central, Sandra Ceccarelli e Luigi Lo Cascio, que já trabalhou junto em pelo menos dois outros filmes, um dos quais eu vi, O Mais Belo Dia da Minha Vida/Il Più Bel Giorno della Mia Vita. E graças às sutilezas dos caracteres dos personagens, que os dois atores conseguem expor de maneira brilhante.
Sandra Cecarelli, belíssima, faz Laura, uma aspirante a atriz recém-chegada a Roma; não estudou interpretação, não conhece quase ninguém na capital, apenas um homem do meio cinematográfico, Raffaele (Fabio Camilli), com quem dorme às vezes, com visível má vontade, e que consegue levá-la a fazer um teste para um filme de época, passado no século XIX, que está para começar a ser rodado. Neste início de filme, o espectador fica sem saber quem é exatamente Laura, mas desconfia de que é uma carreirista, uma espécie de Eve Harrington de A Malvada/All About Eve.
O ator do filme já está escolhido: é Stefano (Luigi Lo Cascio), ator jovem mas já de sucesso, com proposta milionária para fazer minissérie para o horário nobre da TV. Stefano na verdade faz mais sucesso do que ele mesmo gostaria; vemos que ele talvez preferisse trabalhos mais sérios, no teatro, e mesmo no cinema, mas não papéis em produções mais comerciais, mais tolas. Vemos também que sua primeira impressão de Laura não é boa – ela parece a ele uma mulher bonita e ambiciosa disposta a dar para subir na profissão. Além disso, ele achava que o papel feminino central do filme deveria ser de sua amiga Chiara (Galatea Ranzi), uma boa e já testada atriz.
Naturalmente, Laura e Stefano vão se apaixonar. E, naturalmente, o filme de época que vão fazer juntos, com Chiara relegada a um papel secundário, tem muito a ver com a história que estão vivendo na realidade. OK, metafilme, metalinguagem, como o livro de John Fowles que foi filmado décadas atrás com Jeremy Irons e Meryl Streep. Mas os personagens são cheios de sutilezas, e o par central está ótimo. Veremos, não sem surpresa, que Laura não é a carreirista oportunista que imaginávamos. E que Stefano, apesar de veterano e experiente, é cheio de inseguranças, ciúmes, invejas.
Ao final deste belo filme do novo cinema italiano, pensei que ele mantém a maldição que vem desde o neo-realismo: segundo os filmes italianos, quem tem mais dinheiro do que o necessário para sobreviver é, forçosamente, angustiado, triste, infeliz. Mas, dentro desse horroroso maniqueísmo que vem desde o fim da Guerra, da geração de gênios dos anos 60, dos sonhos de revolução do país que teve o maior Partido Comunista do Ocidente, este filme dá passos adiante, com suas sutilezas, suas zonas de sombra, de cinza. Já é um alento.
A Vida Que Eu Sonhei/La Vita Che Vorrei
De Giuseppe Piccioni, Itália-Alemanha, 2004.
Argumento e roteiro Giuseppe Piccioni, Linda Ferri, Gualtiero Rosella,
Com Sandra Ceccarelli, Luigi Lo Cascio, Galatea Ranzi, Fabio Camilli
Roteiro Linda Ferri, Giuseppe Piccioni e Gualtiero Rosella
Música Michele Fedrigotti
Produção Lumière & Company
Cor, 125 min.
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Fantástico filme! Fotografia lindíssima, história riquíssima…